Esta tarde cacei sem arpão um
punhado de fotos na Galeria Açoriana do Museu da Baleação de New Bedford,
Massachusetts. Levei uns amigos por aqui de visita e aproveitei. Passo lá com
relativa frequência, até porque faço parte do Comité Luso, hoje liderado por um
dinâmico grupo de imigrantes, um pelo menos com experiência de baleação,
João/John Pinheiro.
Por falta de tempo, vão assim sem
lógica narrativa, ao calhas, apenas para darem uma ideia. E é uma simples
amostra.
Durante toda a história do museu, só
era dantes exibida a versão yankee. Dos Açores ou de açorianos,
mostrava-se uma arca e pouco mais. Há umas décadas, porém, a luta contra isso
foi desencadeada pela falecida Mary Vermette (o apelido é do marido; ela era de
ascendência terceirence, com o sobrenome Silva). Algo foi mudando aos poucos, a
princípio simplesmente para calar alguns protestos, mas sobretudo a partir de
um apoio do Governo Português concedido pela mão de Jaime Gama, dando força (o
dinheiro faz falar...) ao comité luso, que havia sido criado, já após o
falecimento da Mary. A Galeria Açoriana foi inaugurada há alguns anos. Já
não mais timidamente, agora ali está em pleno, graças ao empenho da nova
direcção, liderada por James Russell. Há até legendas em português e um vídeo
narrado em inglês mas legendado em português.
Durante anos mantive com a antiga
administração uma luta de bastidores para que pusessem numa parede do museu a
frase de Herman Melville que encontrei no Moby Dick (cap. 27): Um não
pequeno número destes marinheiros da baleação vem dos Açores.... Como assim é,
não há explicação, mas os ilhéus [Melville fizera também referência aos
islandeses e aos caboverdianos] parece que produzem os melhores baleeiros.
(Hoje os caboverdianos que, como os açorianos, têm uma forte comunidade em New
Bedford, são igualmente representados na sua galeria ao lado da açoriana.)
A nova gerência deu ouvidos à minha
sugestão e colocou a frase como que inibida. Achei que merecia mais
visibilidade e ela acabou por recebê-la. Melville é figura importante ali pois
o Moby Dick refere New Bedford, e especificamente uma capela logo do
outro lado da rua do Museu, a Seamen’s Bethel, onde os baleeiros iam rezar
antes de largarem em viagem e onde o próprio Melville esteve também antes da
sua. Daí a alusão a ela no seu clássico. E daí também a minha insistência em
dar mais relevo à frase sobre os ilhéus.
As outras imagens são de uma réplica
de um barco, o Lagoda (metade do tamanho natural), esqueletos de baleias
(autênticos), e um quadro do meu favorito William Bradford, de New Bedford –
autor de vários óleos sobre baleação no Círculo Polar Ártico.
Onésimo
Teotónio de Almeida
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