terça-feira, 7 de maio de 2019

A fábrica da nostalgia.





70, 80, 90, o mercado da nostalgia está em alta em Espanha, mais até do que em Portugal, onde também rende e prospera. Não é bem uma recordação nostálgica, ou sequer feliz. Pelo contrário. O livro Espectros de la Movida. Por qué odiar los años 80, de Víctor Lenore, é, como o título indica, uma diatribe contra a falsa ilusão de que a década de 1980, com Tierno Galván e Pedro Almodovar, foi uma década de ouro da modernidade espanhola. Há quem procure mesmo, isso sim, valorizar os anos 90, que, por serem mais recentes, ainda não foram muito bafejados pela onda nostálgica. O livro de Eduardo Maura, Los 90. Euforia y miedo en la modernidad democrática española não é bem uma digressão laudatória pela década de 1990, antes uma análise distanciada – e informada – de um período ainda mal estudado. Diferente, muito diferente, é a abordagem hipernostálgica dos anos 70, com muita e abundante iconografia (claro!), da autoria de Xavier Gassió (que já se debruçara sobre os 80). O livro, acabado de sair em Espanha, é um luxo para quem gosta de recordar. Coisas típicas de Espanha, outras que chegaram até cá. Um reparo: muito do que ali se fala não é próprio nem exclusivo dos anos 70, às vezes vinha de trás. Mas, para acompanharmos o tempo da transição, a presença da Igreja, de um lado, e a erupção do erotismo e do porno, por outro, este é um livro que vale muito, muito a pena. De permeio, hábitos de consumo, publicidade, as crianças e o seu mundo, os tebeos juvenis, as películas dobradas, as séries da TVE, tudo enfim que nos faz amarmos Espanha. Saudade do que não vivemos, o mais paradoxal – mas mais autêntico – dos sentimentos nostálgicos.
 









 






 

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