O
Hospital Central de Luanda, construído por empresas chinesas, teve de ser
evacuado dois anos (repete-se: dois anos) após a sua
inauguração por risco de desmoronamento. As imagens acima apresentadas não são do Hospital
Central de Luanda, mas são verdadeiras – apesar de se assemelharem a uma fantasia da
Legolândia. Situado a cerca de trinta quilómetros a sudeste de Luanda, Kilamba
Kiaxi é o rosto mais conhecido de um projecto de construção habitacional que prevê a
edificação de 36 cidades-satélite em Angola. Erguido em menos de três anos
pela China International Trust and Investment Corporation, Kilamba Kiaxi é composto
por 750 arranha-céus. Custou 3,5 mil milhões de dólares. A comercialização dos
apartamentos acabou por ir parar à Sonangol, que criou uma subsidiária para
tratar da venda deste mega-empreendimento, a SONIP. A SONIP, por sua vez, subcontratou a
venda do Kilamba à Delta Imobiliária, uma empresa privada que era propriedade
de Manuel Vicente e do general Kopelipa, entre outros, a quem foi adjudicado o
contrato de venda sem lançamento de concurso público. Os preços são
inacessíveis para 95% dos angolanos, com as casas mais baratas a custarem 125
mil dólares. Os bancos privados não estavam interessados em disponibilizar
crédito para a compra destas habitações. E, em meados de 2012, apenas 300 dos
3180 apartamentos do Kilamba haviam sido vendidos. Aproximando-se as eleições,
o governo decidiu disponibilizar 43 apartamentos a cada ministério, dando
ordens para que os mesmos fossem distribuídos entre os altos funcionários. Na
campanha eleitoral, o MPLA mostrou imagens de famílias felizes a viver no
Kilamba. Mas havia um problema: essas famílias não viviam lá, foram só ao Kilamba para tirar fotografias de propaganda. O Kilamba é hoje uma cidade-fantasma,
ou perto disso.
Este e outros desvarios são contados ao
pormenor por Ricardo Soares de Oliveira, investigador da Universidade de Oxford. O livro acaba de sair ou está prestes a chegar às livrarias (notícias aqui ou aqui). Chama-se Magnífica e Miserável. Angola desde a guerra civil. Não, não é um panfleto incendiário nem uma diatribe contra a elite petrolífera de Luanda. É o melhor
livro que li sobre Angola: sério, rigoroso, informado, assente em fontes seguras e muito trabalho de campo. Tudo o que ali se diz é escrutinado e confirmado. Após a sua leitura, percebemos
melhor o que é Angola nos nossos dias. Os dias que restam a Luaty Beirão.
António Araújo
Mesmo depois de ser ver custa a acreditar que tenha passado pela cabeça de alguém fazer este disparate.
ResponderEliminarUm dia contaram-me que em Inglaterra quando querem fazer um jardim, não traçam percursos.
Deixam que sejam as pessoas durante um ano a marcá-los, porque elas saberão qual o melhor percurso.
Depois respeitam e sinalizam.
Podiam aprender com eles a não fazer aquilo que ninguém quer.