sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Dúvidas de cronologia.

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Entrada da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Lisboa



O Diário do Minho, na sua edição de 8 de Outubro de 2009, divulga um livro do Senhor Cónego João Seabra, intitulado “O Estado e a Igreja em Portugal no início do Século XX. A Lei de Separação de 1911”, que reproduz, talvez mais condensadamente, a tese de doutoramento defendida pelo seu Autor em Janeiro de 2008, na Pontifícia Universidade Urbaniana de Roma. O Senhor Cónego não é um qualquer vulto ignaro, bisonho e anónimo. É licenciado em Direito, pároco da Encarnação (no Chiado de Lisboa), Promotor de Justiça e Promotor do Vínculo do Tribunal Patriarcal de Lisboa, além de Assistente Diocesano do movimento religioso “Comunhão e Libertação”. A propósito do seu livro, o Diário do Minho titula que “Bispos e Clero foram precursores da separação Igreja-Estado”. E porquê ? – pergunta a nossa espessa ignorância. O jornal explica: “Na tese recorda que foi o próprio Arcebispo de Évora da altura, D. Augusto Eduardo Nunes, quem manifestou a Teófilo Braga e a Afonso Costa, seus colegas estudantes em Coimbra, abertura da Igreja para rever o estatuto de que gozava na Monarquia e “que não se podia manter”. Confesso que desconhecia completamente que o estudante Augusto Eduardo Nunes, mais tarde Arcebispo de Évora, tivesse sido colega de Teófilo Braga e de Afonso Costa.

Teófilo Braga iniciou o seu curso na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, vindo da sua ilha açoriana de S. Miguel, no ano lectivo de 1862-1863. Concluiu o 5º ano em 1867 e, tendo sido estudante aplicado, foi convidado a doutorar-se, pelo que se matriculou no 6º ano em Outubro de 1867, defendendo com êxito a sua tese em Julho de 1868. Como entretanto se casara, nesse mesmo ano de 1868 foi para o Porto, aí tendo vivido, na casa dos sogros, com a sua Mulher. Em 1872 concorreu com êxito à cadeira de Línguas e Literaturas Modernas do Curso Superior de Letras e transferiu o seu domicílio para Lisboa.

Por outro lado, houve um Costa a formar-se em Direito em Coimbra em 1868. Mas não era o Afonso Costa da famosa “Lei da Separação” (1). Era antes o seu progenitor, Sebastião Fernandes da Costa. O Afonso Costa colega do mui distinto Arcebispo de Évora abria os olhos ao mundo pouco antes da mudança de Teófilo Braga para a capital. É que nasceu em Março de 1871. E, apesar de muito dotado, o futuro legislador republicano só se inscreveu no 1º ano da Faculdade de Direito no ano lectivo de 1887-1888, tendo concluído a sua licenciatura em 17 de Janeiro de 1895. Ou seja: é uma completa impossibilidade cronológica que Teófilo Braga tenha sido colega de Afonso Costa nos estudos jurídicos da cidade do Mondego. (...)








(1) - Fiz correcção desta passagem do texto no dia 10 de Outubro, após ter recebido do meu fraterno Amigo Doutor Bigotte Chorão a indicação do nome próprio do pai de Afonso Costa, o qual não dava pelo mesmo nome do seu filho, mas sim pelo de Sebastião.


Amadeu Carvalho Homem, aqui

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