Fotografia de Martin Parr
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Há dias, nas páginas do Correio da Manhã, Francisco José Viegas
definiu esta obra como «romance». Talvez o seja, num certo sentido, pois o que
Olga Tokarczuk nos vai contando das suas deambulações situa-se muito,
muitíssimo, entre o real e o imaginário. Muitas das histórias e das pessoas que
encontra mais parecem ser criações da sua imaginação do que relatos de uma
experiência errante. Não, este não é um vulgar livros de viagens, apesar do
título. A obra nem sequer está ordenada por capítulos e não obedece a uma
estrutura linear. Temos apontamentos, fragmentos, uns sobre aeroportos, outros
sobre comboios para pessoas que têm medo de aviões, outro sobre utensílios de
viagem, pensos higiénicos incluídos. Nem conseguimos sequer perceber, excepto
em casos pontuais, por que terras andou a autora, que países visitou, de que lugares
está a falar. Não, não é um vulgar livro de viagens. Mas, para uma «anatomia da
errância», para usar as palavras de Bruce Chatwin, é um livro inultrapassável,
por vezes perturbador, até pela atmosfera claustrofóbica e sufocante em
que os faz mergulhar, o que não deixa de
ser paradoxal – genialmente paradoxal – num livro que fala de fugas e de
evasões. Alguns não gostarão deste livro. Mas não deixam de lê-lo. O olhar de Olga
Tokarczuk é raro, singularíssimo, uma viagem sem retorno ao absurdo da condição
humana.
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