quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Vidas singulares: Henry Pol.

 
 
 
 
 
 
 
 

















         Entre alguns outros, em Lisboa tivemos, até há poucos anos, o Carlos dos Jornais e o Senhor do Adeus. Este, de mais recente e alva aparição, foi inclusivamente honrado com um blogue e com um livro.
         Cada cidade tem as suas figuras populares, que devem esse estatuto ao facto de se distinguirem do anonimato das massas, geralmente através de gestos ou de comportamentos considerados excêntricos, mas inofensivos. Toleram-se com um sorriso condescendente, que em nós reforça o conforto conformista de integrarmos a “normalidade”.
         Na Paris da Belle Époque, Henry Pol encantava os passeantes das Tulherias. De manhã e à tarde pousava no jardim para alimentar os pássaros. Centenas de aves acorriam à sua presença, abusavam do amparo do seu ombro. Monsieur Henry retorquia, conhecendo cada pássaro e tratando-o pelo nome: “Kroumoir”, “Danseur”, “Marie Stuart”, “Robert Macaire”. Dias nisto, anos a fio.
         Ficou conhecido como le charmeur d’oiseaux des Tuileries. Famoso na altura, dele se fizeram retratos e postais, e reportagens nos jornais. Multidões juntavam-se para o ver alimentar pardais. E nada mais fez na vida que o distinguisse, além de dar milho a pássaros. Diz-se que, devido à magreza da pensão de reforma, vendia postais com a sua imagem. Se não é verídico, é possível, e talvez mesmo muito actual. Houve até a intenção de o condecorar com uma medalha de mérito agrícola, o que sempre pecaria por excesso, considerando o que efectivamente foi a sua obra, ou por defeito, tendo em conta o bem que fez a muitas gerações de pássaros, humanos e outros animais. Deu pão aos pombos e alegria ao povo, ou vice-versa. É pouco? 
 
 
  

2 comentários:

  1. Fiquei comovido lendo e vendo este post. Sinto-me honrado e sinto-me importante porque um dia respondi ao adeus do Senhor do adeus (não sou de Lisboa). Foi ele que me fez sair, naquele momento, do anonimato das massas. Para quando uma estátua sua no Saldanha, semelhante às Las dos Marias na Alameda de Santiago de Compostela? Eu sei que o Saldanha era briguento mas acho que não se importaria com a concorrência.

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  2. Os postais são encantadores. Obrigado por os partilhar on-line.

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