sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Na selva.

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António Carlos
   
Um dia destes fui passear à selva.
Sabes o que é a selva? Fica sabendo que é um campo muito grande cheio de árvores e com muita bicharada.

Já cansado de andar sentei-me a descansar à sombra da bananeira – aqui há muitas bananeiras que dão bananas das verdadeiras. Estava eu muito tranquilo quando senti mexer nas folhas da bananeira. Pus-me a olhar e sabes o que vi? Nada mais, nada menos do que um macaco pequenino a comer as bananas e como ainda corria e saltava pouco consegui deitar-lhe a mão. A princípio estava assustado mas depois deixou de ter medo e começou aos pulos à minha volta. Como ficámos amigos ele veio atrás de mim – parecia um canito a dar ao rabito e a meter-se entre as minhas pernas.

Mal chegou subiu logo para o arame da roupa e pôs-se a fazer macaquices e os meninos vieram todos ver o macaco e fazer-lhe muitas festas. Todos os meninos gostavam do macaquito.

Passados uns dias ouvi bater à porta. Fui ver quem era e então apareceu-me a mãe macaca que começou a pular logo para ele e a abraçá-lo. Nesta altura tirei a fotografia que te mando. Gostas dos macacos? Quando quiseres diz, que eu vou outra vez à selva da macacada.

Adeus
Tio Zé

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         Havia um tempo em que recebia estes postais do meu Tio Zé, oficial miliciano  colocado em Angola. Tenho muitos postais destes, com todos os animais da selva – e eu, miúdo, acreditava sempre nas histórias que ele me contava.

         Não sei de quem sinto mais falta: se do meu tio vivo, quando me contava  histórias; se de mim miúdo, quando acreditava nelas. 
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         À memória de José de Matos Torres.


 



António Araújo
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1 comentário:

  1. Caríssimo António Araújo, um bom texto, de boa e nostálgica memória!!

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