quinta-feira, 26 de julho de 2018

A batalha de Pomigliano d’Arco.




O legado de Sergio Marchionne (1952-2018)
Morreu na quarta-feira Sergio Marchionne, o mais marcante líder do automóvel. Tinha 66 anos. Era administrador-delegado (CEO) da Fiat Chrysler Automobiles (FCA), da Ferrari e da CNH (tractores, camiões, máquinas para a construção). Foi o homem que salvou a Fiat e, depois, a Chrysler, que fundiu numa “empresa global”. Chamam-lhe visionário ou demiurgo. O Washington Post assinala o seu estatuto de estrela. “Era uma star do automóvel e a sua morte assinala o fim de uma era em Detroit. Era audaz e directo, de uma forma que quase violava as normas do sector.”
Giuseppe Berta, historiador da indústria italiana, prefere defini-lo como revolucionário. Revolucionou o sistema produtivo e o sistema de relações industriais no automóvel italiano. “Para compreender o que mudou com Marchionne”, diz Berta, “é preciso saber como era antes: um mundo pesadamente hierárquico. Era um management forte e autoritário, que falhava quase sempre os resultados”, prometendo que no ano seguinte seria melhor. “Ao contrário, as coisas tornavam-se sempre piores.”
Acabou louvado mas não amado pelo establishment italiano. Escreve a jornalista Flavia Perina: “No país em que os nascidos num berço de ouro, do manager por direito familiar aos diplomatas das escolas de elite e da universidade privada - os filhos de família - a biografia do ‘apátrida’ Marchionne (canadiano pelo passaporte, suíço pelo fisco, abruzano pelo carácter) mereceria ser estudada por um só motivo: golpeou no coração o modelo de cooptação entre os insiders que desde sempre dominam as empresas italianos.”
Nasceu em Chieto, nos Abruzos, filho de um carabineiro, e aos 13 anos emigrou com os pais para o Cananá. Estudou Filosofia. O pai avisou-o: “Vais acabar a vender gelados.” Fará outros dois cursos, Economia e Direito. Não se arrependeu da Filosofia: dirá que ensinou que se pode pensar de uma forma diferente.
Chega à FIAT em 2004. Era CEO da SGS, em Genebra, a maior empresa de certificação do mundo e conhecia amigos dos Agnelli. O grupo estava em ruína. Perdia dois milhões de euros por dia e estava endividado. Gianni Agnelli morrera em 2003 e o irmão Umberto em 2004. Um golpe de força da família confirma John Elkann (neto de Gianni) como herdeiro e nomeia Marchionne CEO, com plenos poderes. Muitos desejaram boa sorte ao “marciano” que desembarcava. Era o quinto CEO em dois anos.
Será o fim de uma época: “Os Agnelli são a Fiat, a Fiat é Turim, Turim é a Itália.” Vai suceder-lhe a “Fiat global”, como ele “apátrida”. Em 2002, Gianni Agnelli decidira vender o sector automóvel à General Motors, que adquiriu 20% das acções e se comprometeu a comprar o resto. Mas a FIAT, tecnicamente falida, deixara de ser apetecível. Marchionne negoceia com a GM uma indemnização por ruptura do contrato: traz da América 2.000 milhões de dólares, o que permite continuar a produção e pagar dívidas. Passou a ser “o génio da negociação” e legitimou a sua liderança na Fiat.
A crise de 2008 abre nova oportunidade, com a ruína da Chrysler e da GM. Marchionne propõe a Obama e ao sindicato americano, a United Automobile Workers (UAW), o relançamento da Chrysler. Segue-se uma dura negociação e os trabalhadores aprovam o plano em referendo. A Fiat não tem dinheiro e compra 20% das acções com transferências de tecnologia. Obama faz um empréstimo. O sindicato, através do fundo de pensões da Chrysler, adquire temporariamente 41,5% do capital. Em 2014, os financiamentos estão devolvidos e as empresas fundem-se: Fiat Chrysler Automobile (FCA). Foi também um triunfo para a UAW, que passou a poder impor novas regras: a fábrica da Volkswagen no Tennesse é o primeiro fabricante estrangeiro a aceitar a sindicalização dos operários.
A obsessão de Marchionne é modernizar e crescer. Precisa de triplicar a produção para viabilizar a empresa e para a internacionalizar. Isso passa pela adopção de um novo sistema de produção, pela redução de custos, pela renovação das fábricas e pelo lançamento de novos modelos. Não se trata de baixar salários, factor secundário no automóvel, mas de flexibilização e produtividade. Recusa submeter-se ao rígido contrato nacional e contrapropõe acordos de empresa. Até aí fora apreciado pela esquerda e pelos sindicatos. Tem o apoio das centrais reformistas, a CISL e a UIL, mas encontra uma oposição frontal na FIOM, a federação sindical da CGIL (de origem comunista). É a “guerra”. Mas a proposta de Marchionne ganha os referendos entre os operários. Segue-se a ruptura da Fiat com a Confindustria, a associação patronal que prefere o statu quo e pensa que Marchionne não conhece a Itália.
É este conflito de 2010 que Fátima Patriarca narra no estudo “A batalha de Pomigliano d’Arco”.
A FIOM mantém hoje as críticas, acusando Marchionne de ter desnacionalizado a Fiat. Ao contrário, Annamaria Furlan, secretária-geral da CISL, sublinha que Marchionne “salvou o grupo FCA da falência com escolhas iluminadas e uma extraordinária capacidade de inovação industrial”. Apela aos sucessores que continuem a sua estratégia.
O reconhecimento vem também da América. Gary Jones, presidente a UAW, homenageia Marchionne: “Quando a história olhar a sua herança, não obstante os incidentes de percurso, dirá que quando ele deixa a empresa o sol já não está no poente. Está a nascer. É isto que recordaremos para sempre.”
Sergio Marchionne queria retirar-se em 2019. Morreu, num hospital de Zurique, após duas paragens cardíacas, durante a convalescença de uma cirurgia ao ombro. No seu derradeiro conselho de administração confessara: “Sono stanco” (estou cansado).
Jorge Almeida Fernandes

  

A batalha de Pomigliano d’Arco
Fátima Patriarca[1]
A Fiat global
        
A Fiat tem em Itália cinco estabelecimentos de construção automóvel: Mirafiori (Turim), com cerca de 10.700 trabalhadores; Melfi (Potenza), um dos mais modernos de toda a Europa, com 7.000; Giambattista Vico, em Pomigliano d’ Arco (Nápoles), com 5.193; Cassino (Frosinone), também um dos mais modernos do grupo, com  4.000; Termini Imerese (Palermo), com  2.000. A estes estabelecimentos juntam-se, em regime de joint ventures, os de Val di Sangro (Chieti), com 5.900, de Valenciennes (França), com 4.200, de Bursa (Turquia), com 7.000, e de Kragujevac (Sérvia), com cerca de mil. Ainda no estrangeiro, possui a fábrica de Tychy (Polónia), com cerca de 5.800 trabalhadores; a fábrica do Brasil, Betim, com 8.700; e a Chrysler americana, em que a Fiat detém 20% das acções. Haverá a acrescentar ainda, na América Latina, o pólo produtivo da Argentina, a Chrysler-México (Toluca), que passou a produzir o FIAT 500, e, em África (Marrocos, Egipto, África do Sul), unidades de montagem mais ou menos modestas e de novo joint ventures na China (com Guangzhou Automobile Group), na Rússia (com Sollers) e na Índia (Tata Motors), significando que a Fiat já tinha colocado antenas nos mercados emergentes.[2]
Assim, a FIAT emprega, no sector automóvel e só em Itália, 36.393 trabalhadores directos. Contando com os trabalhadores das fábricas de camiões, autocarros, máquinas agrícolas e de construção, de motores industriais e de barcos, aquele valor sobe para mais de 80.000 pessoas em Itália e 190.000 no mundo.[3]
A aliança com a Chrysler, na Primavera de 2009, significara não só a entrada da Fiat no mercado americano e canadiano, ou ainda a possibilidade de fazer importantes economias de escala e aumentar sinergias, mas também a consolidação do desígnio de a Fiat abandonar o seu carácter nacional para se afirmar como uma multinacional, visando ser um dos seis maiores produtores mundiais, ainda que mantendo o seu centro em Itália.
O projecto para Giambattista Vico
A 26 de Março de 2010, o administrador delegado da Fiat, Sergio Marchionne, tornava público o projecto para a fábrica de Giambattista Vico em Pomigliano d’Arco: transferir o novo Panda – o automóvel do segmento “A” mais vendido na Europa – de Tychy, na Polónia, para Pomigliano; fazer um investimento avultado, uma vez que era necessária «uma total reestruturação da instalação fabril»; proceder a uma «maior utilização das instalações» e adoptar «várias formas de flexibilidade», a fim de «responder em tempo real à curva da procura.» 
Dizendo-se esperançado na reunião que teria dali a quatro dias com os sindicatos e o ministro do Desenvolvimento Económico, concluía a propósito da transferência do fabrico do Panda da Polónia para Itália: «Fazemo-lo porque, no limite do possível, consideramos que é nosso dever privilegiar o país onde a FIAT tem as suas raízes.»[4]
A 30 de Março, realiza-se como previsto a reunião entre representantes da Fiat, do Ministério do Desenvolvimento Económico e das cinco Federações Metalomecânicas cujo peso é naturalmente desigual. A sindicalização na fábrica de Pomigliano ascende a 63%. Mas, incluindo este valor os reformados, a taxa de sindicalização em sentido estrito acaba por ser muito inferior, abarcando apenas «1/3 dos efectivos». Seja como for, tomemos como ponto de referência os resultados das eleições para a Rapprezentanza Sindacal Unitaria (RSU)[5]. A distribuição pela várias correntes era a seguinte: 25% da Fim/Cisl (ex-democrata-cristã); outros 25% da Fismic (autónoma[6]);  22% da  Uilm/Uil (ex-socialista); 17% da Fiom/Cgil (antiga central comunista, hoje Partido Democrático e Refundação Comunista); e os restantes 11% distribuindo-se por siglas como a Ugl/Metalmeccanici (ligada a Gianfranco Fini) ou o Slai Cobas (extrema esquerda).[7]  
Na reunião de 30, a Fiat confirma a construção do novo Panda na Fábrica de Pomigliano e anuncia um investimento de 700 milhões de euros a fim de a fábrica dispor das «mais modernas soluções tecnológicas» e conseguir «resultados de excelência, tornando-se um World Class Plan». Prevê passar à reforma 500 trabalhadores, o que era bem menos grave do que os despedimentos anunciados pela agência Reuters e pelo jornal La Repubblica.[8]  As novas instalações obedecerão a um «desenho» que permitirá uma elevada flexibilidade e uma predisposição para produzir futuros modelos,  alongando no tempo o «ciclo de vida tecnológica das instalações.» Prevê ainda um importante investimento em formação, desenrolando-se esta em simultâneo com a reestruturação das instalações. E, «para conseguir melhores níveis de qualidade e de produtividade», estabelece como «necessária a convicta participação dos trabalhadores, dos sindicatos e das instituições.»
Os organismos sindicais não chegam a acordo sobre um texto comum, sendo agendada para 9 de Abril nova reunião entre a Fiat e as federações, desta vez, em Nápoles.[9]
Enquanto a Fim, a Uilm e a Fismic estão substancialmente de acordo com o projecto da empresa, a Fiom e a Ugl/Metalomeccanici   reservam a sua opinião.
         A Fiom, que constitui a ala mais à esquerda da Cgil, parece ter sido apanhada de surpresa e, apesar de todas as reservas, não tem outro remédio senão considerar o anunciado investimento «um concreto relançamento da actividade produtiva e do emprego para os próximos anos» e declarar o seu empenho «na prossecução da máxima utilização das instalações, da flexibilidade em relação às flutuações do mercado e dos melhores standards de eficiência e qualidade.»[10]
         A 9 de Abril, a Fiat, na pessoa de Paolo Rebaudengo, responsável pelas Relações Industriais da empresa, encontra-se em Nápoles com os dirigentes regionais e dos secretariados nacionais das várias federações, a fim de apresentar as linhas definitivas do plano para Pomigliano.
Uma vez terminada a «cassa integrazione» (desemprego técnico), a Fiat investirá os 700 milhões de euros para produzir anualmente 270 mil viaturas Panda com motor híbrido. Todos os trabalhadores serão readmitidos, excepto os 500 que, por comum acordo, passem à reforma. Em matéria de organização do trabalho, a Fiat propõe uma série de medidas: introdução dos 18 turnos, o que significa a laboração contínua; diminuição do tempo das pausas de 40 para 30 minutos; estabelecimento de normas que evitem o abrandamento da produção; passagem do trabalho extraordinário obrigatório de 40 para 60 horas; desconcentração das licenças ou folgas em certos dias da semana; mobilidade de eventual pessoal excedentário entre a fábrica de Pomigliano e as fábricas do Indotto (subcontratantes).
Do lado sindical, voltam a partir-se as águas.
A Fim/Cisl, a Uilm/Uil, a Fismic e agora também a Ugl assinam uma declaração conjunta em que afirmam: «O investimento de 700 milhões é a resposta estrutural a quanto o sindicato reivindica há anos, colocará em segurança o estabelecimento e dará perspectivas de emprego e salário por muitos anos não só à Giambatistta Vico, mas também ao Indotto Campano.» Entendem «estreitar um forte Pacto com a FIAT que garanta, a par da competitividade, o actual emprego do estabelecimento de Pomigliano». As quatro federações manifestam-se «prontas a lançar imediatamente uma discussão sobre as modalidades de aplicação da maior utilização das oficinas (18 turnos) e da flexibilidade derivada da nova organização e consequente melhoramento dos espaços de trabalho.»
Todos os dirigentes destas organizações estão dispostos a assinar uma acta de acordo, a 21 de Abril, em Turim. A declaração com a chancela  RSU de Pomigliano assinala a necessidade de «continuar a negociação» e de realizar rapidamente uma «assembleia com os trabalhadores.»[11]
A Fiom, ao contrário, opõe-se aos 18 turnos, à redução do tempo das pausas, ao aumento do trabalho extraordinário obrigatório, à mobilidade dos trabalhadores entre Pomigliano e as fábricas do Indotto, tal como recusa vincular-se a qualquer promessa de assinatura de acta de acordo,  qualquer que seja a data.[12] As juras de empenho relativamente às propostas apresentadas pela Fiat, feitas dias antes, já haviam sido esquecidas.   
Sergio Marchionne
O projecto Fabbrica Itália
         A 20 de Abril, realiza-se uma conferência de imprensa no Lingotto, Turim, em que estão presentes Luca de Montezemolo, John Elkann e Sergio Marchionne. Luca de Montezemolo anuncia que abandona a presidência da FIAT, passando o testemunho a John Elkann, neto de Gianni  Agnelli.[13]
A 21 de Abril, tem lugar o Conselho de Administração (CA) extraordinário da FIAT, já presidido por Elkann, que aprova o plano estratégico da empresa para os anos de 2010-14, que Elkann e Marchionne designam como “projecto Fabbrica Italia».
 Terminado o CA, segue-se a apresentação do plano a mais de 500 jornalistas e analistas vindos de todas as partes do mundo.
Na sala estão presentes os dois irmãos de Elkann, Ginevra e Lapo, os primos Andrea Agnelli e Eduardo Teodorani, e as «matriarcas» da família – Teodorani, Rattazzi, Nasi, Brandolini e Camerana – num sinal de que a família está unida e apoia as decisões tomadas.[14]
Entre os convidados, contam-se igualmente os dirigentes sindicais que, de resto, ao início, são cumprimentados pelo ex-presidente Luca de Montezemolo.[15]
Rafaella Polato, do Corriere della Sera, ao reportar a conferência de imprensa, começa com as seguintes imagens: «Si parla in inglese, per sei ore. In inglese sono le slide. Globale è la platea di analisti qui, sala dei 500 al Lingotto, e ancor più quella collegata via Web causa vulcano islandese. Ma il piatto forte industriale per la FIAT di cui si dice “ha ormai la testa in America”, è tutto nazionale.»[16]
Marchionne apresenta, durante três horas, os investimentos previstos, a estratégia de produção, os futuros modelos do Grupo e o spin off da Fiat .[17]
26 dos cerca de 40 mil milhões de euros a investir até 2014 destinam-se à Itália. A produção deverá passar dos 650 mil veículos de 2009  para os 1,4 milhões em 2014. 65% dos automóveis construídos em Itália destinam-se à exportação.
A fim de atingir a quota dos 6 milhões de automóveis – montante mínimo que permite ser competitivo no mercado mundial – a FIAT e a aliada americana devem aumentar a sua presença em países com alta potencialidade de crescimento (China, Rússia, Índia).[18]
 Sergio Marchionne declara, segundo Rafaella Polato, que o acordo com a Chrysler «permite reunir uma massa crítica adequada para obter grandes economias de escala, aumentar os volumes associados a uma única plataforma, tirar partido de todas as sinergias possíveis e alargar a nossa presença geográfica. Tudo isto é o mais claro testemunho de que ao pessimismo da razão, que teria induzido muitos a renunciar ao empreendimento, a FIAT pôs à frente o optimismo da vontade», assinalando Rafaella Polato que se trata de  «uma citação gramsciana…»
Até 2014, estão previstos 16 novos modelos.  A FIAT Power Tecnologies, que constrói motores e caixas de velocidade e tem em mãos um novo turbo a GPL, a fim de responder às preocupações ecológicas, receberá um investimento de 10 mil milhões de euros.[19]
Para atingir todos estes objectivos, estão previstos, à semelhança do que havia sido proposto para Pomigliano, os já citados 18 turnos por semana, sempre que o mercado o exija; uma rigorosa redução dos custos; a aplicação da World Class Manufacturing (WCM); e uma maior flexibilidade.[20]
Apesar da confirmação do encerramento da Fábrica Termini Imerese na Sicília, a Fiat prevê «um aumento dos quadros.»[21]
Marchionne chama a atenção para que os «Sindicatos» têm de lhe dizer se alinham, isto é, se lhe garantem «a flexibilidade na gestão dos estabelecimentos e do trabalho, indispensável ao sucesso.» Avisa que o devem fazer depressa, porque se está «a falar de reestruturar toda a rede produtiva italiana», o que não se faz «em dois dias nem em dois meses.»[22] 
Perante as perguntas fatídicas – «E se não acontecer? E se as negociações forem longas e a resposta um não?» – Marchionne responde com simplicidade e franqueza: «Seria tonto se pensasse que não há um plano B. E não é um plano bonito. Se querem matar as fábricas na Itália… Nós encontraremos o modo de fazer automóveis. É o País que deve decidir se quer uma indústria automóvel, que se deve dar conta de quantas oportunidades há no mundo: em poucos meses fizemos contratos na Rússia, no México, na Sérvia, sem falar nos EUA.»[23]
Sublinha que o compromisso é todo da Fiat e não quer ouvir dizer que a Fiat é «uma empresa assistida». Pede aos «sindicatos» que tomem nota do contexto em que a Fiat faz a sua proposta. E acrescenta: «Nós pensamos num grupo que vai da Itália para o mundo. Digam se estão interessados e se podemos trabalhar todos em conjunto. Se não, existe o plano B. E não é chantagem. É a sobrevivência da Fiat.» [24]
Marchionne termina, anunciando o spin off  da FIAT para fazer frente aos desafios do mercado global, pelo que vão ser criadas duas sociedades  autónomas: uma para o automóvel (a «Fiat»); e outra que reúne o fabrico de camiões, autocarros,  máquinas agrícolas e de construção, motores industriais e de barcos (a «Fiat Industrial»).
 O convite para que os dirigentes sindicais assinem, a 21 de Abril, a acta do acordo para Pomigliano terá sido tudo menos inocente. A assinatura conjunta era o acto formal que simbolizava o arranque do “projecto Fabbrica Italia», no próprio dia do seu anúncio.
O facto de, para esta conferência de imprensa, terem sido convidados os dirigentes sindicais de todas as federações e confederações, o facto de estar previsto serem aqueles recebidos ao fim da tarde por Sergio Marchionne não demovem a Fiom e os seus militantes de estragar a festa. Ao longo de todo o dita, à frente do Lingotto, manifestam-se, à falta de melhores razões, para «não deixarem passar sob silêncio a [sua] condição.»[25]
Pelas 19 h. 30, Marchionne, aparentemente indiferente às manifestações de protesto, reúne-se, durante uma hora, com dirigentes da Cisl, Uil, Ugl, Fim, Fiom, Uilm e Fismic.
Tinha sido o «Investor Day» do Lingotto.


Reacções sindicais
         Praticamente todos os dirigentes sindicais avaliam positivamente o «projecto Fabbrica Italia», ainda que alguns se preocupem com o destino de Termini Imerese e outros tenham dúvidas quanto à bondade do spin off.
Mesmo Enzo Masini, coordenador do ramo automóvel da Fiom, apesar dos protestos dos seus camaradas, reconhece que «este plano é novo», «é um projecto que finalmente prevê um aumento da capacidade produtiva na Itália.»[26]
Os dirigentes e militantes do Slai Cobas, esses, optam por uma atitude quase provocatória. Enviam uma exposição à Procuradoria da República de Turim em que denunciam os «desmedidos financiamentos» que outrora a Fiat recebera e utilizara «irregularmente para despedir e reduzir os quadros, fechar e redimensionar as fábricas em Itália e para deslocalizar as produções para o estrangeiro.»[27] Pouco importa que a Fiat tenha acabado de anunciar exactamente o contrário, ou seja, investimentos em Itália e a “relocalização” de um modelo da Polónia para a mesma Itália. Se a Fiat está apostada no futuro, esta minoria radical  permanece, claramente, agarrada ao passado.
 Embora Marchionne tenha pedido uma resposta célere e feito depender o investimento dos 700 milhões de euros em Pomigliano da assinatura do acordo, as negociações em torno dos 18 turnos, das pausas, e da mobilidade interna e externa continuam a arrastar-se, com a Fiom a resistir.
A 4 de Maio, as negociações são interrompidas, quer porque a Fiom alega não poder estar presente, quer porque a Fiat opta por contactos informais com «cada organização sindical» a fim de avaliar se haveria condições para elaborar um «documento conclusivo», com «o máximo consenso possível» e  com a garantia de cumprir o que havia sido acordado. [28]
Dez dias depois, os encontros separados não tinham dado melhores resultados. A «ausência de convergência sobre a aplicação de todas as condições de flexibilidade e competitividade» continuava a ser total.    
A consulta separada, que a Fiom  transforma de imediato em «acordo separado», serve de pretexto para envenenar ainda mais as suas relações com a Fiat e fazer escalada nas acusações que lhe dirige.
Gianni Rinaldini, então secretário-geral da Fiom em fim de mandato, qualifica o encontro separado como um «facto de extrema gravidade em matéria de relações sindicais» e o eventual acordo em torno de um texto definitivo «um procedimento absolutamente inaceitável.» Admitindo estar presente no encontro com a Fiat a 4 de Junho, avisa que o fará «para negociar, não para aceitar o que os outros tenham definido.»[29]
Mais tarde, Enzo Masini torna mais claro o que a Fiom não está disposta a aceitar e que já não se reduz aos turnos, às pausas, ao trabalho extra ou à mobilidade. Segundo Masini, «a Fiat deve retirar elementos que nada  têm a ver com produtividade, eficiência e organização do trabalho, ideias punitivas para com os trabalhadores e as organizações sindicais. E não deve tentar desvirtuar o contrato nacional.»[30] Alargavam-se, em suma, as objecções da Fiom.  
A 8 de Junho, realiza-se, na União Industrial de Turim, mais uma reunião entre a Fiat e todas as federações de metalomecânicos, bem como as correspondentes organizações de Nápoles, a que se juntam a RSU de Pomigliano e a presidente da Câmara de Nápoles, Rosa Iervolino (centro-esquerda).
A Fiat entrega aos «Sindicatos» um documento que é o seu projecto final de acordo, incorporando algumas das observações e objecções por eles até então levantadas.
Perante a versão final do documento da Fiat, as federações reservam a sua resposta para uma reunião a 11 de Junho. Fica, porém, decidido que o documento será apresentado aos trabalhadores de Pomigliano e submetido a referendo.
 Cgil e Fiom, embora com nuances, iniciam uma espécie de guerrilha verbal e tornam os seus ataques mais insidiosos .
Gugliermo Epifani, secretário-geral da Cgil e líder da ala moderada e maioritária daquela central, ao perguntar se a Fiat «quer ou não garantir o investimento, pois de outra maneira não se explicam as pressões exercidas sobre os delicados direitos dos trabalhadores»[31],  é como se pusesse em causa a boa fé das declarações de Elkann e Marchionne.
Por sua vez, Maurizio Landini, o recém-eleito secretário-geral, da ala esquerdista, minoritária na Cgil mas maioritária na Fiom, diz que a FIAT parece procurar «um bode expiatório para justificar outras opções industriais.»[32] Ou seja, o plano «Fabbrica Italia» mais não seria do que poeira lançada aos olhos dos trabalhadores, porque os desígnios da Fiat  são outros.
A 11 de Junho, tem lugar o encontro entre a Fiat e todas as Federações  Metalomecânicas, desta vez, na sede da Confindustria, a fim de conhecer as respectivas posições sobre o documento antes distribuído. Tudo indica que a reunião é tumultuosa, uma vez que o responsável da Fiat, às tantas, teria declarado: «No caso de a situação delineada com a Fim, Uilm, Fismic e Ugl não ser exequível, a responsabilidade do não ao investimento em Pomigliano recairá toda sobre a Fiom.»[33]
Da reunião, sai o acordo assinado pela Fiat e pelas quatro federações Fim, Uilm, Fismic e Ugl. A Fiom mantém a sua irredutibilidade e recusa-se a subscrevê-lo.[34]
A consulta aos trabalhadores de Pomigliano é confirmada.[35]
Enquanto decorre este encontro, uma delegação de operários de Pomigliano afectos à Fiom e a organizações de extrema-esquerda faz um protesto em frente da sede da Confidustria. Os manifestantes gritam repetidamente: “Em Pomigliano não se toca”. Após a concentração, ainda tentam bloquear a estrada, no que são impedidos por forças da ordem.[36]
Maurizio Landini, no fim da sessão e como que descredibilizando as outras federações e o próprio acordo, declara: «Não é um acordo separado porque não assinaram nada a não ser o texto decidido pela Fiat». E este «derroga contratos e leis do Estado e não foi modificado: esta operação da Fiat é uma perfeita chantagem sobre os trabalhadores de Pomigliano e sobre a Fiom.» [37] Depois de reunido o Comité Central da sua federação, promete novas acções.
O acordo acabado de subscrever estabelece a realização de 17 turnos semanais, tendo a Fiat prescindido do 18.º turno (o do sábado, das 22 horas às 6 da manhã), substituindo-o por um pacote de 120 horas anuais de trabalho extraordinário, como tal pago, feito com trabalhadores voluntários.[38]  As duas pausas de 20 minutos, junta à pausa para refeição, são reduzidas a três pausas de 10 minutos, sendo que a pausa de refeição se situa sempre no fim de cada turno. A diferença de 10 minutos a menos de pausa é retribuída na base do vencimento normal. As cláusulas relativas quer à trégua social temporária, quer às sanções aplicáveis  sempre que as organizações violem a trégua e o pacto que subscreveram (diminuição das licenças sindicais), não beliscam, segundo a Fim/Cisl, direitos constitucionais. A prova é que cláusulas semelhantes existem em muitos sectores e em muitas empresas do próprio sector metalomecânico. Neste campo, as federações subscritoras do acordo apenas propõem a criação de uma comissão paritária a fim de arrefecer e prever potenciais conflitos, cabendo as decisões ao chefe da empresa.[39]
Marchionne, que se encontra em Veneza, reage à reunião da véspera. Diz-se «bastante satisfeito com o acordo alcançado pela maior parte das siglas sindicais sobre o futuro de Pomigliano.»[40] Comentando a atitude da Fiom, sublinha: «Estamos a  brincar com a vida de 5.000 pessoas. Garanto-vos que não acontece em parte alguma do mundo. Com quantas entidades será preciso pormo-nos de acordo para dar trabalho a cinco mil pessoas? […] A solução mais fácil seria desmantelar tudo e ir para o estrangeiro. Não abusem das boas intenções. Estamos a tentar apenas fazer qualquer coisa de bom para o País.» [41] E noutro passo: «A situação de Pomigliano é extraordinariamente única. Quem no mundo relocaliza no país a produção do estrangeiro? Numa situação em que se oferece trabalho, é paradoxal que também se tenha de persuadir para o fazer.» A propósito do referendo, mostra-se tranquilo: «Se os trabalhadores não quiserem o investimento, basta que o digam.»[42]
 A Fiom, ainda antes de reunir o seu Comité Central, volta ao ataque, porventura incomodada com as responsabilidades que sobre ela recairiam caso a Fiat viesse a desistir do investimento. Assim, emite uma nota em que, a propósito do acordo sobre Pomigliano, ataca a Fiat e as federações subscritoras.
As acusações à Fiat são de duas ordens. Primeiro a de que, com uma organização do trabalho baseada em 18 turnos por semana, com pausas menores, a última das quais (a da refeição)  podendo ser abolida e transformada em trabalho obrigatório, a empresa não só derroga de facto a lei[43], mas também aumenta, de forma unilateral e sem negociação com a RSU, o número de horas de trabalho extraordinário; tal como aumenta o ritmo de trabalho e não paga os dias de doença relativos a «formas anormais de absentismo».[44] A segunda acusação é a de, «numa linguagem bizantina dos acordos», impor a renúncia ao direito de greve, «uma espécie de cláusula no strike já arrancada aos sindicatos americanos». Em suma, a Fiom proclama um rotundo «não» a todas as cláusulas do acordo.
O epíteto de «colaboracionistas» que aplica às federações subscritoras é considerado pela própria Fiom um «eufemismo». «Bonnani & Cª» são acusados de «desfaçatez», por terem negado sempre aos trabalhadores referendos sobre acordos firmados e aceitarem agora este referendo, apesar da «fortíssima chantagem» a que os trabalhadores estão submetidos. E conclui: «A ofensiva mediática e político-camorrística já começou.»[45] 
Intelectuais no debate
        
Coincidindo com as últimas posições tomadas pela Fiat e com o endurecimento da atitude da Fiom, o conflito passa a ser assunto obrigatório na imprensa e, tal como dividira os sindicatos, divide os media, os especialistas e a opinião pública. 
 Luciano Gallino, sociólogo do Trabalho e professor emérito da Universidade de Turim, em La Repubblica, está entre os que apoiam a Fiom.
Admite que a Fiat não tenha alternativa. «Ou consegue aproximar o custo de produção do estabelecimento de Pomigliano ao dos estabelecimentos situados na Polónia, Sérvia ou Turquia, ou nunca conseguirá  vender em Itália nem noutro lugar qualquer o automóvel construído na Campania.» Lembra haver um excesso de capacidade produtiva, avaliada em 40%, responsável pelas «furibundas batalhas na frente dos preços ao cliente.»[46] O problema central é o da globalização. «É na globalização, doravante sem véus, que se enquadra o caso Fiat. Se, na Polónia, ou em qualquer outro país em desenvolvimento, um operário produz X viaturas ao ano, forçosamente Pomigliano, ou Mirafiori ou Melfi devem produzir outro tanto. É exactamente o mesmo raciocínio que explicitamente fazem Renault e Volkswagen, Toyota e General Motors.»
Se noutros países os trabalhadores aceitam condições de trabalho duríssimas, não se percebe porque isto não aconteça em Itália. Volta a repetir que, de momento, não há alternativas. Mas lembra que «a falta de alternativas não caiu do céu. Foi construída pelos políticos, pelas leis, pelas grandes sociedades, pelo sistema financeiro, em parte, com instrumentos científicos, em parte, por serem obtusos ou por avidez. Caberia à política e às leis tentar redesenhar um mundo em que houvesse alternativas para as pessoas e não só para as empresas.»[47]
Caso não se redesenhasse o mundo à maneira de Gallino, a Fiat acabaria, obrigatoriamente, a impor à Itália, as condições de trabalho e salário da Polónia, Sérvia ou Turquia – e porque não da China –, como se tal fosse possível e como se o nivelamento por baixo constasse dos planos apresentados pela Fiat.
Massimo Luciani, docente de Direito Constitucional na Universidade La Sapienza, de Roma, em declarações à Agência ANSA, aborda o conflito entre Fiat e Fiom de um outro ângulo. Para Luciani, «o direito à greve não é derrogável: a Constituição prevê-o para garantir a protecção da parte mais débil na relação de trabalho. É um direito que não é disponível para o que dele é titular e, portanto, não pode fazer parte de uma convenção.» Para Gallini, existiam «dúvidas muito sérias de constitucionalidade.» E acrescenta: «Ainda que o contrato de empresa tenha sido subscrito por outros três sindicatos [e não pela Fiom], a cláusula sobre a greve tem de entender-se como nula, porque se está em presença de um direito reconhecido pela Constituição.»[48]
Piero Capotosti, de formação católica, ex-presidente emérito do Tribunal Constitucional e muito distante da Fiom, acompanha Luciani quando este diz que o direito à greve não pode ser objecto de negociação. «Assim procedendo, faz-se depender de um contrato de empresa a limitação de um direito sancionado pelo artigo 40 da Constituição.» Para Capotosti tal como para Luciani, a cláusula de paz social deve entender-se como nula. A propósito da validade do acordo com a assinatura de apenas quatro federações, defende que ele seria sempre «ineficaz nos confrontos dos trabalhadores Fiom.» Defende que, se se pretendia limitar o recurso à greve, melhor teria sido recorrer aos «desincentivos económicos» e não às «sanções disciplinares ou ao despedimento».[49]
Mais tarde, em entrevista a L’Espresso, Capotosti manifesta a sua «perplexidade» quanto à validade dos condicionamentos ao direito de greve. Interrogado sobre o valor do referendo, uma vez que o acordo contém cláusulas que ferem a Constituição, responde: «Mais do que nulo, é inútil.»[50]
Giuseppe Berta, docente de História Contemporânea na Universidade Bocconi de Milão e fundador da Associazione di Storia e Studi sull’Impresa, em entrevista ao jornal L’ Unità, acredita que a Fiat está a fazer uma «oferta real» e justifica a sua convicção: «O Lingotto não tem outras bases europeias mas, tendo diversos estabelecimentos na pátria, pode permitir-se escolher os mais eficientes. E em Pomigliano quer um acordo imediatamente operativo, caso contrário o abandono será uma realidade.» E mais adiante: «Estamos numa viragem histórica, semelhante à de 1980, mas ao contrário: desta vez, é a empresa a fazer reivindicações e não os trabalhadores. Hoje a Fiat é um grupo global, poderia produzir no estrangeiro sem dificuldade, e isto muda completamente os termos da negociação. Também os tradicionais instrumentos de luta sindical já não funcionam como outrora.»[51]
Dario di Vico, subdirector do Corriere della Sera, afirma que o sistema de relações industriais italiano foi «construído em torno de uma ideia novecentista da competição económica. Não compreendeu que a globalização alargou o campo de manobra e empurra para a deslocalização. Não sabe que a divisão do trabalho dependente e autónomo tem muito menos sentido do que antes.»
E acrescenta: «Se não bastassem estes sinais evidentes de senilidade, as relações industriais centralizadas demonstram não estar equipadas para fazer frente à nova emergência do desemprego.» Alerta para que, de futuro, apesar da retoma o emprego não crescerá. «Os americanos chamam-lhe jobless recovery, o que quer dizer que o crescimento e o emprego deixaram de ser sinónimos. Divorciaram-se. Os postos de trabalho em si não serão recuperados e a reestruturação da empresa, ainda que virtuosa, cortará nos efectivos.»
Considera que «no debate político-sindical, esta novidade ainda não foi metabolizada» e que «recusamos acreditar que o tempo das vacas gordas acabou e que somos chamados a rediscutir conquistas que dávamos como adquiridas por tempo indefinido.» Defende que para «evitar a ruína é necessário experimentar soluções inovadoras.» É neste contexto que situa «o enigma de Pomigliano». E acrescenta: «Se aplicássemos o mero bom senso, a questão já estaria resolvida. Será que o nosso Sul, aquele que teme tornar-se uma das periferias pobres da Europa, pode dar-se ao luxo de “rejeitar” um investimento de 700 milhões de euros e cinco mil postos de trabalho? Obviamente que não. Mas esta consideração não é suficiente para convencer a Fiom, votada a defender mais o mitologia do conflito do que o pleno emprego.» E adverte que a Fiom – e a própria Cgil –, nem se dão conta de que, ao impedirem a deslocalização dos investimentos, «reforçariam o sindicato aos olhos dos trabalhadores.» E «retiraria à empresa qualquer álibi para comportamentos corsários e recolocaria no centro a qualidade da mão-de-obra e do produto made in Italy.» Por fim lembra que se conseguiram, «a nível descentralizado», muitos acordos inovadores que «olham corajosamente para o amanhã sem medo de, como se diz em jargão,  “sujar as mãos”.»[52]
Pietro Ichino, antigo dirigente da Fiom, professor de Direito do Trabalho na Universidade Estatal de Milão, senador do PD, concentra-se no problema que o vem ocupando há anos: o da «grave desadequação do sistema italiano das relações industriais perante o desafio da economia global». Num sistema baseado no princípio do «pluralismo sindical», considera «normal que, na avaliação de um plano industrial com forte conteúdo inovador, as associações sindicais divirjam. O problema é que o nosso sistema não soube dotar-se dos instrumentos indispensáveis para dirimir a questão.» Quando o acordo não é subscrito por todas as organizações sindicais, os trabalhadores dissidentes podem sempre obter do juiz ganho de causa. Tal como os sindicatos dissidentes – ainda que representem apenas 1% dos trabalhadores – podem sempre proclamar uma greve contra o acordo, à qual poderão aderir não só aqueles 1%, mas também os 50 ou 100% dos trabalhadores, inclusive os de sindicatos subscritores do acordo. «O resultado é que o empresário parte para outro lado com o seu plano industrial inovador e com a procura de trabalho que consigo arrasta (é o que – compreensivelmente – ameaça fazer Marchionne em Pomigliano, se o acordo não for firmado por todos).»
Segundo Ichino, este «gravíssimo defeito» é uma das principais causas da escassa atracção que a Itália exerce sobre as multinacionais e o capital estrangeiro. «No momento em que nos propomos curar o “mal obscuro” que, de há duas dezenas de anos, impede o nosso País de crescer, faremos bem em afrontar e resolver este problema o mais rapidamente possível.»[53]
No dia seguinte, Ichino, em declarações à ANSA, esclarece que as disposições propostas pela Fiat no acordo para Pomigliano, em matéria de doença e de restrição ao direito de greve, nem colidem com o contrato colectivo metalomecânico, nem violam a lei. Ainda que, no primeiro caso, configure de forma marginal uma derrogação do contrato colectivo nacional, é «pacífico em jurisprudência e em doutrina» que o contrato nacional possa ser validamente derrogado por um contrato de empresa firmado unitariamente pelas mesmas organizações sindicais subscritoras do contrato nacional, o que era o caso do contrato nacional assinado apenas pela Fim-Cisl, Uilm, Fismic, Ugl. Quanto ao pacto de trégua social, pacificamente válido e vinculativo para o sindicato que o estipula, se obriga o sindicato que subscreve o acordo, obriga igualmente os seus inscritos a título individual.[54] 
Tito Boeri, docente de Economia do Trabalho na Universidade Bocconi, de Milão, um dos maiores especialistas italianos na matéria e também ligado ao PD, em entrevista à revista Espresso, reconhece que «o acordo proposto pela Fiat para Pomigliano põe travões aos direitos dos trabalhadores», mas «defende a empresa de um excessivo nível de absentismo e de uma insuficiente produtividade relativamente ao investimento.»
Para Boeri, trata-se de «um acordo importante porque estão em causa cinco mil postos de trabalho numa zona com uma taxa de desemprego muito elevado [50% entre os jovens]. E é um acordo que ilumina os atrasos de uma reforma das últimas bases contratuais. Se tivéssemos defrontado a tempo uma série de pontos cruciais do nosso sistema de contratação, este acordo e muitas das tensões que causou não teriam existido. Aquilo que a Fiat, de facto, pede é que a assinatura do acordo não possa permitir uma greve às horas extraordinárias depois de feito o investimento. É uma exigência compreensível porque é uma empresa que tem de fazer um investimento importante e sabe que, se não fecha previamente este acordo, corre o risco de ser penalizada.»[55]
O colunista Gianni Pardo, em Il Legno Storto, interroga-se acerca do não da Fiom. Retoma uma das observações de Ichino relativamente à «excessiva liberdade de manobra» que a legislação deixa às organizações sindicais, mesmo as mais ínfimas, em matéria do direito de greve. 
Pardo, ao tentar responder à pergunta «Por que é que a Fiom diz não», propõe que se tente uma resposta a partir do ponto de vista da própria Fiom. Perante a questão do que, nas relações entre a empresa e trabalhadores, deve ter prioridade –  «a normativa nacional» ou «o acordo de empresa» –, responde: «Se prevalecer o primeiro, o sindicato tem a última palavra.» Se prevalecer o segundo, «o sindicato perde o seu poder de vida ou de morte» e «também o direito de proteger os piores de entre os seus associados, de que são exemplo os absentistas e os falsos doentes.» Mais grave: «A prática poderia estender-se qual mancha de óleo ao resto de Itália». Compreende-se, em suma, que a Fiom resista: em todos os organismos «o instinto de conservação é o mais forte. E no seu caso a sobrevivência depende de permanecer extremista». 
Se a Fiom não assinar e se a Fiat investir em Pomigliano, o sindicato terá vencido; se, ao contrário, a Fiat mantiver a sua posição e não abrir a linha de produção, «Deus proteja a Cgil da maldição dos trabalhadores». Pardo atribui a rigidez da Fiom ao facto de estar «mais interessada no dado ideológico do que no dado económico.» Se a Fiom cedesse, «daria a vitória ao “capitalismo selvagem” (o único que conhece)» e se, para o fazer, «devesse sacrificar o trabalho de milhares e milhares de trabalhadores, tanto pior: não se pode pedir a um padre que se declare ateu.»
Pardo vê uma «razão mais curiosa» para explicar o comportamento da Fiom, indo buscar algumas das características da sociedade actual. «O mundo desenvolvido não conhece uma guerra há mais de 60 anos e a sociedade actual é piedosa, caridosa, pronta à compreensão e ao perdão. Hoje quem se encontre em dificuldade vira-se para o Estado como outrora se virava para a Divina Providência. Espera-se que a Administração Pública resolva os problemas de todos, a todos proteja, se ocupe dos bens de todos. Ninguém tem o dever de ser prudente e de tomar conta de si próprio como um verdadeiro adulto. Prevalece a ideia de que o Estado deve prever e impedir todos os males, mesmo aqueles que o cidadão, qual criança pequena, pode fazer a si próprio. […] Nesta sociedade ninguém deve – ninguém deveria – ficar para trás. E ninguém deveria pagar o preço dos próprios erros ou das próprias culpas. O cidadão é irresponsável. A Fiom/Cgil e os operários têm, quais crianças, o direito de fazer mal a si e aos outros: portanto, se se põem em risco, a culpa é dos grandes que não os impediram. Do governo em particular. O rapazinho deve ser socorrido também se fez com que a fábrica permanecesse na Polónia.
«Não é uma brincadeira. Se a Fiat não investir em Pomigliano d’Arco, o sindicato acusá-la-á de ter provocado um “problema de emprego”. Dirá que se aquelas 5.000 famílias têm fome a culpa não é do sindicato, mas dos capitalistas, aqueles malditos que com a produção querem ganhar. Que intervenha o Estado. […]. Que Berlusconi venda a Villa de Arcore. Na fábula moderna, se a criança não se salva, a culpa é sempre do governo.» [56]
Por provocatória que esta análise seja, não deixa de conter uma dose de verdade. E resta saber se este tipo de sociedade, que infantiliza até ao ridículo os cidadãos, não alimenta o comportamento cego da Fiom.




Cgil versus Fiom
 
Enquanto prossegue o debate, os trabalhadores de Termini Imerese não acham nada melhor do que proclamar greve, a 14 de Junho, no período de transmissão televisiva do jogo entre Itália e Paraguai, do Mundial de Futebol, dando razão a algumas das acusações que lhes vinham sendo feitas. Como dirá Pietro Ichino, a fábrica transformava-se de local de trabalho em local de lazer e ainda por cima pago pela empresa.
No mesmo dia, reúnem-se o Secretariado da Cgil e o Comité Central da Fiom, a fim de discutir as posições sobre o acordo de Pomigliano.
Para Guglielmo Epifani, distanciando-se de declarações anteriores, é impensável fazer rebentar a reestruturação de Pomigliano, «queimar» um investimento de 700 milhões e perder 15.000 postos de trabalho. [57]  «Seria um desastre para o Mezzogiorno.»[58] Posição idêntica defende Gravanno, secretário campano da Cgil, que já havia pressionado a Fiom a assinar o acordo.[59]
Epifani tem de se dedicar à diplomacia: levar a Fiom a recuar sem a deslegitimar; reabrir espaços de negociação; fazer saber à Fiat, de modo inequívoco, que a CGIL quer que Pomigliano produza os 270 mil Panda e que o investimento seja feito.
Na festa da Cisl, a 13 de Junho, Epifani dera um primeiro sinal: «Pomigliano não tem alternativa. São necessários empregos, desenvolvimento e investimentos.»[60] Na posterior nota publicada pelo Secretariado da Cgil, ainda que este invoque o carácter ilegítimo de que estão eivadas as normas em matéria de doença e de direito de greve, normas que, na prática, considera «inválidas e ineficazes»,  pode ler-se: «O trabalho é a prioridade da Cgil» e, portanto, «é essencial que se proceda ao investimento anunciado pela FIAT».
O Secretariado da Cgil vai mais longe, convocando para sede do Corso de Italia Maurizio Landini, antes da reunião do Comité Central da Fiom. Epifani fustiga Landini e a Fiom. «Vocês exageraram, foram demasiado longe. Não podem utilizar os termos que usaram até agora, não se podem permitir fazer rebentar o acordo.»[61] Perante a irredutibilidade de Landini e a impossibilidade de a Fiom fazer marcha atrás, Epifani pede que ao menos limitem a área do contencioso.  
Epifani falha, porém, na tentativa de moderar a posição da sua Federação.
Segue-se, em Roma, a reunião do Comité Central da Fiom. Aqui, Landini não pode ser mais claro: se a Fiat quiser manter a posição do documento, «o Comité Central, por unanimidade, considera impossível que o texto seja assinado», porque «contém perfis de ilegitimidade». Está fora de causa «submeter ao voto acordos que violem contratos e a Constituição.»
Landini chega a ameaçar convocar oito horas de greve para o sector metalomecânico a 25 de Junho, dia para o qual a Cgil havia convocado uma greve geral de quatro horas contra as medidas de austeridade do governo.
No fim, o Comité Central da Fiom aprova um documento em que, em tom duro, reafirma a sua total oposição ao acordo.[62] Mas, se virmos bem, não era só ao acordo, era igualmente ao referendo.
A assinatura do acordo
A 15 de Junho, tem lugar o encontro entre a Fiat e as federações sobre o estabelecimento de Pomigliano d’Arco, que termina com a assinatura do documento que desbloquearia o investimento de 700 milhões para a produção do novo Panda. O acordo é assinado pela Fim-Cisl, Uilm, Fismic e Ugl. A Fiom, convocada igualmente para esta reunião, é-o apenas para tomar conhecimento. Seja como for, reafirma o «não» ao acordo.[63]
Mas, tudo indica que, sob a pressão de Epifani e de outros dirigentes da Cgil, a Fiom, «depois de ter considerado longamente os 18 turnos um tabu, [faz] saber à Fiat que não se oporá à utilização maciça das instalações e ao aumento da produtividade…»[64]
A Fiat apresenta um novo documento com mais um ponto relativo à institucionalização da comissão paritária, que fora pedido pelas federações.[65]
O referendo, esse, é agendado para 22 de Junho.
Enzo Masini defende o «não» ao acordo, explicando que o documento apresentado pela Fiat é «um texto inaceitável», que levanta «problemas sérios de desacordo com a Carta Constitucional relativamente ao direito de greve e de derrogação de leis e do contrato nacional. Um referendo também não é possível sob a ameaça de fecho de um estabelecimento.»[66]
Os dirigentes da Fiom oscilam quanto ao que o texto do acordo viola. Primeiro, haviam falado de violações do «contrato nacional de trabalho», depois do «contrato e da lei», agora era dos «contratos, da lei e da Constituição.» Tal como oscilam quanto às razões da sua oposição ao referendo. Se Landini alega não ser possível submeter ao voto acordos que violem contratos e Constituição, Masini invoca a ameaça do fecho de Termini Imerese.
A 16 de Junho, delegados da Fiom de Turim iniciam em Mirafiori uma recolha de assinaturas contra o «acordo separado» relativo ao estabelecimento de Pomigliano d’Arco, dirigido a Sergio Marchionne. Segundo a Fiom, só nas Carroçarias, ao fim de poucas horas, já tinham sido recolhidas mais de um milhar de assinaturas, «cerca de 50% dos aderentes presentes», percentagem que nada nos diz.[67]
 No texto do abaixo-assinado, pode ler-se: «Frente à possibilidade de ver a produção aumentar nos estabelecimentos italianos, estamos prontos a fazer a nossa parte, mas isto não pode ser feito com prejuízo dos nossos salários, dos nossos direitos, da nossa dignidade e da possibilidade de contribuir para melhorar a nossa vida e a própria empresa em que trabalhamos.»[68]
 Nesta cambalhota, as violações aos contratos, à lei e à Constituição tinham desaparecido de novo.
Enquanto Epifani defende o referendo, porque considera importante que os trabalhadores participem e porque que se trata de «um sim ao emprego, um sim ao trabalho, um sim ao investimento»[69]; enquanto a Cgil da Campania e de Nápoles apela aos trabalhadores a participarem no referendo e a votarem «sim» ao acordo[70]; Landini acusa a Fiat de chantagem, de dizer aos «trabalhadores [que] têm de escolher entre viver ou morrer» e «é claro que escolherão viver».[71] Os aderentes da Fiom de Pomigliano, convocados para uma assembleia, aprovam um documento em que consideram «inaceitáveis e ilegítimos o acordo separado e o referendo porque entram em contradição com leis e com a Constituição.» Talvez porque temam que o resultado do referendo lhes seja adverso – lembremos que a percentagem de aderentes da Fiom entre os 63% de sindicalizados não vai além dos 17% em Pomigliano – os dirigentes aconselham «os trabalhadores a participarem no voto para evitar represálias individuais.»[72]
A Fiom começava, em suma, a desvalorizar o referendo.
Segundo Salvatore Tropea, jornalista que acompanha a Fiat há 40 anos, Marchionne estava preocupado porque descobrira que a Itália não era a América. O «acordo separado» não resolvera o seu problema porque não fecharia o capítulo da conflitualidade, antes o acentuaria.[73]
A 17 de Junho, Marco Ferrante, subdirector de Il Riformista e autor de uma biografia de Sergio Marchionne, dá a conhecer os cenários que restam à Fiat. Dos três que descreve, só o terceiro parece exequível[74]: avançar com uma nova sociedade (new.co) que, não entrando na confederação industrial territorial, anularia os contratos da fábrica de Pomigliano, podendo assim neutralizar a falta de respeito da Fiom pelo resultado do referendo.[75]
Enquanto trabalhadores da Fiom, de Mirafiori, fazem greve de duas horas contra o acordo de Pomigliano, 5.000 trabalhadores de Pomigliano, apoiados pela Cisl, manifestam-se a favor do acordo e pelo “sim” no referendo.
A Cgil, cujo secretário-geral se encontra então no Canadá, mantém-se em silêncio. A Fiom, pela pena de Enzo Masini, faz sair uma nota em que declara:
«Amanhã as trabalhadoras e trabalhadores da Fiat de Pomigliano serão obrigados a ir votar num referendo ilegítimo, numa fábrica reaberta para a ocasião graças a uma Fiat finalmente “generosa” com o pagamento da jornada. […] De facto os trabalhadores são chamados a votar sob a chantagem do encerramento do estabelecimento e da perda do posto de trabalho e da derrogação do contrato nacional, das leis, da Carta Europeia dos direitos e da própria Constituição.
«Frente a um referendo ilegítimo e, por isso, não vinculativo, a Fiom não dá nenhuma indicação de voto, mas aconselha os trabalhadores a votar para evitarem possíveis represálias por parte da empresa.»[76]
 O secretário geral da Fiom, Landini, mostra-se ainda mais truculento quanto ao referendo: «É uma consulta ilegítima, na qual a livre vontade dos trabalhadores está coarctada e distorcida. O próprio quesito da consulta está evidentemente privado de validade quanto a pedir-se aos trabalhadores se estão ou não de acordo em fazer vir o Panda para o estabelecimento. Um quesito privado de validade moral e legal.
«Depois, a consulta desonra-se numa jornada paga ad hoc pela Fiat, com pesadíssimas interferências e pressões por parte da direcção empresarial: vai desde a presença nos locais de representantes da empresa à indicação aos trabalhadores e à projecção nas oficinas de DVD que convidam a votar sim. Tudo se passa num clima geral de intimidação.»[77]


O referendo
A 22 de Junho, realiza-se o referendo sobre o acordo assinado pela Fiat e pelas quatro federações: Fim, Uilm, Fismic e Ugl. O referendo, começado às 8 da manhã, prolongara-se até às 21, por três turnos. Todos os trabalhadores em «cassa integrazione» tinham sido chamados ao trabalho, a pedido das organizações sindicais. Elementos da Cgil, Cisl e Uil participam nas mesas de voto.[78]
Durante todo o dia, há uma guerra de números. Os “Cobas” prevêem 60% de «sim». Os sindicatos subscritores do acordo apontam para 70%. A empresa desejaria um «sim» mais expressivo.
«Fora dos portões do estabelecimento, ao fim da primeira hora da manhã, o circo mediático montou as suas tendas: dezenas de cronistas italianos e estrangeiros, começaram uma caça aos comentários e às declarações de voto que se prolongaram pelo dia fora.»
Há «embaraço» perante a pergunta sobre a escassa vontade de trabalhar mostrada pelos trabalhadores em anos passados: alguém admite que «houve excessos no absentismo, as falsas doenças, que encobriam o duplo trabalho, os privilégios dos sindicalistas.»
Há quase confrontos entre elementos do Slai Cobas e sindicalistas subscritores do acordo. Vittorio Granillo, chefe dos Cobas, grita ao microfone: «O acordo é um golpe de Estado». Os seus militantes vociferam: «Vendidos ao patrão».
         Registam-se actos de vandalismo contra concessionários Fiat de Nápoles e da província. Num deles, aparecem pintados a vermelho «Não ao acordo, Marchionne infame» e ao lado, também a vermelho, duas «estrelas de cinco pontas, símbolo das Brigate Rosse[79]
        A afluência às urnas é de 4.881 votantes num total de 5.193 trabalhadores directos, o que corresponde a 95% do universo. O “sim” vence por 62,2% (2.888 votos), o “não” obtém 36% (1.673 votos). Os “nulos” e “brancos” são, respectivamente, 59  e 22.[80]
A 23 de Junho, corre entre os sindicalistas subscritores do acordo que Marchionne, desiludido com os resultados (62% e não 80% como desejaria), iria regressar ao «plano B», isto é, renunciar a Pomigliano e voltar a fazer o Panda na Polónia.
         O clamor é tal que Marchionne vê-se obrigado a desmentir, primeiro por telefone a cada um dos dirigentes sindicais signatários, depois através de um comunicado em que confirma os termos do acordo e promete não haver negociações com a Fiom-Cgil.
Só assim os ânimos serenam.
Luigi Angeletti (UIL), preocupado com a desilusão da Fiat, ganha segurança e afirma: «Se em Itália as únicas coisas que pudessem ser feitas fossem aquelas que se fazem por unanimidade, nunca se faria nada».
Raffaele Bonnani (CISL), a quem Marchionne garantira que o Lingotto «assinou um pacto e nós respeitamos os pactos», comenta satisfeito: «Aprendam os que troçaram. Fizemos um trabalho magistral a favor de Pomigliano e dos trabalhadores. Hoje a notícia é o referendo e a confirmação de que a Fiat quer fazer os investimentos».
Rocco Palombella (Uilm), crítico para com a Fiom de Mirafiori que fizera greve contra o acordo de Pomigliano, afirma: «Se não aceitássemos, os trabalhadores ficavam com os princípios, mas não trabalhavam.» Se Miarafiori quer solidário que o seja com Termini Imerese, não com Pomigliano.[81]
         Os dirigentes da Fiom, amarrados como estão às acusações de ilegitimidade do referendo e à denúncia das «pressões e intimidações» feitas pela Fiat, terão de explicar como é que, apesar de tanta intimidação, 36% votam contra o acordo, valor que é superior ao dobro dos seus aderentes. Giorgio Cremaschi, dirigente da Fiom e ideólogo de Landini, em entrevista a Affari, recorre a algumas habilidades. Declara que «o plebiscito não se verificou», o que era verdade. Arredonda a percentagem do “não” para 40% e fá-la  coincidir com os operários dos turnos e com aqueles a quem as novas normas se aplicam. Proclama «a coragem de dizer não, representando um pensamento que é muito mais vasto», como se, entre os 62% que votaram “sim”, existissem muitos que desejariam votar “não”. Aconselha paternalmente a Fiat a «reflectir» e a sentar-se, de novo, à mesa das negociações.[82] Dias depois, Landini clamará, sem hesitação, que os resultados do referendo foram uma vitória da Fiom. E ainda que repita que é contra «as derrogações do contrato e das leis», volta a afirmar a sua disponibilidade «para reabrir as negociações caso a Fiat o queira».[83]
         A Fiom, já fora de horas, mostra-se mais flexível, aproximando-se das posições de Epifani e da Cgil. Landini, de resto, não quer alimentar polémicas com a sua Confederação, preferindo sublinhar agora a unidade de pontos de vista e de intenções, retomando a frase da vice-presidente da Cgil recém-eleita, Susanna Camusso: «O terço dos operários que disse não ao acordo é exactamente aquele que disse que os direitos não se cancelam.»[84] A Cgil, por razões internas, voltava a optar pela ambiguidade.


Balanço do referendo
Giuseppe Berta, em entrevista a Panorama, é crítico quanto ao modo como tinham sido conduzidas as negociações, sem que no fim tivesse havido vencedores. O afunilamento da negociação em Pomigliano em detrimento da ideia do plano industrial para Itália; a escolha dos sindicatos como únicos interlocutores, quando era conhecida a sua histórica divisão; o não ter sido claro que os 700 milhões só seriam investidos com a assinatura de todas as siglas; estes eram alguns dos erros que Marchionne teria cometido.
Quanto ao facto de Pomigliano poder constituir um precedente para todo o sistema industrial – argumento usado pela Fiom e não só –, Berta lembra que «a Itália já está cheia de acordos locais internos às empresas só que, se são feitos numa pequena ou média empresa de província, ninguém o sabe, e se, ao contrario, é feito na Fiat tudo muda.» E acrescenta: «A verdadeira anomalia está no facto de que desta vez a negociação não tenha sido olhada para mobilizar um estabelecimento nem para cortar o emprego, mas sim para aumentar a capacidade produtiva.» Quanto ao futuro da “italianidade” da Fiat, Berta é peremptório: «Nenhum. A Fiat já não é italiana. Desde o dia do nascimento da Fiat-Chrysler tornou-se uma empresa global.»[85]
Dario di Vico, no Corriere della Sera, acha que «venceu o bom senso». Apesar de o «sim» não ter atingido os valores desejados, tem muitos méritos. «O uso (que não o abuso) do referendo pode ser uma via de dirimir as controvérsias no sindicato e, mais em geral, pode representar um auxílio para os decisores.» Adverte para que, depois de se ter visto falir a industrialização estatal no Sul e de se ter constatado a debilidade das iniciativas locais, é grande o risco de «haver uma única grande company: a criminalidade organizada.» Admite que requalificar Pomigliano, torná-lo competitivo, construir relações industriais modernas na Campania faça «subir a tensão arterial». Mas acha que pode representar para o Mezzogiorno «uma bandeira, a vontade de demonstrar que a modernidade não deve forçosamente emigrar para o Norte ou para a Polónia.» Caso escolham aquela via, «o sindicato e os direitos não morrerão, terão uma segunda chance». Ao contrário, «quem partilhar a tese da “catástrofe do trabalho” não encontrará melhor do que entoar o requiem e antever novas desventuras para todos os colarinhos azuis de Itália.»[86] Aos primeiros, «responde-se que a verdadeira catástrofe do trabalho é o desemprego (e não a redução do absentismo), aos segundos, que quando o óptimo se torna inimigo do bom marca-se um auto-golo.»[87]
Para Piero Ostellino, politólogo e colunista do Corriere della Sera, o “sim” no referendo é «uma viragem histórica nas relações industriais italianas».
O facto de o “sim” ter sido de apenas 62% não diminuía a importância da votação pelo menos por duas razões.
«Porque pela primeira vez, trabalhadores desautorizaram a rigidez das tutelas do seu Estatuto – e indirectamente de quem se opusera ao referendo – em troca da garantia do posto de trabalho.» Lembra que, sendo a produtividade dos operários da Fiat em Itália inferior à dos operários polacos e brasileiros, «a ameaça de transferir o estabelecimento para a Polónia tinha um fundamento dificilmente refutável.» O facto de a Fiom, a extrema-esquerda e alguns elementos do PD não o terem compreendido significava que a sua «cultura industrial» tinha parado «há pelo menos 30 anos.» 
O êxito do referendo, ao contrário do que defendem Berta e Di Vico, criara um precedente a vários títulos. Por um lado, demonstrara que «no sindicato havia e há ainda pouca democracia», uma vez que são as cúpulas do sindicato que decidem, na presunção, «de matriz comunista», de que os operários por si só não sabem quais os seus reais interesses. Por outro, chamados a pronunciarem-se, aqueles «demonstraram saber muitíssimo bem em que consistiam os seus interesses: na defesa do posto de trabalho.» Por último, «ficam reduzidas as ocasiões de deslocalização das empresas italianas que, doravante, poderão sempre, antes de tomarem decisões nesse sentido, perguntar aos seus empregados o que disso pensam.»
A terminar, Ostellino lança um aviso a Marchionne. Diz-lhe que, se renegar quanto dissera até agora e se tomar a decisão de transferir o Panda para a Polónia, «cometeria um erro imperdoável, com consequências catastróficas do ponto de vista sindical, político e social. Desautorizaria os sindicatos que apoiaram o referendo. Daria razão, politicamente, aos extremistas, fazendo retroceder a Itália algumas décadas. Criaria uma situação social explosiva numa região, a Campania, que, além de aflita com um forte desemprego, daria à grande criminalidade (a Camorra) a oportunidade de se reforçar no território.»[88]
Pietro Ichino, no seu blogue, responde às críticas de alguns leitores. Depois de referir o seu percurso e de se assumir como intelectual, declara que «o dever do estudioso é dizer tudo o que pensa mesmo quando o faz a contracorrente; e dizê-lo sem se submeter a qualquer interesse constituído.» No caso de Pomigliano – declara – «disse e digo aquilo de que estou convencido: o motivo prejudicial aduzido pela Fiom para rejeitar o acordo é indefensável. E faço notar que aquele motivo (pretensa contradição com a Constituição da cláusula sobre taxas anormais de absentismo por doença e da cláusula de trégua) não tem nenhuma relação com a penosidade da organização do trabalho proposta pela Fiat. Por outro lado, os direitos dos trabalhadores defendem-se antes de mais combatendo os abusos.»[89]
Ichino retoma a demonstração de que nada há de anticonstitucional quer na cláusula de restrição do direito de greve quer na de aceitação de uma trégua social. «”Suicida” para um sindicato sério não é aceitar uma cláusula de trégua rigorosa e efectivamente vinculativa para todos os trabalhadores aos quais o contrato se aplica, mas antes a sua rejeição que priva o próprio sindicato da principal moeda de troca de que dispõe na mesa negocial e o expõe ao risco de ser ridicularizado por concorrentes oportunistas.»
Ichino termina invocando o livro Gomorra de Roberto Saviano, onde são descritas «as condições impressionantes em que centenas de milhar de operários clandestinos trabalham em vãos de escada e caves da periferia da cidade campana, sem verem o sindicato nem de perto nem de longe, sem doença paga, sem direito de greve, sem contribuições para a Segurança Social, com nove e 10 horas diárias e um salário de 700 ou 800 euros ao mês. São tudo “empresas” que poderiam ser imediatamente identificadas […], se não o fazemos, se o próprio sindicato não o pede com convicção, é porque tememos o pesado impacto económico-social decorrente do encerramento de todos aqueles postos de trabalho. Mas, assim fazendo, aceitamos, para além de dezenas de violações gravíssimas das leis do Estado, confiar à gestão da Camorra pedaços inteiros de sociedade civil; e aceitamos “derrogações” ao contrato colectivo nacional infinitamente mais relevantes do que aquela proposta em Pomigliano por um empresariado como a Fiat, a quem se poderá imputar dureza e feitio difícil, mas que opera à luz do dia e no respeito da lei. Há algum sentido em tudo isto? Não me parece.»[90]
Teodoro Chiarelli, jornalista económico de La Stampa, após reportagem em Pomigliano, informa que as mulheres operárias terão sido um dos responsáveis pelo elevado número de votos «não», pois temem que a nova organização do trabalho em 17 turnos seja incompatível com a vida familiar.[91]
Por sua vez, o economista Sergio Luciano, que defendera a elaboração de um «pequeno protocolo processual que a Fiom assinasse, sem perder a face», fornece informação suplementar. «Aqueles 37% dos 4.800 empregados do estabelecimento que votaram “Não” ao plano Fiat são gente que no último biénio esteve pelo menos 18 meses em “desemprego técnico”. Com uma certa satisfação, diga-se de passagem, porque embora recebendo subsídio muito modesto [700 a 800 euros], tinha tempo livre para desempenhar uma segunda actividade, ganchos em trabalho negro, quando tudo corre bem. Trabalho pouco recomendável, quando corre mal. Pequeno contrabando, comércio abusivo, em qualquer caso – por sorte quantitativamente raro – verdadeira e autêntica micro criminalidade.»[92] Haveria operários a quem o status quo convinha.
Mariano Maugeri, do Il Sole 24 Ore, enviado também a Pomigliano, dá-nos ainda outra chave de leitura dos resultados do referendo. Coloca no centro da sua análise «o conflito permanente entre os “velhos” operários de quarenta anos admitidos em 1989 (tinham sido recrutados em poucos meses outros dois mil) e 325 jovens entre 25 e 29 anos, admitidos em 2005.» Era «a ruptura geracional». «Os quarentões de 89, com três ou quatro filhos e mulheres domésticas, educados por pais, todos operários do Alfa, com o “coração vermelho” – vermelho Alfa, não vermelho Fiom – contra os de 20 anos, solteiros e sem casa a pagar “porque nisso pensa a mamã”». E continua: «É difícil explicar a dinâmica entre as gerações às cúpulas da Fiat que tinham arrancado 120 horas de trabalho extraordinário e nocturno durante os fins de semana. “15 sábados ao ano, quatro meses de week end queimados”, calcula Stefano, 26 anos, admitido após quatro anos de contrato formação e um contrato a termo. Filho de um padeiro desempregado de Marano, feudo do boss Nuvoletta [da Camorra] votou sem hesitar. Mas os seus jovens colegas que trabalham intermitentemente na linha de montagem do 159 não traíram a ordem das suas namoradas. A movida napolitana do fim-de-semana é regulada por preceitos invioláveis. A Fiom e os Cobas nada têm a ver com isso. É a geração Mediaset, criada com pãezinhos com queijo e a música das neo-melodias napolitanas.»[93]
Sergio Marchionne, ao propor o plano para Pomiglianno d’Arco e o projecto Fabbrica Italia, estava longe de querer mudar o sistema de relações industriais em Itália. A sua preocupação era tão-só garantir a governabilidade dos estabelecimentos italianos, condição de produtividade e da internacionalização da Fiat. Mas, por ironia do destino, o seu plano e as respostas que obtivera da Fiom viriam revelar quão obsoleto e anquilosado era o sistema de relações industriais, relançando a necessidade da sua modernização. O homem de indústria acabaria, involuntariamente, por se transformar num reformista.




[1] Texto originalmente publicado in Estados, Regimes e Revoluções – Estudos em Homenagem a Manuel de Lucena, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2012.
[2] V. www.republica.it, de 4-1-2010; «Marchionne inaugura i nuovi stabilimenti in Messico»,  in tg24.sky.it, de 8-2-2010; «A Kragujevac, Detroit serba. “Ci scoprì Agnelli, bentornati”», in Corriere della Sera, de 25-7-2010; Ugo Bertone, «Marchionne non fa ricatti, vuole certezze. E ha ragione.», in Info Stampa, de 12-8-2010; Giovanni Balcet, «La globalizzazione e la crise della Fiat», in www.lavoce.info, de 9-12-2002, e Alessandro Brun, «Fiat. Altro che spin off, la vera sfida di Marchionne è nelle fabbriche», Il Sussidiario.net, de 22-7-10.
[3] V. «Fiat supprimerait 5.000 postes de travail entre 2010-2014», Reuters, 24-03-2010; v. também «È pronto il piano Marchionne. La Fiat com cinco mila posti in meno», in La Repubblica, de 24-3-2010.
[4] V. www.rassegna.it, de 26-3-2010.
[5] Órgão de coordenação dos sindicatos com presença na fábrica.
[6] A Fismic resulta de uma cisão da Cisl nos anos 50. Enquanto a Cisl colocava o acento tónico no contrato nacional de trabalho, os dissidentes defendiam a prevalência do contrato de empresa.
[7] V. Salvatore Tropea, «Marchionne voleva il consenso di tutti adesso è tentato dalla soluzione polaca», in La Repubblica, de 15-6-2010.
[8] V. Reuters e  La Repubblica, de 24-03-2010, cit.
[9] V. www.rassegna.it, de 30-3-2010.
[10] V. «La “Nuova Panda” per rilanciare Pomigliano», in Rassegna, da Cgil, de 30-3-2010.
[11] V. Roberto Fuccillo, «Fiat, Sindacati, verso l’accordo si tatra sui turni e sui l’indotto», in La Repubblica, de 10-4-10.
[12] V. Roberto Fuccillo, cit.
[13] Montezemolo mantém-se presidente da Ferrari, lugar que nunca abandonou. V. Ansa e Corriere della Sera, de 20-4-2010.
[14] V.  Sobre a família Agnelli e o papel das «anciãs» na escolha de John Elkann, v. Pierre de Gasquet, La Dynastie Agnelli. Grandeur et Décadence d’une Famille Italienne, Paris, Grasset, 2005. V. ainda Jorge Almeida Fernandes, «John Elkann é o novo rosto da Fiat global», in Público, de 7-6-2010.
[15] V. Comunicado da Uilm, Ufficio Stampa», de 21-4-2010.
[16] V. «Marchionne e la “Fabbrica Italia”. La squadra dei giovanni in prima fila», in Corriere della Sera, de 22-4-2010.
[17] V. «Fiat: Sergio Marchionne e John Elkann presentano il Piano Industriale», in Corriere Informazione.it, de 21-4-2010; v. ainda Vicenzo Borgomeo, «New Deal del Gruppo Fiat. Spin off entro sei mesi», La Repubblica, de 21-4-2010.
[18] V. Maurizzio Maggi e Luca Piana, «È nata un’altra FIAT», in L’Espresso, de 22-4-2010.
[19] V. Maurizzio Maggi e Luca Piana, cit.
[20] V. Vicenzo Borgomeo, «New Deal del Gruppo Fiat. Spin off entro sei mesi», La Repubblica, de 21-4-2010.
[21] V. «Marchionne e la “Fabbrica Italia”...», cit.
[22] Idem.
[23] V. «Marchionne e la “Fabbrica Italia”…, cit.
[24] Idem.
[25] Para a autoria da concentração, v. agenda in Rassegna.it, de 19-4-10; v. ainda Eleonora Lilli, «Fiat non licenzia, ma offre lavoro in Italia», in Omni Auto, de 22-4-10.
[26] V. Blitz Quotidiano, de 22-4-2010.
[27] V. «Stabilimento Pomigliano d’Arco: la soluzione potrebbe essere il Piano Panda», in Il Levante, de 26-4-2010.
[28] V. «Fiat, sospese tratativa a Pomigliano», Rassegna.it, de 4-5-2010.
[29] V. «Fiat, ultimatum di Marchionne su Pomigliano», in www.rassegna.it, de 28-5-2010.
[30] V. «Pomigliano, John Elkann: C’è poco tempo, bisogna decidere», in La Stampa, de 31-5-2010.
[31] V. «Fiat Pomigliano: Epifani, vogliono investire o no?», www.rassegna.it, de 9-6-2010.
[32] Idem.
[33] V. «Marchionne “abbastanza” contento dell’acordo per Pomigliano, anche se la Fiom non há firmato», in Il Sole 24 Hore, 12-6-10.
[34] V. Agencia ADNKronos, de 11-6-2010; v. ainda «Pomigliano, solo un accordo separato. Firmano CISL e UIL mas la Fiom “si reserva”», in La Repubblica, cit.
[35] V. «Marchionne “abbastanza” contento…, cit.  
[36] V. «Pomigliano, solo un accordo separato…, cit. 
[37] V. Agencia ADNKronos, cit., de 11-6-2010 e «Pomigliano, solo un accordo separato…, cit.
[38] De notar que os 18 turnos, ao contrário do que a Fiom alegara, não só constavam do contrato nacional, como era aplicado de há muito em diversas fábricas, sem que os sindicatos tivessem levantado objecções. 
[39] V. Ufficio Sindacale Nazionale da Fim/Cisl, «L’Accordo di Pomigliano: una analisi dei contenuti», de 28-6-2010.
[40] V. «Marchionne “abbastanza” contento…, cit.  V. ainda «A Pomigliano in baloo 5 mila personne», in La Stampa, de 12-6-2010.
[41] V. «A Pomigliano in baloo ..., cit.
[42] V. «Marchionne “abbastanza” contento…, cit. e  «A Pomigliano in baloo…, cit.
[43] Decreto-Lei n-º 66, de 8 de Abril de 2003, que prevê que entre um turno e outro devam decorrer 11 horas.
[44] Trata-se do não pagamento da retribuição dos três primeiros dias de baixa, quando «se verifiquem taxas anormais de ausência ao  trabalho  “em ocasiões de particulares acontecimentos não reconduzíveis a formas epidemiológicas”, como por ocasião da transmissão televisiva de jogos ou por ocasião de proclamação de greves.»
[45] V. Info.auto.org (ligada à Fiom), de 13-6-2010.
[46] Mais tarde,  Giovanni Balcet, professor de Economia da Universidade de Turim, porá em causa a tese de Gallino relativa à «sobreprodução», tese que decorria do eurocentrismo de Gallino. Balcet lembra que o mercado chinês, o maior do mundo com 13, 5 milhões de veículos vendidos em 2009, está a crescer a ritmos vertiginosos e que a oferta não consegue adequar-se ao boom da procura. Lembra ainda que, na indústria automóvel, a incidência do custo do trabalho nos custos totais ronda apenas os 7%.  V. Giovanni Balcet, «Quella globalizzazione che passa da Pomigliano», in www.lavoce.info, de 8-7-2010.
[47] V. Luciano Gallino, «L’Operaio Globalizzato», in La Repubblica, de 14-6-2010.
[48] V. «Pomigliano: constituzionalisti, leso diritto sciopero», in Rassegna.it, de 15-6-2010.
[49] Idem.
[50] V. Gianfrancesco Turano, «Capotosti: “Il referendum è inutile”», in L’ Espresso, de La Repubblica, de 17-6-2010.
[51] V. Luigina Venturelli, «Passagio storico il contrato nazionale messo sotto scacco», in L’Unità, de  13-6-2010.
[52] V. Dario di Vico, «Pomigliano e le deroghe ai Contratti. Il lavoro da salvare.», in Corriere della Sera, de 13-6-2010.
[53] V. Pietro Ichino, «L’accordo possibile per lo stabilimento è un messaggio per gli investitori esteri», in Corriere della Sera, de 14-6-2010.
[54] V. ANSA, de 15-6-2010.
[55] Para Tito Boeri, «a solução seria haver uma lei pela qual os trabalhadores pudessem decidir a priori os seus representantes e conferir-lhes o poder de subscrever um acordo em nome de todos. […] Se depois os trabalhadores não estivessem satisfeitos com o seu representante negocial podê-lo-iam mudar.» Quanto ao absentismo, preferia que tivesse sido resolvido aumentando os incentivos à produtividade. V. Federica Bianchi, «La soluzione? Più incentivi», L’ Espresso, de 16-6-2010.
[56] V.  Gianni Pardo, «Perché la Fiom di no», in Il Legno Storto, de 15-6-2010.
[57] Nestes 15.000, estão incluídos os trabalhadores do Indotto.
[58] V. Roberto Giovanni, «Epifani a Landini “Non possiamo far saltare tutto”», in  La Stampa, de 15-6-2010.
[59] V. ilmegafonoquotidiano.it, de 1-7-2010, que retoma o artigo de Salvatore Cannavò «La prima vittoria di Landini», publicado em Il Fatto quotidiano.
[60] V. Roberto Giovanni, «Epifani a Landini “Non possiamo far saltare tutto”», cit.
[61] Idem.
[62] V. Roberto Giovanni, «Epifani a Landini “Non possiamo far saltare tutto”», cit.
[63] V. «A Pomigliano accordo fatto (senza Fiom)», in Dal Riformista, de 16-6-2010.
[64] V. «Dalla CGIL sì com riserva al referendum?», in Il Sole 24 Hore, de 16-6-2010.
[65] V. «A Pomigliano accordo fatto (senza Fiom)»,  cit.
[66] Idem.
[67] Mirafiori tinha 10.700 trabalhadores, sendo 5.400 das linhas de montagem. V. «Marcegaglia: “Non posso credere che il sindacato abbia risposto no”», in La Repubblica, de 16-6-2010.
[68] V. «Pomigliano: Fiom raccolta firme e scioperi in altri stabilimenti», in Rassegna.it, de 17-6-2010.
[69] V. Giorgio Pogliotti, «La Fiom su Pomigliano si divide anche dalla Cgil», in Il Sole 24 Hore, de 17-6-2010.
[70] V. Giorgio Pogliotti, «La Fiom su Pomigliano si divide…, cit.
[71] Idem.
[72] Idem.
[73] V. Salvatore Tropea, «Marchionne voleva il consenso di tutti...», cit.
[74] O primeiro seria «fazer saltar tudo», considerado difícil porque a Fiat tinha de ficar em Pomigliano, «histórica localização industrial no Mezzogiorno». O segundo seria a Fiat sair da organização napolitana da Confindustria e subtrair-se às normas contratuais e às relações sindicais, o que implicaria entrar em conflito com a presidente da Confindustria Emma Marcegaglia.  
[75] V. Marco Ferrante, «Le mosse della Fiat per vincere a Pomigliano (spunta anche una newco)», in Il Riformista, de 17-6-2010.
[76]V. «Fiat Pomigliano: Masini (Fiom), referendum illegitimo», in Rassegna.it, de 21-6-2010.
[77] V. Titti Beneduce, «PomigliaSì», in  Il Riformista, de 22-6-2010.
[78] V. «Fiat Pomigliano, domani il referendum», in Rassegna.it, de 21-6-2010.
[79] V. Amalia Angotti, «E Marchionne già pensa al “piano B”», Gazzetta del Sud, 23-6-2010.
[80] V. «Referendum di Pomigliano, vincono i sì ma non c’è il plebiscito: i contraria l 36%», in Corriere Della Sera, de 23-6-2010.
[81] V. Antonio Segnorini, «La Cgil vuole azzerare l’accordo ma Fiat, Cisl e Uil vanno avanti», in Il Giornale.it, de 24-6-2010.
[82] V.  «Non firmiano un bel niente, si riapra la trattativa», in Affaritaliani.it, de 23-6-2010.
[83] V. ilmegafonoquotidiano.it, de 15-6-2010, que retoma o artigo de Salvatore Cannavò «La prima vittoria di Landini», publicado em Il Fatto quotidiano.
[84] V. ilmegafonoquotidiano.it, de 15-6-2010, que retoma o artigo de Salvatore Cannavò…, cit.
[85] V. «Lo storico della Fiat: “Marchionne, quanti errori!”, in Panorama.it, de 23-6-2010 .
[86] «Quem quiser fazer deste conflito um modelo para estender o tapete, prometendo “pomiglianizar” o Norte, corre o risco de minar a coesão social num momento em que as empresas têm de começar a retoma e bater-se de faca nos dentes nos mercados emergentes.»
[87] V. Dario Di Vico, «Il primo passo», in C orriere Della Sera, de 23-6-2010.
[88] V. Piero Ostellino, «Svolta nelle relazioni industriali», in Corriere del Ticino, de 24-6-2010.
[89] «Uma disposição que, “cirurgicamente”, impeça este abuso parece-me o modo melhor de defender a protecção geral dos trabalhadores que adoecem.»
[90] V. www.pietroichino.it, de 24-6-2010.
[91] V. Teodoro Chiarelli, «Pomigliano, quelli che hanno votato no», in La Stampa, de 24-7-2010
[92] V. Sergio Luciano, «La Fiom e Marchionne “condannati” ad accordarsi per colpa de Pomigliano», in Suissidario, de 7-7-2010.
[93] V. Mariano Maugeri, «Strappo generazionale dietro il voto», in Il Sole 24 Ore, de 24-6-2010.




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