sábado, 23 de novembro de 2019

Toulouse-Lautrec em Lisboa.

 
 
É pouco conhecida a passagem do pintor Henri Toulouse-Lautrec (1864-1901) por Lisboa.
Mas a actual exposição consagrada ao pintor que decorre no Grand Palais em Paris permite desvendar pelo menos as circunstâncias que rodearam essa passagem.
Em Agosto de 1895, o célebre pintor embarca no porto do Havre no navio de carga e de passageiros Le Chili. O destino era Bordéus, seu local habitual de férias, o que mostra que, tal como em Portugal, neste final do século XIX, era usual a viagem marítima entre cidades costeiras. Depois de Bordéus o navio aportaria a Lisboa e a Dakar. Fazia parte da linha de África.
Acompanhava-o um amigo, Maurice Guibert (1856-1913), fotógrafo.
Na viagem para Bordéus, Toulouse-Lautrec sucumbe ao charme de uma passageira que vislumbra na ponte do navio. O seu biógrafo Gustave Coquiot escreve que Toulouse contempla-a, exalta-se. É sem dúvida a mulher de um funcionário colonial francês que se junta ao marido em Saint-Louis. E decide: partimos para África!
Ficou tão fascinado pela sua beleza que não desembarca em Bordéus e só a muito custo Maurice consegue convencê-lo a desembarcar em Lisboa.
Do regresso, apenas se sabe que passou por Toledo e Madrid onde se apaixonou pelas obras de Greco e Velásquez.
A passageira do 54, número da cabine da misteriosa senhora, viria a inspirar um dos seus cartazes mais famosos, apresentado num concurso de cartazes no Salon des Cent.
 
 
Neste cartaz, Toulouse retrata a passageira sentada numa cadeira de bordo, no deck do navio, um cobertor cobrindo os seus joelhos. Tem um livro abandonado que marca com os dedos da mão direita e lê os seus próprios pensamentos num horizonte longínquo.
É um dos poucos afloramentos românticos da sua obra. A passageira do 54 representava o amor romântico de que Toulouse se sentia excluído.
 
Fotografia de 6 de Novembro de 2019
 
José Liberato
 
 
 

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