sexta-feira, 11 de outubro de 2013

PCP: meu nome do meio.

 
 
 
 

 
 
Muitos direitolas não gostam do filme “Adeus, Lenine”. Eu gosto, e muito. Não é uma desculpabilização da ex-RDA, é um filme sobre a mais melancólica das emoções, a nostalgia. Além disso, eu nasci numa RDA à beira de Lisboa, o Concelho de Loures. O meu corredor era a tal cintura industrial que os betinhos de esquerda só conhecem dos livros: Moscavide, Sacavém, Bobadela, São João, Santa Iria. Sempre encostado ao Tejo, à A1 e às fábricas. Neste cenário, o PCP fazia parte do dia-a-dia. Aliás, o PCP é o meu nome do meio. O meu avô foi comunista onde elas doíam, no Alentejo, e no tempo em que os queques do sector intelectual do PCP passavam férias no Mar Negro. Os meus tios mais novos ainda lutam pela CDU em São João e Santa Iria. Na zona da Covina, a minha mãe foi operária e ponta-de-lança do PREC, até que entrou em ruptura com a estupidez do PCP, uma estupidez que arruinou o nosso ganha pão. Quando eu nasci em 1979, no n.º 4 da Rua do MFA, os meus pais estavam desempregados graças ao PREC. Nunca precisei de ler nada para perceber que o comunismo não protege os mais pobres. 
Mas, apesar de todos os seus defeitos, o PCP conseguia criar ali uma atmosfera de bairro que marcou para sempre quem lá viveu. Aquele espírito associativo (clubes, associações, ranchos, festas populares) não teria sido tão elevado sem a presença da irmandade operária. Jerónimo de Sousa ainda vota na Associação de Pirescoxe onde o meu pai começou a dançar com a minha mãe. Sim, eu comecei a ser planeado no sítio onde Jerónimo de Sousa vota. Além disso, esta rede comunitária criava segurança. Sabem o que é viver num sítio onde se pode deixar a chave na porta? Sabem o que é ter um familiar em cada vizinho? As colegas da minha mãe tomavam conta de mim caso fosse necessário. E ainda me lembro dos jantares de confraternização da fábrica, que andou num abre-e-fecha até 87. Antes do repasto, eu andava pelas linhas de montagem de telefones para ser mimado por uma correnteza de cem mulheres ou assim. Ou melhor, só devia receber mimo de cinquenta, a outra metade não devia gostar do filho da “fascista da minissaia”. Mas esqueçam este pormenor e concentrem-se na parte do mimo. O comunismo português é esta emoção que passa de pais para filhos. Sim, a ideologia que quis destruir a família sobrevive graças aos laços de sangue.
Ao contrário do que se diz, a sobrevivência do PCP não se deve à pobreza. Quem vota PCP em Loures não é pobre no sentido neo-realista. Conheço operários que ganham muito bem, não devem esse salário ao PCP mas sim a empresários como Alexandre Soares dos Santos. Porém, votam sempre no vermelho. Porquê? Se não votassem PCP estariam a desrespeitar a família, o bairro, os amigos. O PCP é a sua identidade criada em bailes, festas, cafés, fábricas, associações e clubes. E eu percebo e até invejo esta identidade. Depois das seis e ao fim-de-semana, a minha Lisboa (Av. Novas) tem tanta vida como um deserto. Os meus filhos não merecem crescer aqui e, por isso, ando à procura de nova paragem. Irei acabar num daqueles bairros onde a AD tem 65% dos votos contra 5% do PCP, mas não esqueço que a minha necessidade de bairrismo foi criada num sítio onde o PCP e demais comunistas têm 50% dos votos contra 16% da AD. Tal como o Senhor, a nostalgia tem caminhos que a razão desconhece.
 
 
Henrique Raposo


 

[originalmente publicado no semanário Expresso, de 5/10/2013]
 
 
 
 

2 comentários:

  1. O PCP, ao contrário do que quer afirmar o autor deste texto disparatado, é uma nostalgia que custa a morrer. Até cresce eleitoralmente em momentos de crise e de roubo generalizado das classes médias e dos mais desfavorecidos por parte daqueles que defendem a social-democracia apenas para banqueiros e grandes empresas. Vale Figueira, Pirescoxe ou São João da Talha mereciam um vate mais competente. Este só consegue ver nostalgia e fugir para uma zona mais chique da cidade. Depois vive à custa de exibir a sua origem aos coitadinhos dos betinhos. Infelizmente, as pessoas que vivem entre as fábricas fechadas, os bairros clandestinos que nunca se legalizam, os barracões e os armazéns pré-fabricados não são apenas os filhos e os netos de uma ilusão contagiosa. Este texto é apenas exploração emocional de má qualidade e sintoma do enorme classismo da sociedade portuguesa.

    ResponderEliminar
  2. Que texto tão parolo! O autor para expurgar a sua origem de classe usa-a para fazer bravata ideológica. Depois ainda tem um momento "Maria Filomena Mónica" ao referir a sua pobre mãe, a operária e "fascista da minissaia". Ela não merece isto. É repugante. Mude-se depressa para o Restelo, nasalize o seu Português e passe a dizer “sófá, redículo, munto, encarnado, xícara, enterro, mulher” e outras maravilhas da novilíngua queque. Não se esqueça de pôr o crianço no São Bernardo, enquanto diz mal do padre e refere a sofisticação dos seus amigos gays (só passam a rotos quando se portam mal).

    ResponderEliminar