terça-feira, 21 de agosto de 2018

Passeio ao Inferno.

 
 






















Estou a ler um livro fascinante sobre os viajantes estrangeiros no Terceiro Reich. Interessantíssimo. Percebe-se ali, de uma forma muito precisa e exacta, a ascensão de Hitler ao poder – e o modo como alguma complacência das elites anglo-saxónicas ajudou à tragédia. Nem todas eram favoráveis ao nazismo, longe disso. Mas muitas partilhavam o seu anti-semitismo; outras, apesar de críticas, não deixavam de enaltecer a «ordem» que o Führer trouxera a uma Alemanha dilacerada pelo Tratado de Versalhes e pela hiperinflação. Só poucos, muito poucos, se aperceberam do que estava em causa e em curso.
Receio que, com as devidas e grandes distâncias, estas «viagens» pela Coreia do Norte tornem o regime de Pyongyang mais palatável aos olhos do Ocidente. Não vemos mortos nem fome, apenas cidadãos bem nutridos em figuras patéticas, quando muito, mas nada de ofensivo ou cruel. Não é por acaso que a Coreia do Norte permite estas viagens, como aquela que são feitas, imagine-se, pela empresa Pinto Lopes, com José Luís Peixoto por cicerone (ver aqui). Parece a Thomas Cook na Alemanha hitleriana. Uma coisa destas devia ser motivo de escândalo: imagine-se que havia uma agência de viagens que organizava excursões à Alemanha nazi, pagando ao Reich em dólares, ou agora euros, ou noutra moeda forte. Contribuindo, no fundo, para a perpetuação de um sistema que, além de um perigo nuclear para a Humanidade inteira, deixa morrer à fome milhões de norte-coreanos. Milhões, leram bem. Pois é aí que se faz turismo, enchendo os cofres da dinastia Kim.
No caso em apreço, o fotógrafo Carl De Keyzer fez quatro viagens à Coreia do Norte entre 2015 e 2017. Passou lá 60 dias. A fotografar à vontade, livremente? Duvida-se. Duvida-se mesmo. Em resultado dessas viagens, surgiu um livro, claro. (ver aqui)
O leitor que aprecie e veja; pense e medite, conclua se isto é bem feito ou não. Por mim, tenho as maiores dúvidas, mas não certezas absolutas a favor ou contra.
 
 
 
 

 

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