sábado, 29 de outubro de 2016

Portugal, 1973-1974.


 
 

Susan Lowndes (1907-1993)

 
Já aqui se falou de Susan Lowndes (1907-1993), e do livro Duas Inglesas em Portugal. Uma viagem pelo país nos anos 40. Recentemente, foi publicado, com organização de Ana Vicente, Catolicismo em Portugal. Crónicas de Susan Lowndes, correspondente britânica (1948-1992). O título evidencia já o amplo arco temporal das notas de Susan Lowndes, enviadas para o Reino Unido. Não é difícil perceber o interesse extraordinário desta obra para compreender a evolução do catolicismo português ao longo de várias décadas e para a História da Igreja no século XX, em ditadura e em democracia. Escolheu-se, entre muitas opções possíveis, as crónicas elaboradas a propósito da célebre vigília da Capela do Rato. Acrescentou-se a crónica relativa ao 25 de Abril.
 
 



 
 
 

 
 
8 de Janeiro de 1973
 
Grupo organizador de vigília pela Paz preso em Portugal
 
Lisboa, Portugal – cerca de 50 pessoas foram presas em Lisboa enquanto realizavam uma vigília pela paz em que se salientava a guerra entre os nacionalistas negros e o governo nos territórios sob administração portuguesa. A maioria dos detidos foi imediatamente libertada. Mas, segundo se diz, 12 continuam presos, incluindo três padres, o arquitecto Nuno Teotónio Pereira, sobrinho de um antigo embaixador de Portugal nos Estados Unidos, e o Prof. Carreira [sic] de Moura, um economista proeminente. Portugal tem sido acusado de reprimir brutalmente os movimentos negros de libertação nos territórios ultramarinos.
 
(…)
 
15 de Janeiro de 1974
As autoridades da Igreja condenam o grupo da paz e a polícia
 
Lisboa, Portugal – o Patriarcado de Lisboa afirmou condenar quer a acção do grupo que levou a cabo uma vigília pela paz em que se salientava a guerra entre os nacionalistas negros e o governo nos territórios sob administração portuguesa, quer a polícia, que entrou na igreja para deter os participantes na vigília. Um comunicado das autoridades da Igreja afirma que, sendo certo que o país está envolvido numa guerra nos seus territórios ultramarinos, o debate sobre essa questão não deve ter lugar num contexto eclesial. […] A vigília incluiu a discussão de um documento elaborado por um grupo de católicos da diocese do Porto e aprovado pelo bispo António Ferreira Gomes […].
 
26 de Abril de 1974
Bispos portugueses reunidos em Fátima durante a Revolução
 
 Lisboa, Portugal. Por um acaso, toda a hierarquia da Igreja portuguesa encontrava-se reunida em Fátima esta semana, pelo que nenhuma autoridade eclesial esteve em Lisboa aquando do golpe militar que depôs o governo português, ocorrido ontem, 25 de Abril. A Conferência Episcopal deve encerrar hoje, dia 26, os seus trabalhos e geralmente é emitido um comunicado final. Na proclamação divulgada pelo Governo provisório ao princípio da manhã, não é feita, felizmente, qualquer referência à Igreja; ainda que existissem laços próximos entre o Governo e a Igreja em Portugal, esta não se encontrava «estabelecida» neste país e não existia liberdade de culto.   
 
 
(tradução de António Araújo)  




 

1 comentário:

  1. "A Igreja" referida nas últimas quatro linhas do último texto é, presume-se, a Igreja Anglicana. Talvez valesse a pena ter assinalado isso, porque sem isso torna-se confuso.

    ResponderEliminar