quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

São Cristóvão pela Europa (136).

 

 

Em Berna, junto à Igreja Espírito Santo, foi construída na primeira metade do Século XIV a Christoffelturm, a Torre Cristóvão. Em 1864 foi demolida após decisão muito polémica das autoridades locais.

Para a Torre tinha sido encomendada muito apropriadamente uma estátua de São Cristóvão em 1496. Tinha 10 metros de altura e era de madeira.

Mas em 1526 chegou a Reforma a Berna e a presença de santos na via pública viu o seu fim.

Mas pragmáticos, os habitantes de Berna resolveram manter a estátua. Tiraram-lhe o Menino Jesus e o halo do Santo, puseram-lhe um chapéu, uma espada e uma alabarda no lugar do atributo do tronco da árvore. O santo transformou-se num guerreiro que guardava a Torre.

Uma aguarela de 1818 mostra-nos a Christoffelturm junto à Igreja do Espírito Santo:

 


Outra representa a Torre no fim da Spitalgasse:

 



Quando da decisão de demolição debateu-se o que fazer com a estátua. O Conselho da cidade resolveu preservar as partes historicamente interessantes da estátua como a cabeça, as mãos e os pés. Ao menos salvou-se alguma coisa…

Assim, no Museu Histórico de Berna, se estivesse aberto, poder-se iam ver hoje a cabeça e um pé do nosso Santo depois de tantas vicissitudes ao longo de 600 anos.




O local onde estava a torre hoje é assim:



Para terminar tínhamos de chegar a Portugal. À cidade de Tomar.

Numa das entradas da cidade, na Ponte Velha, existiu outrora uma estátua de pedra representando São Cristóvão. Foi mandada colocar em 1710. Correu que o pó das pernas da estátua tinha poderes curativos. O povo passou a raspar as pernas do Santo, o que não beneficiou a saúde da estátua.

No início do Século XX havia pessoas que se lembravam da estátua.

O que é certo é que uma investigação do blog cethomar encontrou no diário de um viajante inglês chamado Robert Southey (1774-1843) a seguinte entrada correspondente a Tomar e ao dia 1 de Março de 1801:

(…) Há uma estátua numa das extremidades, tão desgastada pelo tempo, que a tosca aparência da criança que está nos seus braços seria insuficiente para identificá-la como São Cristóvão sem a ajuda da tradição. As pernas estão esburacadas sem piedade, porque se considera que alguns dos grãos da perna de S. Cristóvão, tomadas num copo de água, são um remedo excelente para as sezões. (…)” in “Journals of a Residence in Portugal, 1800-1801”

 


O que aconteceu à estátua? Ou caiu para a água e juntou-se ao entulho do rio ou foi recolhida. Uma das possibilidades é tratar-se de alguma das estátuas que hoje se encontram no Convento de Tomar e nas suas imediações:




José Liberato



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