sábado, 22 de setembro de 2018

À tona d'água.

 























Exercícios como este, saído no New York Times, são certamente questionáveis. Ou talvez não, fica ao pensamento de cada qual. Um filho que acompanhou a lenta progressão do Alzheimer no espírito e no corpo do seu pai. Desde as primeiras imagens, de um homem ensimesmado e de rosto fechado, até ao enterro das cinzas num parque natural dos Estados Unidos. Num livro que dedicou à mulher, a escritora Iris Murdoch, o marido falou também do avanço da doença, da forma como o mutismo e o silêncio gélido invadiam tudo. Falou da estranha aparência dos doentes de Alzheimer, com «rosto de leão», impassíveis e fechados sobre si mesmos. Cheney Orr, o miúdo que fotografou tudo isto, tinha 21 anos quando soube que o pai, muito novo (62 anos), padecia dessa doença. Vê-se a sua caminhada, lenta mas inexorável. E a perda cada vez maior de autonomia e de consciência,. Olhem os cuidadores, quase todos negros. E sobretudo a família, os gestos de amor que não são tão frequentes ou patentes entre nós, povo mais reservado e pouco dado a expor os sentimentos. David Orr morreu em Brooklyn, com 69 anos. Para ele, que tinha nascido nos desertos do Arizona, um dos maiores momentos de felicidade era, paradoxalmente, mergulhar nas ondas, e nadar, nadar.
 
 
 
 
 

 

    


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