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O meu grande
amigo João, o maior contribuinte líquido do Malomil, mandou-me estas imagens de
nascimentos no mar. Adepto dos ensinamentos do obstetra Igor Tcharkowsky, o
casal Bagrianski decidiu que todos os seus filhos veriam a luz do mundo dentro do oceano. Entre 1986 e 1992, o pai Vladimir registou para a eternidade possível o parto subaquático dos seus quatro
filhos.
Em resposta
a mais um gesto generoso do João, enviei-lhe algumas imagens de A Mother’s Journey, da autoria da fotógrafa Renée C. Byer, que em 2007 ganhou um Pulitzer com esse projecto.
Durante um ano, Renée Byer acompanhou a luta de Cyndie French contra o neuroblastoma do abdómen que acabou por
vitimar o seu filho Derek, aos
10 anos de idade.
Perguntei ao João, que além de amigo bom é conselheiro prudente e sensato, se
publicar estas imagens não seria demasiado «forte». «Nada do que existe é
demasiado forte», disse-me ele. E tem razão. Já em tempos, publiquei aqui
imagens de uma mulher que morreu de cancro. Tudo isto pode parecer mórbido, doentio,
ou até, se quisermos, pornograficamente voyeur, pelo que implica de exposição da dor inútil e do
sofrimento estéril. Mas nada do que existe é demasiado forte. Nada do que existe tem de
ser resguardado ou subtraído do nosso pensamento, por muito que nos custe olharmos
a realidade que obriga a pensarmos nela. Tanto no mar onde nasce a vida como na terra que recebe a morte, esta é a realidade, inescapável.
Pode parecer estranho publicar em conjunto as duas
séries de imagens, já que uma celebra a vida, e vem da Rússia, e a outra
apresenta a morte em Sacramento, na Califórnia. Entre ambas, porém, há um traço de união, o amor. Ele, como sempre, dá coerência a tudo. A mãe Bagrianski nadou com o seu bebé em águas
translúcidas. Cyndie French deixou que Derek guiasse um automóvel pois sabia
que o filho nunca chegaria à idade de tirar a carta de condução. Aqui há vida e
há morte, mas sobretudo, acima e mais forte do que tudo isso, há duas mães com os
seus filhos.
Obrigado ao(s) autore(s) por publicar tudo isto assim, apesar das dúvidas.
ResponderEliminarOs olhos húmidos (eufemismo) valem a pena.
obrigada por manter este blog
ResponderEliminarObrigado a ambos.
EliminarAntónio Araújo
Eu gostaria de parabenizar pela matéria, que só hoje tive a oportunidade de ler, e ver a grandiosidade da vida e a da luta pela vida.
ResponderEliminarCom toda a felicidade da chegada de um novo ser, coberto de todo o carinho e amor, e a luta incessante de uma mãe pelo conforto e sonhos de um ser que da mesma forma, coberto de carinho e muito, muito amor.
Gostaria de passar para Cyndie French, essa mãe guerreira, paciente, carinhosa e tão vitoriosa, por ter conseguido passar para seu filho, uma criança que batalhou pela vida e que foi chamada para um ponto mais alto, onde tudo começa, e onde nada termina. Um lugar, que certamente não terá que lutar com a dor como lutou. Sei que só quem passou o que ela passou, pode saber o que realmente sentiu e sente até hoje.
Que Deus a abençoe e proteja sempre e sempre.
Obrigado pela matéria tão limpa, verdadeira e grandiosa, onde foi respeitado a alegria e a dor das pessoas envolvidas...