sábado, 20 de maio de 2017

Se non è vero...

 
 




 
         Ao arrumar papéis velhos, encontrei este A4 dactilografado. Não me recordo da sua origem ou proveniência e, pelo tom do escrito, tudo indicia tratar-se de uma brincadeira ou – quem sabe? – de um panfleto destinado a denegrir o 25 de Abril. Na verdade, não é muito plausível que se tenha realizado o encontro citado, havendo ainda muitas passagens do texto que suscitam as maiores dúvidas. Verdadeiro ou falso, aqui fica, para que os leitores apreciem e julguem: é que, mesmo sendo falso ou tendo propósitos contra-revolucionários, é um texto que reflecte um certo «espírito de época» – daí a sua publicação, sem mais considerandos ou divagações.
 
***

 
 
 
Lisboa, 4 de Maio de 1974
 
         As prostitutas do Concelho de Lisboa, reunidas hoje, às 10 horas, em Assembleia extraordinária, numa das ruas da Capital, aprovaram, por unanimidade, a seguinte moção, dirigida à Junta de Salvação Nacional:
         1 – Considerando que exercem ilegalmente a mais antiga profissão do mundo, e que, embora vulgarmente conhecidas por mulheres de vida fácil, têm conhecido, antes pelo contrário, uma existência bem difícil, propõem, ao iniciar a luta pelos seus interesses e anseios:
A)  Que entre imediatamente em acção uma Comissão, constituída por:
LUCRÉCIA PRAZERES DO REGO (DA REBOLEIRA)
MARIA DA CONCEIÇÃO MIL HOMENS (DA COVA DA PIEDADE)
GERTRUDES ROSA (DE ALMADA)
MARIA JOSÉ PEREIRA (DE ALGÉS)
 
 
B)   Nesse propósito, apelam para a constituição de um sindicato, onde possam, livremente e sem quaisquer pressões de carácter puritano, debater todos os problemas inerentes à classe.
 
2 – Combater activamente todo o sistema de exploração que vem sendo praticado (agora com maior influência) por parte dos chulos.
3 – Criar, de acordo com as infraestruturas que posteriormente venham a ser objecto de estudo, o INSTITUTO MARGARIDA GAUTHIER, destinado, entre outros fins de carácter assistencial, à protecção dos menores.
4 – Promover um “trottoir” livre, nas ruas da cidade, com o objectivo de contribuir também para o turismo nacional, e elaborar uma tabela homogénea de preços.
5 – Terminar, desde já, com a escandalosa actividade das colegas conservadoras que continuam, exclusivamente, a actuar nas «Boîtes» de luxo.
6 – Punir severamente todas as associadas que, após a constituição do Sindicato, acedam a praticar, por razões de ordem monetária, quaisquer actos que não sejam os do coito moral.
7 – Aderindo ainda ao Movimento das Forças Armadas, todas se propõem, como ficou determinado na presente reunião, por maioria de votos, efectuar um desconto de 50% a todos os elementos com patente abaixo de alferes, pelo prazo de um ano.
 
VIVA O AMOR LIVRE! VIVA PORTUGAL!
 
 
 

 

2 comentários:

  1. Isto foi reproduzido num jornal diário da época (já não sei qual) enquanto um documento genuíno. O que evidentemente não comprova a sua "veracidade", mas sugere que não corresponderia a um facto completamente insólito no ambiente vivido em Maio de 1974.

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  2. A Lucrécia era familiar de Arlindo do Rego - e do benemérito, Jacinto leite Capelo Rego, apoiante do CDS/PP, hoje infelizmente esquecido, quiçá - homiziado...

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