quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Desaparecer na Escuridão.

 

 
 
 
         Acabado de sair, já com uma notícia no SOL, aqui, e uma recensão muito positiva no EXPRESSO, Desaparecer na Escuridão é, para quem goste de policiais e sobretudo de true crime, um livro de leitura compulsiva. Não se consegue parar enquanto não se assassinam as mais de trezentas páginas em que se contam os horrores de um violador e homicida em série que assolou a Califórnia nas décadas de 1970 e 1980. Talvez as partes mais interessantes do livro sejam aquelas em que a autora, com um pormenor milimétrico, descreve os bairros de classe média e média-alta onde o predador atacava as suas presas, o quotidiano destas, os seus percursos de vida, conformistas ou atribulados. Num certo sentido – e perdoe-se a observação óbvia e banal –, a autora foi a derradeira vítima do Golden State Killer. A obsessão em apanhá-lo destruiu-lhe a vida: Michelle McNamara morreu devido a uma overdose de tranquilizantes, dos calmantes que tomava para aplacar a ansiedade tremenda suscitada por uma busca insana e insone que, tragicamente, não chegou a concluir com sucesso. Agora, que localizaram o presumível criminoso (por favor, só leia isto ou isto depois de ler o livro), e por mais que as autoridades digam que o livro de Michelle nada contribuiu para isso, o certo é que o seu blogue e os seus escritos mantiveram acesa a paixão por descobrir o assassino-violador em série. Por outro lado, McNamara tem a intuição certeira do potencial extraordinário do cruzamento entre o ADN e as bases de dados genealógicas, um método de investigação que levanta dúvidas éticas, sem dúvida, mas que produz resultados espantosos – como agora se viu. Estamos já muito longe dos métodos do profilers que vimos em O Silêncio dos Inocentes, a propósito do qual foi agora publicado um livro lido há anos, Mindhunter – e cuja edição actual, entre nós, peca por tardia, servindo apenas para acompanhar a série da Netflix com o mesmo nome ou como documento histórico sobre o modo como num passado não muito distante o FBI caçava, ou não, os serial killers. Não são técnicas de há muitos anos e nem se encontram sequer inteiramente ultrapassadas – mas, com as novas metodologias, tudo parece de um passado distante e escuro. Recomenda-se muitíssimo Desaparecer na Escuridão. Não tem, de modo algum, a densidade de O Meu Quarto Escuro, nem Michelle McNamara é James Ellroy. Em todo o caso, uma grande leitura de férias, enquanto aguardamos o desfecho do caso do Golden State Killer, capturado há um par de meses.

 



 

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