sábado, 28 de setembro de 2013

O outro Sousa Tavares.



 


 







Há canalhas invejosos que dizem que o sucesso de Miguel Sousa Tavares se deve apenas ao apelido que ostenta, que a sua carreira foi feita à conta de ser filho do Tareco e da Sophia. Outros, com ciumenta maldade, não compreendem que alguém de bom senso tenha publicado o inenarrável Show Me Rio, de Rita Sousa Tavares, onde esta moça, filha de Miguel, alinhava meia-dúzia de linhas com tiradas originalíssimas, tais como: «a minha pátria é a língua portuguesa». Dizem mal, caluniam. Tudo inveja, o pior dos pecados.
Ora aqui temos outro Sousa Tavares. Este, coitado, enfrentou um destino diferente: não medra, não progride, não sucede no sucesso. Em suma, não sai da cepa torta. Nuno de Sousa Tavares. Digno de figurar na rubrica Perguntais, e muito bem: quem é este marreco?, que já dedicámos a outro cromo parecido, o Chagas Freitas. Este marreco Nuno, atenção, é um escritor. Escritor no sentido em que escreve letras que formam palavras, e palavras que, quando colocadas umas a seguir às outras, formam frases. Frases que formam parágrafos e por aí adiante. Mas, mais do que isso, Nuno de Sousa Tavares é um ficcionista. Com desarmante candura, afirma que começou a escrever porque alguém lhe disse que «tinha algum jeito para criar enredos». Com algum jeito ou sem ele, o certo é que já conta e canta com mais de meia-dúzia de romances, todos completamente escritos.   

Nuno de Sousa Tavares faz tudo o que mandam as regras do sucesso. Criou até um site oficial: http://www.nunotavares.com/. E o que tem ele lá no site oficial? «O site de Nuno de Sousa Tavares é o sitio do escritor onde os visitantes podem desfrutar de histórias completas e originais». Belo. Indo ao site do bicho podereis desfrutar, portanto, de histórias originais e, além disso, de histórias completas, o que, convenhamos, é muito prático. Então, porque não desenvolve públicos, não conquista audiências? As capas dos livros são apelativas, estimulantes. Os títulos, muito promissores, desde o ascético O Que o Dinheiro Não Compra até ao lamuriento latino Nunca Neva no Meu Aniversário, passando pelo manual de engate Deixa Que o Amor Seja a Tua Energia ou o pouco cómodo Dançando no Violino. Acham foleiros os títulos? Olá, Madrugada Suja não é propriamente uma beleza... Aliás, em matéria de títulos, Miguel Sousa Tavares não é bem literatura, é mais assim um compêndio de Ciências Geográfico-Naturais do 7º ano unificado. Na bibliografia de MST há um deserto (No Teu Deserto, 2010) e, consequentemente, um oásis (Um Nómada no Oásis, 1994). Há linhas imaginárias (Equador, 2003) e pontos cardeais (Sul. Viagens, 2004). Em matéria fluvial, dois rios e respectivos afluentes: O Segredo do Rio, de 2004, e o Rio das Flores, desaguado em 2007. Nesta cosmogonia de banalidades, deparamos também com um planeta (O Planeta Branco, 2005) e com um continente inteiro, tingido a negro (Ukuhamba. Manhã de África, 2010). E quanto a foleirismo? Não Te Deixarei Morrer, David Crockett… estamos conversados. Pois é, se tivesse sido este Nuno a publicar Não Te Deixarei Morrer, David Crockett, estava tudo no gozo, e até blogues idiotas como Malomil iam meter-se com o desgraçado do rapaz. Mas, como é o Miguelito Andresen, que fala para o mundo com aquele ar altivamente enfastiado de quem acabou de fazer uma colonoscopia, aí tudo se perdoa, tudo se desculpa. Tudo se explica e justifica. Injustiças... A vida é madrasta, Nuno, muito madrasta. Mas tu não ligues: força aí, homem, força nisso. Continua a dar na escrita. Grande abraço.
 
 
António Araújo
 
 

 

9 comentários:

  1. Autodefine-se é muito bom. Será de um sousa tavares?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Autodefinição de autodefinição:

      http://aulete.uol.com.br/nossoaulete/autodefini%C3%A7%C3%A3o

      Eliminar
    2. faço um desenho: autodefinição, substantivo, existe e é como diz a 'Ação ou resultado de definir a si mesmo', não é a acção de autodefinir-se, verbo que não existe pois seria manifestamente disparatado, por redundante. Auto- e -se significam a mesma coisa; não é preciso repetir. Não é preciso 'autorreconhecer-se' ignorante, basta reconhecer-se. Está claro que com um ano de grego no liceu estas vergonhas seriam evitadas.

      Eliminar
    3. A

      A

      A

      A


      (au.to.de.fi.nir -se)

      v.

      1. Definir a si mesmo, seu próprio caráter ou suas características, suas opiniões ou posturas quanto a algo etc. [int. : O jovem tem dificuldade para autodefinir -se] [tp. : Ela autodefiniu -se como independente.]

      [F.: aut(o)-1 + definir + se1.]


      Read more: http://aulete.uol.com.br/autodefinir-se#ixzz2gIYy6XeS

      Eliminar
  2. deleitai-vos:

    «AMOR, GLÓRIA E... MUITA AREIA

    CAPÍTULO I
    Decorria o ano de 1995, mais precisamente em Maio. Eu, Marco Oliveira, tinha na altura vinte cinco anos, feitos havia quinze dias.
    Durante cinco anos, andei na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, a tirar um curso de Ciências do Desporto. Sempre fui um desportista e gostava de participar em competições desportivas. Porém, nunca tivera oportunidade para o fazer, limitando-me a corridas pelo jardim ou jogos de futebol com os amigos.
    Nesse ano viria a terminar o curso, pois já só faltava uma cadeira. Bastava, para isso, ter aprovação no exame que iria fazer, no principio de Junho.
    Devido a ele, eu passava o dia todo a estudar. Só parava para comer e dormir. Era, mesmo, exagerado na absorção que empregava no estudo. Os meus pais insistiam comigo para que parasse um pouco e fosse apanhar ar.
    Tanto insistiram que eu acabei por ceder. Eles tinham razão, estudar em excesso era tão prejudicial como não estudar. Tudo deve ser feito com conta, peso e medida.
    Certa noite, depois do jantar, decidi sair para tomar um café. Apesar de viver na Avenida do Brasil e ter um café à porta de casa, não fui lá. Preferi ir mais longe e beber o café na Avenida de Roma, perto da Praça de Londres.
    Desci até à rua, entrei para o carro e segui rumo ao local planeado.
    A noite estava abafada e ainda não escurecera totalmente. Eu circulava pela avenida em ritmo de passeio e com as janelas abertas para refrescar. Poucos minutos mais tarde, cheguei à Praça de Londres, onde estacionei o automóvel. O resto do percurso fiz a pé.
    [...]»

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. e qué do percurso a pé pró café? Não teve vontade de fazer chichi pelo caminho? Não há umas garotas a passar? Olhe,daquelas do leite na gastronomia...

      Eliminar
  3. heróis sedutores:

    «Rafaela acabou por ficar, igualmente, intimidada e já não sabia o que dizer:
    — Eu... Bom... Como eu estava ali sentada... E como nós nos conhecemos...
    Perante um conjunto de frases sem nexo, tomei a iniciativa de a interromper e convidei-a a sentar-se e a fazer-me companhia.
    Ela sorriu, perdeu um pouco do nervosismo e sentou-se.
    Sentados à mesa, demos por nós a olhar um para o outro, sem saber o que dizer. Com tanta falta de vocabulário, peguei no jornal e refugiei-me na leitura. Enquanto ela olhava para todo o lado à espera que eu tomasse a iniciativa.
    Eu observava as letras, mas não as lia. A minha concentração centrava-se em tentar dialogar com Rafaela.
    À volta da mesa gerou-se um silêncio tão grande que ambos tivemos que falar. Só que, infelizmente, fizemo-lo ao mesmo tempo:
    — Marco!
    — Rafaela!
    A coisa ia de mal a pior.
    — Desculpa, diz tu. — entreguei eu a palavra.
    — Não, não era nada importante. Diz tu o que ias a dizer. — sugeriu ela.
    — Não, primeiro as senhoras. — contrapus eu.
    Com tanta indefinição, acabámos por ficar novamente em silêncio. E mais uma vez, eu olhei para o jornal e ela para as redondezas. Isto, por mais uns segundos que pareciam horas.
    A certa altura, ela olhou para mim e perguntou:
    — Então, alguma novidade?
    — Não e tu? — respondi eu, estupidamente, pois ela estava a referir-se às notícias do jornal.
    Com uma resposta tão absurda, Rafaela calou-se definitivamente.
    Eu, afogado no jornal, batalhava comigo mesmo para arranjar uma fonte de diálogo. Nunca houvera tanta timidez junta.»


    http://www.nunotavares.com/nst/component/content/article/5/5-l01c001

    (prometo que nao coloco mais :)

    ResponderEliminar
  4. Pedro Chagas Freitas não é só um escritor. Pedro Chagas Freitas promete, pela módica quantia de 257 euros, acompanhar-nos passo a passo na escrita e publicação da nossa Grande Obra. em doze semanas. para escreventes dos 16 aos 116 anos. sem sair de casa.

    http://www.pedrochagasfreitas.com/portfolio/publicacao-de-obras/

    Nuno de Sousa Tavares, tal como todos os Sousas Tavares desta vida, limita-se a escrever as suas obras e a partilhá-las com os idiotas desta vida.

    ResponderEliminar
  5. Só tenho pena que não se tenha explorado mais a vertente capas. Merece atenção.
    Quanto ao resto, é da pátria (e da província «intelectual») de valter hugo mãe e outros de semelhante quilate.

    ResponderEliminar