quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A Leste nada de novo.

 
 
 
 
 

          A Leste nada de novo. Pelos jornais chegam-nos notícias desgarradas, tantas e tão variadas que, por vezes, é difícil perceber o que se passa no meio de tanto ruído. Um apanhado recente – e não exaustivo – do que tem saído na imprensa das últimas semanas mostra-nos Vladimir Putin a afirmar que «não houve nada de errado» no Pacto celebrado em 1939 entre a Alemanha nazi e a União Soviética. Enquanto isso, notícia de que a Rússia testa um novo míssil intercontinental, o Topol-M, que pode transportar até seis ogivas nucleares. Na política interna, Putin procura reprimir e persegue a Memorial, a mais importante organização de defesa dos direitos humanos da Rússia. «Para a Memorial, a repressão do Kremlin não é um “filme” novo», disse o PÚBLICO há uns dias. Neste ano lectivo, houve uma purga nos manuais escolares russos. A lista de manuais aprovados desceu para menos de metade. Centenas de livros usados há anos pelos cerca de 14 milhões de alunos das mais de 43 mil escolas do país foram banidas. Invocam-se dificuldades burocráticas e «falta de sentido patriótico» dos livros escolares silenciados. E, recentemente, a equipa do Museu do Cinema de Moscovo demitiu-se em bloco, dizendo ser impossível trabalhar com as novas regras, impostas pela nova responsável do museu, nomeada pelo governo de Putin. Por outro lado, o DIÁRIO DE NOTÍCIAS interroga-se: «Terão os russos em órbita uma nova arma para destruir satélites?». Terão os russos em órbita uma nova arma para destruir satélites? A dúvida anda a agitar a comunidade internacional. Na cimeira do G20, o primeiro-ministro do Canadá fez questão de dizer a Putin que só lhe apertava a mão pois isso fazia parte do protocolo. Na Austrália, o líder russo foi recebido com frieza e desdém. Putin saiu da cimeira um dia mais cedo do que o previsto, sob um fogo cerrado de críticas por causa da Ucrânia. Agrupar estas notícias esparsas permitirá, talvez, encontrar nelas um fio condutor, um linha de coerência: a Leste nada de novo. 
         A Oeste nada de novo, também. O Avante! qualificou a queda do Muro como um acto ignóbil de «anexação» da maravilhosa República Democrática Alemã («o primeiro Estado alemão antifascista») e, na Assembleia da República, uma deputada qualificou como «tentativa de reescrever a História» a comemoração do fim do Muro de Berlim. A propósito, já alguém explicou à deputada Rita Rato onde ficava e o que se passava no Gulag? É que, quando questionada em 2009 sobre o assunto, essa jovem parlamentar, licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais, respondeu assim ao Correio da Manhã:
− Como encara os campos de trabalhos forçados, denominados gulags, nos quais morreram milhares de pessoas?
−Não sou capaz de lhe responder porque, em concreto, nunca estudei nem li nada sobre isso.
− Mas foi bem documentado...
− Por isso mesmo, admito que possa ter acontecido essa experiência.
− Mas não sentiu curiosidade em descobrir mais?
− Sim, mas sinto necessidade de saber mais sobre tanta outra coisa...
 
O livro é pesado, em todos os sentidos. Mas talvez não fosse mau passar os olhos pelas 550 imagens que o fotógrafo polaco Tomasz Kizny foi arquivando ao longo dos anos e publicou em Goulag, saído em 2003. Algumas delas disponíveis aqui.  
 
 
 













 
 
 
 
 
 

1 comentário:

  1. Sim, do ponto de vista diplomático não houve nada de anormal no pacto Germano-Soviético. Pelo menos, no quadro daquilo que foi a história da diplomacia nos últimos séculos. Mais do que a URSS, contribuiram os países ocidentais para o crecimento dos regimes fascistas no século XX. As democracias pujantes (EUA, França e Inglaterra) pouco se importavam da natureza dos regimes que fermentavam nos anos 20 do século XX, desde que não fossem comunistas. Aliás, se fossem anti-comunistas tanto melhor...
    Quanto aos Gulag, e de uma forma geral, à história dos regimes comunistas no século XX, não deixa de ser curioso o jeito que têm dado para calar qualquer aspiração a uma política alternativa à desgraça que temos visto. Dão tanto jeito como aos sionistas brandir a bandeira do anti-semitismo cada vez que alguém adopta uma postura crítica em relação ao seu imperialismo.
    Putin: bem sabe que a via do decreto não é a única forma de limitar a acção das instituições disruptivas com o regime. Aqui para as nossas bandas usam-se mais os cortes orçamentais…

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