terça-feira, 1 de maio de 2018

Maio, mês de Carolina.

 
 
 


 
 
         O Le Monde publicou um excelente fora-de-série sobre o mítico Maio, trazendo na capa a célebre fotografia da «Mariana de 68», assim chamada pela comparação óbvia com o quadro de Delacroix.

Procurei pela moça da imagem captada por Jean-Pierre Rey em Paris, na place Edmond Rostand, a 13 de Maio de 1968, mas estava receoso que os franceses, menos despertos para o follow-up do que os americanos, lhe tivessem perdido o rasto.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
Não. A rapariga hoje mulher chama-se Caroline de Benderm e por três vezes tentou impedir judicialmente que a fotografia, originalmente divulgada pela revista Life, fosse republicada: em 1978, em 1988 e em 1998, Caroline foi aos tribunais em defesa do seu direito à imagem. Perdeu sempre, 1978, 1988, 1998, nas datas de comemoração de Maio (em 2008, terá desistido, pelo que é pouco provável que meta nova acção em 2018). Firmou-se jurisprudência em redor da foto, considerando os magistrados que a mesma, tirada num local público, ilustrava um facto histórico, pelo que a privacidade da retratada e o seu direito à imagem teriam de ceder perante a força das coisas, o movimento do colectivo. Talvez seja esta uma metáfora curiosa, talvez, mas não entremos por aí. Reparo agora que o Pedro Mexia já lhe fez a biografia, ou pelo menos  parte dela, em 2008, nas páginas do Público (aqui). Inglesa, jovem problemática, expulsa de vários colégios britânicos, modelo sem grande rasgo, neta de um conde que a exterminou do testamento assim que a viu em pose nas ruas de Paris, Caroline de Bendern viveu – ainda vive? – no opulento Monte Carlo, mas diz que nunca se arrependeu do que fez em Maio. Deserdada, passou a vida a processar o fotógrafo Rey. Perdeu sempre. Casou-se com o compositor Jacques Thollot, que morreu em 2014. Fez uns filmes por volta de 1968 e 1969, um dos quais tinha o Maio como pano de fundo (foi também estrela numa curta-metragem chamada Un film porno, rodada justamente em 1968 e dirigida pelo suíço Olivier Mosset, que terá decerto um pano de fundo que não o Maio de 68, nem sequer surgindo na filmografia oficial de Mosset nem da produtora, a fantástica Zanzibar Films). Avançamos também um vídeo do Youtube com uma cena do filme «À l'intention de Mademoiselle Issoufou à Bilma», película afro de 1971.
 
 
Un film porno, 1968
 
 
 
 
Além destes filmes de intervenção, a  acção política mais recente de Caroline foi contra o Brexit e a xenofobia, informa o Guardian.
E quem quiser falar com ela, encontra-a agora no Facebook. Join Facebook to connect with Caroline the Bendern. Sinal dos tempos. 
 
 
 
 
 
 
 
 

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