domingo, 29 de julho de 2012

Verão Quente (2ª parte).

-.
.
.

Domingos Amaral














# – BBC Vida Selvagem – No reino dos machos-alfa



Como vimos, em Verão Quente há mamas, muitas. Quentes e boas. E, naturalmente, homens em busca delas. As personagens masculinas de Domingos Amaral identificam-se na perfeição com o público-alvo das revistas que o autor dirigiu, a Maxmen e a GQ. Os homens falam de automóveis topo de gama, de clubes de futebol e, acima de tudo, de mulheres. O narrador e o seu rival, Tomás, ao começarem a conversar no bar do hotel, encontram em breves minutos um primeiro “laço de cumplicidade”, a saber: “uma paixão comum pela Ferrari”. Daí passam sem-cerimónia ao futebol: “debatemos Mourinho, a vitória do FC Porto na Taça UEFA, dias antes”. Estava criada uma amizade para a vida: “pouco a pouco, um homem desagradável humaniza-se e a sensação de antipatia que nutro por ele começa a desvanecer-se” (p. 86). Descobrem outro interesse comum, o surf. “Descrevemos façanhas mútuas, viagens aos mesmos destinos, como o Havai e a Costa Rica. Ao fim de vinte minutos, parecemos velhos amigos, rimos juntos, confessamos segredos de machos”. É fácil uma camaradagem forjada assim, entre a paixão pela Ferrari, um “debate” sobre Mourinho e a partilha de experiências surfistas em países exóticos. Verão Quente, de resto, é um país exótico. Tememos, todavia, que esse país, no seu exotismo, possua alguma correspondência com o Portugal dos nossos dias. É num mundo assim, povoado de machos famintos e fêmeas comestíveis, que Domingos Amaral quer educar e ver crescer a sua filha Leonor, a quem dedica este romance? Vale tudo? Obviamente, não vamos ao extremo de dizer que Domingos Amaral prostituiu o seu talento, pela simples razão de que o não tem. Tudo se confina à pobre tristeza do porno-light.


Aliás – e isto demonstra que Domingos Amaral não está a querer retratar uma realidade a que não pertence –, já noutras obras fizera a apologia macho das amizades viris. Em Enquanto Salazar dormia… Memórias de um espião em Lisboa (2006), um avô diz para o neto: “Entre homens, a amizade é uma força tranquila, e uma fonte de energia. Os homens riem-se muito quando estão juntos, contam piadas, fazem troça uns dos outros, e esses são momentos insubstituíveis” (pp. 440-441). E, noutro momento de antologia, o avôzinho filosofa: “Sabes, Paul, quando parte uma mulher que amamos, foge-nos uma parte do nosso coração. Mas, quando parte um amigo, é uma parte da alma que se vai embora com ele” (p. 440).


Em Verão Quente, a vida é simples. Básica, mesmo. Este é o planeta dos homens, a galáxia Maxmen. Acima de tudo, os homens gostam de falar de mulheres ou, melhor, de gajas. As gajas ocupam uma posição de relevo na cadeia alimentar de Verão Quente, sendo uma peça muito importante na dieta dos “machos alfas” (“o macho alfa que já picou a fêmea” – p. 103; “o meu amigo sempre foi o macho alfa da turma” – p. 123; “de novo o macho alfa que sempre foi, capaz de cobrir todas as galinhas da capoeira” – p. 234). Quanto às mulheres, é sua função, como fêmeas dos machos alfa, serem “comidas”. Comidas para gozo dos machos: “Quando estamos com uma mulher, excitados, mais nada existe a não sermos nós, no momento mais importante da nossa vida de machos”, diz o narrador (p. 218, itálico acrescentado).


Verão Quente é um livro que começa com uma dedicatória “à minha querida filha Leonor” e termina 319 páginas depois com uma frase penetrante, que vai fundo: “Quando um homem está dentro de uma mulher, esquece tudo…”. E, noutra passagem do livro, o par sexualidade/amnésia é igualmente convocado: “Foda-se, é verdade. Um homem quando está dentro de uma mulher diz tudo, esquece tudo” (p. 238).


Ao concluirmos a leitura das 319 páginas desta obra, ficamos com a sensação de que Verão Quente deve ter sido todo escrito dentro de uma mulher. Na verdade, à semelhança do narrador, Domingos Amaral esqueceu-se de tudo. Provavelmente, até se esqueceu de que estava a escrever um livro. E, no entanto, fê-lo. E, mais do que isso, fê-lo – ou fá-lo – e publica-o. Com a chancela da Casa das Letras, que é uma marca da Oficina do Livro – Sociedade Editorial, Lda., que por sua vez é uma empresa do grupo LeYa.



------ # – No Hotel do Chiado



Agora, sem falsos moralismos (até porque a questão é muito mais de ordem pública do que ética privada), cremos ser o momento de chamar a atenção da sociedade comercial detentora do Hotel do Chiado, apresentado no respectivo site como um “Hotel de Encanto”. Trata-se de um estabelecimento de 4 estrelas (e um cometa), que dispõe de 39 quartos, incluindo duas suítes e seis categorias de quartos: o Classic Single, o Classic Duplo, o Superior Single, o Superior Duplo, o Premium Single, o Premium Duplo e a Suíte Junior. O hotel dispõe ainda da Suíte Garrett e de 13 magníficos quartos de diferentes dimensões, os Premium DBL.


        Uma das cenas de Verão Quente passa-se no Hotel do Chiado, em quarto de modelo não especificado. Na página 243, o narrador sente um ratinho no estômago. Já passava das duas da tarde, apetecia-lhe comer qualquer coisa. Talvez umas febras de porco ou uma cabeça de garoupa; e, para sobremesa, uma personagem feminina de Domingos Amaral.


Julieta, ex-presidiária e ex-cega, sugere então que se desloquem ao Hotel do Chiado, onde existe uma pequena esplanada coberta, no terraço. Durante o almoço, as pernas tocam-se. Ambos sentem “o desejo crescer”. Vai daí, com a libido em crescendo, alugam um quarto. Pensamos tratar-se de um dos 16 Superior Single, com tarifas a partir de € 155,00, dotados de acesso à internet sem fios, serviço de despertar, serviço de room service, minibar, secador, televisão, ar condicionado, limpeza de quartos diária, chinelos e roupão, cofre, chaves electrónicas, ferro, tábua de engomar, canais TV premium.


Os protagonistas não utilizam, porém, as muitas comodidades que o Hotel do Chiado coloca ao dispor dos seus fregueses. Televisão, ar condicionado, chinelos e roupão? Ná. O que se passou, então? A palavra ao autor: “Ela monta-me, quer ficar por cima, fode-me com vivacidade e ritmo, vem-se duas vezes, grita muito”. À atenção da gerência. Depois, ficam ambos a conversar “banalidades” e a brincar “com o corpo um do outro”, até que Julieta solicita: “Quero mais, na boca”. O narrador corresponde, sem falhas. Então, ela “deita-se, coloca a cabeça na almofada, e eu desço sobre ela e fodo-a na boca, com força, num vaivém permanente, enquanto ela me segura no rabo, até me vir”. Deixam passar mais um tempo, conversam e riem. Julieta requer de novo a atenção do narrador, e este também já sentia uma “energia imensa” dentro de si. A antiga invisual “diz que quer ser possuída de novo e dobra-se para a frente, os joelhos e as mãos na cama, ergue o rabo para mim. Penetro-a por trás, à cão, com força, com ritmo, cavalgo-a sem parar até ela gritar de novo, várias vezes, e eu me vir pela terceira vez”.


        Aqui ficam os contactos do Hotel do Chiado. Telefone principal – +351213256100. Fax principal – +351213256161. Reservas – +351213256100; Grupos – +351213256100; Email geral – reservations.chiado@hoteldochiado.pt No entanto, se ouvirem gritos na suíte ao lado, não estranhem: o que ali ocorre não é sexo nem violência doméstica. Trata-se, tão-só, de uma cena concebida pela pena de Domingos Amaral. Nada mais. De igual modo, se ouvirem latidos no andar de baixo fiquem cientes de que tais ruídos tanto podem significar que a família Guedes sempre trouxe o Tejo a ver Lisboa como podem querer dizer que Julieta Silva Arca está a ser cavalgada “à cão” pelo narrador do último livro de Domingos Amaral.
.
.
        # – Verão Quente, uma lição de História
.
Para a História da Literatura Portuguesa, Verão Quente ficará registado como uma obra que impugna e dilui as fronteiras entre géneros clássicos: o romance histórico, a narrativa policial e a novela pornográfica. No final desta ménage à trois, todos ficam a perder. 


Enquanto retrato do PREC, a narrativa assume-se como uma “metáfora sobre a irracionalidade que assola Portugal em 1975” (p. 11). A dado passo, Julieta assume-se como uma “metáfora dos tempos” (p. 282). E, já agora, conviria que Verão Quente se assumisse também: não como um livro, mas como uma metáfora de um livro.


Além de metáforas, o livro também oferece contactos visuais, muitos. Com o patrocínio do Oculista das Avenidas, o narrador estabelece “contacto visual” com Redonda (p. 66), depois mantém “contacto visual” com Raul (p. 229) e, mais adiante, faz novo “contacto visual” com Redonda (p. 285). Este último contacto visual produz estranhos efeitos cardiovasculares no narrador, já que, repentinamente, o “coração acelera”. Trata-se de um fenómeno que ocorre amiúde na obra literária de Domingos Amaral. A título de exemplo, basta recordarmos que, em Enquanto Salazar dormia…, Jack e Michael também fazem “contacto visual” na página 353. E isto sem nenhum deles ter mamas de jeito, note-se.


No início, adverte-se: “nesta história não há só enredo, há também contexto”. Há contexto e há asneiras, muitas. Assim, por exemplo, diz-se que Setúbal era uma “cidade comunista” em 1975, sendo até o seu prelado apelidado de “bispo vermelho” (“Setúbal era uma cidade comunista, até o bispo era conhecido como o ‘bispo vermelho’” – p. 110). O Senhor Dom Manuel da Silva Martins deu entrada na diocese em 16 de Julho de 1975 e o epíteto de “bispo vermelho” é muito posterior a essa data. Estranho seria, aliás, que a Igreja designasse um “bispo vermelho” para uma terra dominada pelo Partido Comunista Português. O seu principal biógrafo recorda "a inegável e visível má vontade com que a sua nomeação fora acolhida pelas forças da esquerda" e lembra que, na cerimónia que assinalou a sua entrada na diocese, se registou uma aglomeração de forças hostis a D. Manuel da Silva Martins, que só muito mais tarde será conotado com uma visão próxima da "esquerda" (cf. António de Sousa Duarte, D. Manuel Martins. O Bispo de Todos, Lisboa, 2009, pp. 84ss, p. 89 e pp. 109ss). 


Noutro trecho, afirma-se que, após o 25 de Abril, o PPD “herda as sedes da União Nacional” (p. 110). A primeira sede nacional do PPD, em Lisboa, aberta em 14 de Maio de 1974, pertencera à Legião Portuguesa e o partido ocupá-la-á até Julho desse ano. Em Outubro, o PPD já tinha cerca de 100 sedes espalhadas pelo país (cf. Marcelo Rebelo de Sousa, A Revolução e o Nascimento do PPD, 1º vol., Lisboa, 2000, pp. 57, 76 e 230ss). Estamos em crer que não pertenciam à União Nacional. Pelo menos, a sede nacional, na Travessa do Guarda-Mor, nº 25, tinha pertencido, isso sim, à Legião Portuguesa.


Ficamos igualmente a saber que, em 1975, para quem estava na Arrábida, distrito de Setúbal, era “difícil ir e voltar a Lisboa no mesmo dia” (p. 13). Se fosse a pé ou de joelhos, não duvidamos. Mas o autor refere-se a uma deslocação de automóvel: no máximo, 40 quilómetros para lá, 40 para cá. Era difícil fazê-lo no Portugal de 1975? Se as estradas portuguesas da altura não permitiam fazer 80 quilómetros num dia, chegar a Chaves de automóvel, partindo de Silves, deveria demorar quanto: uma semanita, talvez?


Por duas vezes no livro se fala num sequestro à Assembleia da República, órgão que ainda não existia. O sequestro visou, isso sim, a Assembleia Constituinte. O pai do narrador foi deputado à Assembleia Constituinte, eleito pelo círculo de Lisboa, e descreve o cerco ao Palácio São Bento nas pp. 456-459 do seu livro O Antigo Regime e a Revolução (1995). Nestas coisas, lamenta-se que o autor não tenha dado a ler o manuscrito a quem sabe, com saber de experiência feito.


Quanto à revolução portuguesa de 1974-75, é descrita como um “vácuo permissivo” (p. 11) em que havia uma “psicose golpista ao rubro” (p. 135). Portugal era um “país em balbúrdia” (p. 162), em que a “tropa era idolatrizada” (p. 133). Um “turbilhão” (p. 251), um “contexto irracional” (p. 251), uma “orgia revolucionária” (p. 274). O 25 de Abril provoca uma “colossal balbúrdia íntima no coração das pessoas”, que Verão Quente, sendo também uma colossal balbúrdia, retrata com fidedignidade.

# – Estilo e personagens, o estilo das personagens


Estilisticamente, Verão Quente é um livro algo problemático. Os seus problemas começam logo à nascença, na primeira e arrebatadora frase: “Julieta é cega, mas vinte e oito anos depois volta a ver” (p. 9). A Língua Portuguesa, mesmo após o Novo Acordo, afigura-se complicada: se Julieta é cega, no presente do indicativo, como poderá ver daqui a 28 anos? Julieta era cega, talvez? E, se era cega, vinte e oito anos depois voltou a ver, certo?


Quanto à construção das personagens, o autor concede nítida prevalência aos aspectos físicos e antropomórficos. Redonda é descrita como “uma obra de arte”, “docinho”, “maravilha”, “um animal fantástico”, “magnífica e bela sereia”, “um ser favorecido pelos deuses”, “de cortar a respiração” ou até, na versão Toys “R” Us, como “uma boneca falante, linda e adorável”. Psicologicamente, Redonda tem um “carácter volúvel”, “domina com perícia as regras da sedução animal”, é “esperta que nem um alho”. É uma “cabrita”, em suma, o que de imediato nos faz recordar um edificante diálogo do narrador de Enquanto Salazar dormia… com uma das muitas mulheres que com ele se cruzam na Lisboa dos anos 40: “– Mary, já me tinham dito que eras uma cabra” (p. 42). “– Vira-te, cabrita.”, é uma expressão igualmente usada numa cena íntima de Enquanto Salazar dormia… (p. 301).


Em Verão Quente, Redonda era “marota mas sem se render à primeira” ou, noutra interpretação, “brincalhona e marota, assanhada apesar de no último minuto contida”. Porquê tal contenção ao minuto derradeiro? A razão, singela e compreensível, é fornecida em jeito de pergunta na página 59: “as meninas de boas famílias não devem foder com desconhecidos, não é verdade?”. É verdade, sim senhor. E ousamos mesmo aconselhar, sem hipocrisias nem igualitarismos, que as meninas de outros estractos sociais também evitem, por princípio, manter relações de comércio carnal com indivíduos desconhecidos. Da morena Soraia, pese o facto de ser uma “massagista campónia”, não deveria o narrador poder dizer que “rondou tangencialmente os meus testículos!”.


A mãe Julieta, apesar de ser cega e se movimentar apoiada numa bengala, vestindo Armani, é “uma mulher bonita e bem desenhada”. Em síntese, “a cegueira não lhe atrofiou o corpo”. Desconhecíamos que a cegueira tivesse esse efeito secundário de atrofiamento dos músculos e dos tecidos humanos, mas confiamos na expertise clínica de Domingos Amaral. Ambas, mãe e filha, eram “personagens solares” e, como tal, exigiam “ser o centro das atenções” do narrador.


A linguagem utilizada por Julieta e por Redonda não parece enquadrar-se muito no estrato social a que pertencem. Julieta, é certo, trata a filha por “menina” e só raramente utiliza o “tu” quando se dirige a Redonda. O patriarca da família Silva Arca, Dom Rodrigo, era um novo-rico, “parolo”, mas as filhas, Julieta e Madalena, tiveram uma educação “nos melhores colégios” (p. 109). Estranha-se, por isso, que, pouco tempo depois de o conhecer, já Julieta confessasse ao narrador que a sua irmã Madalena tinha um propósito de vida: “quanto mais ‘comesse’ melhor” (p. 49). Em diálogo com a mãe, Redonda afirma tranquilamente que Madalena e Raul “andavam enrolados” (p. 49). E Julieta descreve a ruptura conjugal com o marido, Miguel, que, ao saber das suas muitas infidelidades: “fechei-lhe o coração […]. E também fechei as pernas. Nunca mais deixei que me tocasse” (p. 127; expressão repetida a p. 221). Quanto ao casamento da filha com Paulo, “foi chão que já deu uvas” (p. 129). “Qual carapuça!”, “o tanas!”, “sou teimosa como uma mula” ou “topo-a a léguas” são algumas das expressões que esta senhora da alta burguesia, educada nos melhores colégios”, com casa em Cascais e mansão na Arrábida, utiliza logo na primeira conversa que mantém com o narrador. Ao jantar, pouco depois, diz à filha: “já vi o sol aos quadradinhos dezasseis anos, a menina não se esqueça disso”, usando ainda palavras como “balázios” e “gandulos”. Depois deste jantar, Julieta sobe ao quarto, amparada pela filha. Redonda regressa ao bar, onde tocava ao fundo um jazz suave, e conversa com o narrador sobre a sua vida conjugal com Tomás. O narrador fica com a impressão de que Redonda era “um animal preso à corrente”, mas ainda assim com uma vida sexual bastante activa: “passamos a vida a foder, que é que tu julgas, que sou alguma freira ou que o meu marido é paneleiro?” (p. 56). No decurso do edificante diálogo, “a conversa toma um rumo trepidante e sexual”. “Sob o feitiço de Redonda”, o macho anima-se. E fantasia: “é já hoje que a vou cavalgar!”. A coisas corriam bem e já estavam as “almas a comunicar”, até que um telefonema do marido, Tomás, “controlador” e “má pessoa”, provoca um adiamento inesperado no exercício de equitação. “Desculpa, não posso…”, diz Redonda ao narrador. Este, desolado, vai para o quarto e, a meio da noite, pensa masturbar-se. O seu “interesse imediato”, confessa, era “saltar para a cueca” a Redonda, mas esta adia, procrastina. A mãe indigna-se com o pudor da filha, evocando o exemplo de sua tia: “Gostava de sexo e não se punha com patetices ou convenções morais. Era pão, pão, queijo, queijo”. “Ó homem, não se abespinhe”, diz Julieta para o genro, na página 94. “Cabrão”, usa Julieta na página 70. Define a irmã como “uma videirinha” (p. 125) e refere que a filha lhe confidenciou que Tomás era “mau na cama” (p. 145). Tomás, por sua vez, alega que Julieta o “tomou de ponta”, depois de o ter tentado seduzir, “nas barbas da Redonda”. Há, pois, uma questão de ponta, uma mulher linda mas com barbas e uma tentativa de sedução da sogra relativamente ao genro. Tudo em quatro linhas da página 153. Nas faculdades de Letras, chama-se a isto “densidade narrativa”. Era assim que Proust escrevia os seus guiões de telenovelas mexicanas.


O narrador reconhece, a dado passo, uma diferença geracional de vulto: Julieta “não foi educada, como nós, a falar de sexo como se fosse comida” (p. 97). Não é verdade. Julieta fala de sexo como se fosse comida. Basta ir à página 1 48 deste livro, onde a senhora, em diálogo com a filha, duvida que o genro fosse bom “a enfiar a salsicha”.


O linguajar de caserna de Dona Julieta Silva Arca não quadra muito bem com a classe social a que pertence. Mas sejamos tolerantes: Julieta, coitadita, vivia “uma carência antiga”. Em direitas contas, era “como se a sua sexualidade estivesse a despertar, de um sono profundo, depois de trinta anos de seca”. Entre o sono e a seca, o problema era sexo. Ou a falta dele. “Há tanto tempo que não sei o que é isso. Há mais de trinta anos”, lamenta-se ao narrador, antes de esboçar “um sorriso maroto”. A televisão, mãe de tantos vícios, despertara nela um renovado interesse pela malandrice: “Tenho visto filmes na televisão, estou curiosa”, refere Julieta a páginas 145. E acrescenta: “No meu tempo, não havia filmes destes. Tenho aprendido muito, tantas posições novas”. Enquanto estivera casada, o marido, o reaccionário Miguel, só praticava com ela a posição “do costume”; “nunca me levava a outros lugares”, lamenta-se Julieta, certamente desejosa de ir às Cataratas do Iguaçu. Se tanto aprendia nos filmes que agora podia ver, estranha-se que na página 171 se afirme que a pobre senhora “não aguenta um país com mais de sessenta canais de televisão, quando ela só tinha um, a RTP”. Uma mulher contraditória, como se vê. Ou, talvez melhor, uma personagem construída com os pés por Domingos Amaral.


É um pouco incongruente, de facto, que Julieta seja retratada como conservadora e antiquada e, em simultâneo, diga tranquilamente à filha, na presença do narrador: “O teu amigo estava a ensinar-me umas coisas […]. Não fazia ideia de que as mulheres têm orgasmos mais fortes quando ficam por cima!” E, depois, numa confissão íntima: “O teu pai nunca me deixava ficar por cima” (p. 147).


O marido de Julieta, Miguel, era, de facto, um homem indiferente ao prazer da sua esposa. Do casamento nasce uma filha, Redonda, que vê a luz, como a liberdade, no dia inicial inteiro e limpo,  25 de Abril de 1974. “O Miguel odiou”, confessa Julieta. E como era a vida íntima do casal, perguntais vós? A palavra a quem sabe: “Nos primeiros tempos do casamento, [Julieta] não sente prazer especial. O sexo parece-lhe uma atitude desconfortável, que não a entusiasma. […] a presença do marido oprime-a, tolhe-a e o seu universo e o seu universo sexual resume-se à posição habitual dos casais tímidos, a de missionário”. Atentem neste modo de expor as coisas. Por um lado, o sexo é descrito como uma “atitude”, ademais “desconfortável”. Por outro, Julieta sente-se oprimida e tolhida pela “presença do marido” – se o marido não estivesse presente, havia sexo como? Não interessa, adiante. O ponto é que “Miguel não incentiva novidades, antes pelo contrário”. Mas andava “enrolado com a serigaita da fábrica”… Com a revolução à mistura, foi o descalabro. Um descalabro descrito de duas formas, ambas na mesma página. Uma, mais secularista, diz que foi “como se a Terra começasse a dar voltas mais rápidas sobre si própria”. Outra, mais transcendental, refere que é “como se Deus tivesse acelerado a nossa vida brutalmente”. Em ambos os casos, houve aceleração. É isso que interessa à dinâmica da narrativa, até porque o livro tem um problemazito de ritmo: empastela nas primeiras duzentas e tantas páginas (as primeiras cem páginas são passadas no hotel termal de Coimbra!) e ao fim avança a galope, a toda a brida, num completo desconchavo.


Interessa também salientar que Miguel, o ultraconservador desta opereta, usa expressões algo impróprias das suas origens e do seu meio social. Assim, quando confrontado com o facto de trair a mulher, diz que não é o único daquela família distinta a “mijar fora do penico”. Bonito, não? 


Julieta é das personagens mais interessantes desta novela. Ao recuperar a visão, após décadas nas trevas, espanta-se com o mundo que a circunda. Em especial, “com a dimensão do Colombo” (é que sempre são 400.000 m2 e 6.800 lugares de estacionamento…). O seu primeiro desejo é proceder a uma operação bancária num ATM: “estou morta por usar uma caixa multibanco. Nunca imaginei que se pudesse ir buscar dinheiro a uma janelinha no meio da rua” (p. 107). É um desejo estranho, no mínimo singular. Enquanto esteve cega, Julieta usava telemóvel (p. 13). Não se percebe o motivo pelo qual nunca utilizara uma caixa multibanco, tanto mais que as teclas destas possuem o código Braille, estando pois aptas a serem usadas por invisuais. Coisas.

   Tomás, marido de Redonda e bombo da festa de Verão Quente, é descrito pela mulher como “um ser angustiado”. Enquadrava-se mais, ao que parece, no tipo “pobre diabo aflito” do que no de “garanhão castrador”. Mas, para um “ser angustiado”, Tomás revela-se, todavia, bastante desembaraçado. Mal entra na narrativa, surpreende o narrador. Redonda descrevera o marido como “inseguro, controlador”, o que fez aquele pensar que Tomás seria “um homem feio e baixo”. Mas não. Com um metro e oitenta e cinco, “encorpado e bem-parecido”, era loiro e possuía olhos azuis, tudo embrulhado num “corpo atlético”. E entra na novela a pés juntos, de carrinho, avisando o pobre narrador: “não gosto de homens a rondarem a minha mulher”. A que se segue uma cavalheiresca directiva a Redonda, visando subirem ao quarto: “Vá lá, Ré-Ré, temos de ir fazer bebés”. Como Ré-Ré se atrasasse na fabricação dos bebés, Tomás volta à carga: “Está na hora de irmos pedalar, não é? O meu quarto é lá em cima, no primeiro andar, tem uma cama enorme, dá para tudo”. Virando-se para o narrador cabisbaixo e derrotado, Tomás proclama, então: “A melhor maneira de as manter casadas é fazer-lhes filhos”. Perante esta alarvidade toda, o narrador, alma sensível, perde o apetite. Na página 70, antes da aparição de Tomás, tinha “desejo de comer” Redonda. Agora, mantendo esse desejo gastronómico, afasta todavia a hipótese romântica da entrega total: “será bom comê-la, mas amá-la será um perigo” (p. 90).

Outra personagem curiosa, pela sua densidade psicológica, é Bernardo Souto, “filho de boas famílias nortenhas, com casa na Foz e quinta em Viana”. À porta de sua casa, tem um BMW X5 (seja lá isso o que for) e, em regra, acorda ao meio-dia. Bernardo Souto, de alcunha “Bebé”. Na página 183, somos informados que “Bebé é católico, para ele o casamento é para a vida e o divórcio um mal, tal como a Igreja defende”. Estranha-se, pois, que, de acordo com a descrição feita na página 178, Bebé seja divorciado por duas vezes, tendo dois filhos do primeiro casamento e um do segundo. Além de três filhos, Bebé tem dois olhos. Olhos verdes “que devem ter feito as delícias das meninas da Foz durante décadas”. Simplesmente, “a ociosidade em que sempre viveu estragou-lhe a pele e a elasticidade muscular”. Passado este interlúdio Arbeit macht Frei, Bebé revela detalhes fundamentais: conhece Madalena em Moledo, numa noite de 1968, e, nessa mesma ocasião, é ela “quem o convenceu a ir para as dunas, é ela quem comanda, quem lhe despe as calças e tira as cuecas, para ele a desflorar”. “Três vezes”, recorda Bebé, “ainda com um sorriso”. Foi, pois, Dª Madalena Silva Arca desflorada três vezes numa noite, nos húmidos areais de Moledo, praia de pinhais e brumas. Porque se separaram depois? A resposta é uma sigla: CDS (“o motivo da zanga é o CDS”). Bebé era um fervoroso adepto dessa força partidária. Estivera no épico Congresso do Palácio de Cristal, correndo risco de morte, e expressa a sua admiração pela intrepidez dos centristas, que não alinharam com o socialismo hegemónico.

Já que entrámos nas águas do Partido Socialista, chamemos ao palco a personagem PS desta novela. Mário Damião, arquitecto. Em 1975 era “cabeludo e barbudo”. E assim ficou, “sem concessões às modas burguesas”, ao ser entrevistado em 2003 pelo narrador de Verão Quente. Somos informados que Mário Damião, nesse longínquo ano de 1975, “andava de alpergatas e com um lenço na testa, que apertava na nuca com um laço”. É esta atenção aos pormenores que distingue um grande romance e quem o escreve. Mas colocar hippies (assim se autodefiniu Mário Damião) de lenço na cabeça, no Portugal do ano de 1975, é não saber nada de três coisas: de hippies, de Portugal em 1975 e de lenços na cabeça. Fiel ao registo de todas as personagens da novela, o arquitecto Damião descreve a falecida Madalena numa síntese lapidar e de extremo bom gosto: “era uma gaja muito aberta!”. “Era uma folgazona, uma das melhores camas da minha vida!”, acrescenta.        

Outra personagem já referida, o reaccionário Miguel, marido de Julieta, assassinado na Arrábida, surpreende igualmente pelas contradições do seu carácter. Sendo um “respeitador de Deus, da Pátria e da Família” é também um “incontinente sexual”. “Um mulherengo”, nas palavras do dr. Raul, que acrescenta: “era o género de se meter com as criadas, com as empregadas das fábricas. Fugia-lhe o pé para o chinelo, tá a ver?”. Julieta corrobora este testemunho, confirmando que, na data em que foi morto, o marido andava enrolado com a secretária e, antes do casamento, se embrulhara com “a filha da costureira da mãe” e com “a filha do dono de uma papelaria lá da rua dele”. Para quem se mostrava “respeitador da Família”, não estamos mal.

A irmã de Julieta, Madalena, à semelhança do Gregor Samsa de Kafka, sofrera uma “metamorfose galopante” desde 1968, ano em que foi desflorada três vezes por Bernardo Souto, nas dunas de Moledo. Era uma “leitora pouco atenta de Sartre, Foucault e poesia barata”, provavelmente porque nesse tempo Domingos Amaral ainda não se iniciara como autor. Na página 48, pela boca da sua irmã, entre duas garfadas de borrego, ficamos a saber que Madalena era “muito solta com os homens” e até “talvez fosse ninfomaníaca”. A filha contesta, a mãe replica: “a menina não sabe da missa a metade!”. Acrescenta: “O sexo era tudo para ela, essa é que é essa”. Essa é que é essa. Madalena era uma “disparatada”, que “adorava ter homens a babarem-se à sua volta”, refere a sua irmã Julieta, na página 128 (corrigindo, pois, o que dissera na página 69: “Na verdade, acho que a Madalena era muito mais saudável do que a maioria das mulheres. Gostava de sexo e não se punha com patetices ou convenções morais”). O advogado Raul define Madalena como “muito brincalhona”; o seu antigo marido, Álvaro, diz que era “malandreca” e “brincalhona”. Em contrapartida, o seu primeiro namorado, Bebé, que a desflorou três vezes numa noite em Moledo, descreve-a como “uma gaja muito aberta”. Outro companheiro, o arquitecto Mário Damião, caracteriza-a como “uma folgazona, uma das mulheres camas da minha vida!”. Estava convicto de que, ao mesmo tempo que ele, outros “molharam o pincel” em Madalena. Todavia, isso “não é coisa que o incomode”. Este Verão Quente, que melhor seria chamar-se Verão Tórrido, é uma obra extraordinária. Na página 185, diz-se que Mário Damião não se incomodava que outros “molhassem o pincel” em Madalena. Na página 186, Mário Damião surpreende Madalena com outro homem, “na folia”, e acaba o namoro com ela. Mais: “o ‘par de cornos’ dói-lhe uns tempos”. Mário Damião, o arquitecto socialista, admirador de Soares, é, pois, uma personalidade contraditória, à semelhança de todas as que entram neste livro. Na página 185, Damião não se importa que a namorada sirva de gobelet a outros machos, mas, logo na página seguinte, termina o namoro e fica “desiludido”, com um doloroso “par de cornos”, ao encontrar Madalena na cama com outro. Quem era esse outro? Raul Salavisa Pinto, o advogado, que pouco depois se envolverá com Julieta.

Neste sudoku sensualista, Madalena envolve-se com Miguel que era marido de Julieta, Julieta envolver-se-á com Raul que por sua vez já se tinha envolvido com Madalena, a filha de Julieta envolve-se com o marido Tomás, mas também com Paulo, filho de Raul. E o narrador envolve-se com Julieta e depois com a filha desta. Madalena envolve-se com todos, sendo aliás “pouco criteriosa nas paixões políticas dos seus homens, indo do comunismo ao centrismo, passando pelo socialismo e pela social-democracia” (pp. 220-221). Domingos Amaral resvala num exercício pueril, que consiste em encontrar para Madalena parceiros sexuais que cobrissem todo o espectro político do Portugal de 1975. Daí que, numa só página, a página 220 deste Verão Quente, tenhamos uma bela panorâmica político-sexual da revolução portuguesa e do ecumenismo erótico de Madalena Silva Arca:



“Penso em Madalena. Que impulso sexual tão forte ela tinha! Mal se separa de Álvaro, volta a Bernardo, o Bebé, o seu ‘primeiro’, e logo depois segue para Mário Damião, o arquitecto; depois Raul Salavisa Pinto e, por fim, Miguel. Em menos de um ano, envolve-se com homens de quase todos os partidos. Começa com um ‘capitão de Abril’, homem do MFA, amigo de Vasco Gonçalves, um bom homem, comunista sem empolgamento, que rapidamente se desilude com os excessos da revolução. Depois, regressa a Bernardo Souto, o rapaz que a desflorou, um menino de boas famílias, naturalmente do CDS. O terceiro da lista é do PS, socialista, admirador de Mário Soares, universitário, artista. Em segredo, ama ainda o advogado, um notável do PSD, próximo de Sá Carneiro. E estes são os conhecidos…”.



Sim, estes são os conhecidos. Falta pelo menos um, o alemão Kurt, o assassino de Miguel e Madalena (é sempre agradável estragar o suspense destes policiais ridículos). No trecho acima transcrito, temos informações relevantes, uma verdadeira lição de História. Um dos amantes de Madalena era do “PS, socialista”. Obrigado, Domingos Amaral, não fossemos nós pensar que o PS era um partido democrata-cristão. Ao olhar para a composição de certos governos do PS, poderíamos de facto estabelecer algumas confusões na matéria. Temos também a informação que os meninos de boas famílias eram do CDS, “naturalmente”. Como pano de fundo, uma visão misógina tão enraizada que o autor nem dela se apercebe. Reproduzindo estereótipos e preconceitos arcaicos, Domingos Amaral leva ao limite a promiscuidade de Madalena, tornando o seu livro, Verão Quente, num singular e originalíssimo caso de lenocínio literário. Falar em “lista” dos amantes de Madalena ou dizer que aquele rol era apenas o dos “conhecidos…” (deixando no ar umas reticências marotas…) são expressões que involuntariamente exprimem bem o modo como as mulheres são tratadas – e maltratadas – neste livro. Enquanto os homens são encarados com condescendência, sendo quase todos bons rapazes, cujos pecadilhos se desculpam à conta da sua biologia de “machos alfa”, as mulheres são retratadas como manhosas e interesseiras. Julieta esconde que andara envolvida com Raul e Redonda só se divorcia do idiota Tomás quando financeiramente orientou a sua vidinha. Aliás, quando Raul se divorcia para se juntar a Julieta, Redonda vai avisando a mãe “Esperemos que a mulher não lhe leve tudo […]. Se fosse a si tinha atenção”. O narrador descodifica esta preocupação filial: “se a esposa leva uma grande talhada da fortuna, quem vai sofrer é a próxima. E, como há uma forte possibilidade de seres tu, é melhor começares já a tomar cuidado, querida mãezinha” (p. 249). 

Note-se que, em vários momentos desta novela, Redonda mente “com todos os dentes que tem na boca” (p. 223), o que não impede o narrador de ficar com ela – ou dentro dela – no final do romance. “Quando alguém nos mente é como se tivesse activado uma pequena bomba-relógio, que passa a fazer tiquetaque, tiquetaque, baixinho, até ao dia em que explode. Nesse dia, essa pessoa que nos mentiu mata-nos por dentro, mas também se mata a si própria, pois deixamos de confiar nela” (p. 224). Não se percebe o alcance deste amontoado de banalidades. Redonda mente reiteradamente ao narrador, mas este acaba por ficar a seu lado. Pelos vistos, ninguém morreu “por dentro”, outra figura estilística bastante original. A razão estará, porventura, numa reflexão, também ela original e profunda, apresentada na página 226: “Somos todos um bocado psicopatas quando se trata de amor e sexo”. As mulheres são “um bocado putas” e, no fundo, todos somos “um bocado psicopatas”.
.
É assim, entre putas e psicopatas, que se escreve e publica um romance de Verão. Vai ser um sucesso, por certo. Porque no fundo, no fundo, nós, os leitores, mais do que um bocado putas ou um bocado psicopatas, somos todos é um bocado parvos.




(Continua)


6 comentários:

  1. É o pai escarrado (na foto e na qualidade do resto).

    ResponderEliminar
  2. Caro António Araújo,
    Como é evidente, uma vez que não há tempo, não poderei ler este livro nem outro do Domingos Amaral, que desconhecia em absoluto, como escritor, como pessoa, como artista e como quer que seja o tipo ou como ele se queira chamar, para além de Amaral!!
    Mas diga-me, por verdade!! Isto, que aqui descreve, foi mesmo escrito, pensado e editado!!? Isto foi mesmo escarrado em papel!? Isto existe!?

    ResponderEliminar
  3. Quase me atrevo a dizer que, só para ler este(s) texto(s) sobre D.A., vale a pena que o livro tenha sido escrito, quase vale a pena que D.A. exista.
    Os meus cumprimentos ao autor (não me refiro a D.A., obviamente).

    ResponderEliminar
  4. Escrever não é fácil, mas editar estes livros de ser fodido

    ResponderEliminar
  5. Cada dia tenho menos fé no mundo !
    Há quem leia isto ?

    ResponderEliminar
  6. De antologia ... Isto merecia ser publicado em livro , tipo saneamento da imbecilidade nacional

    ResponderEliminar