Ao arrumar papéis velhos, encontrei
este A4 dactilografado. Não me recordo da sua origem ou proveniência e, pelo
tom do escrito, tudo indicia tratar-se de uma brincadeira ou – quem sabe? – de
um panfleto destinado a denegrir o 25 de Abril. Na verdade, não é muito
plausível que se tenha realizado o encontro citado, havendo ainda muitas
passagens do texto que suscitam as maiores dúvidas. Verdadeiro ou falso, aqui
fica, para que os leitores apreciem e julguem: é que, mesmo sendo falso ou
tendo propósitos contra-revolucionários, é um texto que reflecte um certo
«espírito de época» – daí a sua publicação, sem mais considerandos ou
divagações.
***
Lisboa,
4 de Maio de 1974
As prostitutas do Concelho de Lisboa, reunidas
hoje, às 10 horas, em Assembleia extraordinária, numa das ruas da Capital, aprovaram,
por unanimidade, a seguinte moção, dirigida à Junta de Salvação Nacional:
1 – Considerando que exercem ilegalmente
a mais antiga profissão do mundo, e que, embora vulgarmente conhecidas por
mulheres de vida fácil, têm conhecido, antes pelo contrário, uma existência bem
difícil, propõem, ao iniciar a luta pelos seus interesses e anseios:
A) Que
entre imediatamente em acção uma Comissão, constituída por:
LUCRÉCIA PRAZERES DO
REGO (DA REBOLEIRA)
MARIA DA CONCEIÇÃO MIL
HOMENS (DA COVA DA PIEDADE)
GERTRUDES ROSA (DE
ALMADA)
MARIA JOSÉ PEREIRA (DE
ALGÉS)
B) Nesse
propósito, apelam para a constituição de um sindicato, onde possam, livremente
e sem quaisquer pressões de carácter puritano, debater todos os problemas
inerentes à classe.
2
– Combater activamente todo o sistema de exploração que vem sendo praticado
(agora com maior influência) por parte dos chulos.
3
– Criar, de acordo com as infraestruturas que posteriormente venham a ser
objecto de estudo, o INSTITUTO MARGARIDA GAUTHIER, destinado, entre outros fins
de carácter assistencial, à protecção dos menores.
4
– Promover um “trottoir” livre, nas ruas da cidade, com o objectivo de
contribuir também para o turismo nacional, e elaborar uma tabela homogénea de
preços.
5
– Terminar, desde já, com a escandalosa actividade das colegas conservadoras que
continuam, exclusivamente, a actuar nas «Boîtes» de luxo.
6
– Punir severamente todas as associadas que, após a constituição do Sindicato,
acedam a praticar, por razões de ordem monetária, quaisquer actos que não sejam
os do coito moral.
7
– Aderindo ainda ao Movimento das Forças Armadas, todas se propõem, como ficou
determinado na presente reunião, por maioria de votos, efectuar um desconto de
50% a todos os elementos com patente abaixo de alferes, pelo prazo de um ano.
VIVA
O AMOR LIVRE! VIVA PORTUGAL!
Isto foi reproduzido num jornal diário da época (já não sei qual) enquanto um documento genuíno. O que evidentemente não comprova a sua "veracidade", mas sugere que não corresponderia a um facto completamente insólito no ambiente vivido em Maio de 1974.
ResponderEliminarA Lucrécia era familiar de Arlindo do Rego - e do benemérito, Jacinto leite Capelo Rego, apoiante do CDS/PP, hoje infelizmente esquecido, quiçá - homiziado...
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