O som do
riso de ratos em Manhattan, se quisermos começar por aí. Ou da terra a estalar
no deserto.
A que soa a lava? E a barreira de coral?
Ouvir um concerto de chuva, que afinal é vento,
que afinal são 47 000 árvores, que afinal são uma só. O que será um
indivíduo em tudo isto, afinal-afinal?
Ou a guerra das estrelas travada aqui tão
perto, tão à mão das orelhas, na atmosfera dos cabos dos teleféricos nas
montanhas.
E além da revelação da acústica acidental dos
mausoléus, podemos enfim conhecer o que é isso de “ruidoso silêncio” de que se
fala por tudo e por nada. O verdadeiro, the one and only [spoiler alert], o das
profundezas das cavernas dos morcegos.
Sobretudo, podemos matar saudades da paisagem
sonora, agora já quase tão exótica e longínqua, da convivialidade feliz de
seres humanos em espaços abertos.
O som, lembram nesta peça, é a primeira e a
derradeira experiência dos sentidos. Começamos a discerni-lo já antes de
nascermos, e é a última coisa a apagar-se quando nos extinguimos.
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Manuela
Ivone Cunha
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