sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Canção para João.

 
 
 
Jeff Koons

 
 
Ontem houve uma explosão de visitas aqui ao Malomil. Era tanta gente a entrar portas adentro que até fiquei intrigado. Fui ver o que se passava e a culpa tinha sido do João Miguel Tavares, que no Pais de Quatro escreveu um exagero monumental sobre este modesto, e até pacato, estabelecimento blogueiro. Exagero de amizade do João, como sempre. Podia escrever uma linha a agradecer-te, mas um blogue como o Pais de Quatro falar assim do Malomil obriga-me a contar uma história, que até é verdadeira.

Aqui há uns anos, houve um fotógrafo, Art Rogers, que tirou uma fotografia muito postaleira. Tão postaleira que, claro, virou postal. O título da imagem era Puppies e mostrava um casal feliz com uma braçada de cachorrinhos. Queridíssimos, vejam lá:
 
Art Rogers, Puppies
(atenção, quem reproduzir esta imagem leva com um processo em cima)
 

 
O malandro do Jeff Koons, já na altura um grande artista internacionalmente afamado, sempre com olho para o negócio, viu o postal num lugar qualquer. E, malandro como é, não foi de modas. Comprou o postal, retirou-lhe o rótulo do copyright e mandou dois assistentes fazerem uma escultura. Sim, que isto agora os grandes artistas já não fazem eles, mandam fazer. Deu aos assistentes indicações precisas como queria os bonecos, lá à maneira dele, com uns narizes exagerados e uns arrebites à Jeff Koons. A coisa fez-se. Olhai para ela, irmãos:
 
Jeff Koons, String of Puppies

 
Agora, mas só se quiserdes, vede uma tontita e mais o malandro do Jeff Koons a dissertarem profundamente sobre esta obra, integrada na série «Banality»:  
 
 
 

 
 
 
 
Quando o Art Rogers viu aquilo, não gostou, claro está. E entrou na justiça com um processo ao Koons, que perdeu na barra. O tribunal considerou que havia uma «similitude substancial» entre as duas obras; ou seja, em linguagem técnico-jurídica, e para sermos rigorosos, concluiu a sentença que: o Jeff Koons copiara à bruta. Bem, olhando para as imagens não é preciso ser um Carlos Alexandre para perceber que ali houve marosca – e da grossa. O malandro do Koons, artista como sempre, tentou defender-se, como lhe competia na lide. Alegou que se tratava de uma «paródia», o que até certo ponto é uma verdade como punhos. A obra inteirinha do Koons não passa de uma paródia, e o pior de tudo é que até houve um cómico perdulário que, para ajudar à festa, deu 367 mil dólares pela escultura plagiadora. Isto a preços de 1992, mais ano menos ano.

Resultado: o processo acabou com o Koons a ter de pagar uma indemnização de montante não especificado, mas decerto valente, ao fotógrafo usurpado nos seus direitos. E o caso Rogers v. Koons tornou-se uma causa célebre em matéria de direitos de autor, podendo ser consultado na íntegra aqui.

Pois é, o Malomil está para o Pais de Quatro como a escultura String of Puppies está para a fotografia Puppies. É assim a modos que uma contrafacção grosseira, uma paródia ligeirinha. Não te vou pagar uma indemnização, João, mas mando-te daqui um valente abraço, de montante nem bem especificado, com a amizade do

 
 
António Araújo

 
 
 
 
 

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