segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Isto, eu vi.

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Imagem da Terra, captada por Scott Carpenter (1962)
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Em Maio de 1962, Malcolm Scott Carpenter, de 37 anos, tornou-se o segundo norte-americano a fazer a órbita da Terra, enquanto pilotava a nave Aurora 7. Na véspera desta missão, o seu pai, Marion, escreveu-lhe a seguinte carta:  


M. Scott Carpenter
Palmer Lake
Colorado
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Meu querido filho,

...Apenas algumas palavras na véspera da tua grande aventura, para a qual te treinaste e que aguardas há tanto tempo – para te dizer que todos a partilhamos contigo, como se estivéssemos no teu lugar.

...Como julgo que te disse no início do programa espacial, és um privilegiado por participar num projecto pioneiro em grande escala – na realidade, a maior escala alguma vez conhecida do Homem. Atrevo-me a predizer que, depois de todas as manifestações de júbilo terminarem e quando o clamor público não passar de uma memória, gozarás com enorme satisfação o conhecimento sereno de quem descobriu uma nova verdade. Poderás dizer a ti próprio: isto, eu vi; isto, eu vivi; isto, sei que é verdade. Esta é uma experiência preciosa, que acontece a todos os investigadores, qualquer que seja o seu domínio de trabalho, que descobriram novas verdades.

...É provável que saibas que não sou propriamente uma pessoa religiosa, pelo menos no sentido de seguir uma das numerosas confissões oficiais. Contudo, não consigo conceber que um homem, dotado de intelecto, ao aperceber-se da ordem do universo que o rodeia, a glória do cume de uma montanha, a plumagem de uma ave tropical, a intrincada complexidade de uma molécula de proteína, a absoluta e imutável perfeição de um cristal de sal, possa negar a existência de um poder superior. Que decida chamar-lhe Deus ou Maomé ou Buda ou Mulher Torquoise ou Lei da Probabilidade, isso pouco importa. Quando escrevo, muitas vezes vejo-me a apelar à Mãe Natureza para explicar certas coisas e a dizer que Ela é a responsável pela ordem do universo. É uma divindade que aprecio. Por isso, peço-lhe que Ela olhe por ti e te guarde e, se o desejar, que partilhe contigo alguns dos segredos que geralmente revela aos que têm um desígnio elevado.

Com todo o meu amor,

  Pai





Tradução: António Araújo

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