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A “depravação sexual” dos pinguins ficou um século no armário
Público, 10.06.2012
Hugo Torres
,Público, 10.06.2012
Hugo Torres
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George Murray Levick foi um pioneiro no estudo dos pinguins-de-Adélia. Entre 1911 e 1912, acompanhou um ciclo inteiro de reprodução desta espécie, na Antárctida, algo que até hoje mais ninguém fez. Mas não publicou todas as suas descobertas: o capítulo sobre os hábitos sexuais destes pinguins foi deliberadamente escondido, devido aos “horrores” que continha.
No Verão que passou no Cabo Adare, a estudar estes animais, Levick começou a testemunhar algo de que não estava de todo à espera – e que muito o chocou. Os pinguins-de-Adélia apresentavam comportamentos sexuais absolutamente desviantes para a norma de gentleman eduardiano, que incluíam violações, pederastia e necrofilia.
Uma “depravação impressionante”, para usar as palavras do cientista, que fazia parte da segunda expedição do famoso Capitão Scott à Antárctida. Levick assistiu a relações homossexuais, a “machos arruaceiros” – os quais culpava pelos hábitos sexuais de toda a comunidade de pinguins-de-Adélia – a forçarem fêmeas e crias a fazerem sexo com eles, matando-os por vezes, e ainda a machos a copular com cadáveres (da mesma espécie).
Dada a sensibilidade da informação, Levick decidiu anotar todas estas observações em grego, para que apenas pudessem ser lidas por pessoas letradas e preparadas para o seu conteúdo. Quando voltou a Inglaterra, publicou o seu estudo numa comunicação em inglês a que chamou Natural History of the Adélie Penguin. Não toda a história natural dos pinguins-de-Adélia. O capítulo dos hábitos sexuais da espécie foi separado, para produzir um número restrito de cópias que foram distribuídas por algumas pessoas dos círculos mais educados.
O conhecimento pioneiro de George Murray Levick ficou assim circunscrito a um pequeno grupo de especialistas – e desapareceu com eles. Cinco décadas mais tarde, estudos idênticos revelaram ao mundo os “horrores” que o inglês pretendeu manter sob segredo, a fim de preservar a decência. O que não se sabia na altura era que o inglês tinha sido o primeiro a descobri-los.
Até agora. Um curador do Museu de História Natural em Londres, Douglas Russell, descobriu uma cópia nos arquivos da instituição e decidiu publicá-lo no Polar Record, junto com uma nota analítica escrita pelo próprio Russell, e ainda por William Sladen e David Ainley. O trio de autores escreve que as observações de Levick eram “precisas, válidas e, em benefício da perspectiva histórica, publicáveis”, cita o Guardian.
Os comentários do cientista sobre o comportamento sexual da espécie, muitos deles datados, foram desvalorizados – sobretudo enquadrados no seu tempo e no contexto da viagem. A redescoberta do panfleto de Levick – que fundou em 1932 a British Schools Exploring Society, à qual presidiu até à sua morte, em 1956 – importa mais pelo conteúdo, apesar de algum dele estar já ultrapassado (hoje sabe-se, por exemplo, que a “necrofilia” nestes pinguins se deve ao facto de os animais reconhecerem a horizontalidade de um corpo como uma posição sexual).
Uma “depravação impressionante”, para usar as palavras do cientista, que fazia parte da segunda expedição do famoso Capitão Scott à Antárctida. Levick assistiu a relações homossexuais, a “machos arruaceiros” – os quais culpava pelos hábitos sexuais de toda a comunidade de pinguins-de-Adélia – a forçarem fêmeas e crias a fazerem sexo com eles, matando-os por vezes, e ainda a machos a copular com cadáveres (da mesma espécie).
Dada a sensibilidade da informação, Levick decidiu anotar todas estas observações em grego, para que apenas pudessem ser lidas por pessoas letradas e preparadas para o seu conteúdo. Quando voltou a Inglaterra, publicou o seu estudo numa comunicação em inglês a que chamou Natural History of the Adélie Penguin. Não toda a história natural dos pinguins-de-Adélia. O capítulo dos hábitos sexuais da espécie foi separado, para produzir um número restrito de cópias que foram distribuídas por algumas pessoas dos círculos mais educados.
O conhecimento pioneiro de George Murray Levick ficou assim circunscrito a um pequeno grupo de especialistas – e desapareceu com eles. Cinco décadas mais tarde, estudos idênticos revelaram ao mundo os “horrores” que o inglês pretendeu manter sob segredo, a fim de preservar a decência. O que não se sabia na altura era que o inglês tinha sido o primeiro a descobri-los.
Até agora. Um curador do Museu de História Natural em Londres, Douglas Russell, descobriu uma cópia nos arquivos da instituição e decidiu publicá-lo no Polar Record, junto com uma nota analítica escrita pelo próprio Russell, e ainda por William Sladen e David Ainley. O trio de autores escreve que as observações de Levick eram “precisas, válidas e, em benefício da perspectiva histórica, publicáveis”, cita o Guardian.
Os comentários do cientista sobre o comportamento sexual da espécie, muitos deles datados, foram desvalorizados – sobretudo enquadrados no seu tempo e no contexto da viagem. A redescoberta do panfleto de Levick – que fundou em 1932 a British Schools Exploring Society, à qual presidiu até à sua morte, em 1956 – importa mais pelo conteúdo, apesar de algum dele estar já ultrapassado (hoje sabe-se, por exemplo, que a “necrofilia” nestes pinguins se deve ao facto de os animais reconhecerem a horizontalidade de um corpo como uma posição sexual).
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Ruth Marten, Histoire Un-Naturelle, Les Phoques, 2011 |
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