sábado, 2 de junho de 2012

Figura d'urso.

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Em Maio de 2010, 225 membros da prestigiadíssima Academia Americana de Ciências fizeram publicar uma carta-manifesto na igualmente prestigiadíssima revista Science. Mostravam-se preocupados com as alterações climáticas e o aquecimento global. Para ilustrar a carta dos 225 cientistas, a revista colocou a imagem de um urso, só e triste, a flutuar num bloco de gelo, prova de que as calotes polares estão a derreter. A imagem era, de facto, impressionante. Havia apenas um pormenor aborrecido: não era verdadeira. A Science, a prestigiadíssima Science, tinha publicado uma fotografia falsa, manipulada, fotoshopada, adquirida num banco de imagens. A culpa não era do banco de imagens. Na legenda da fotografia, pomposamente intitulada «The Last Polar Bear», indicava-se expressamente que a imagem em causa não era verdadeira: «This images is a photoshop design. Polarbear, ice floe, ocean and sky are real, they were just not together in the way they are now» (ver aqui). Mas alguém na redacção da Science achou-a bonita, impressiva, e decidiu publicá-la. Os leitores, de boa-fé, acreditaram na autenticidade e no poder daquela fotografia, avalizados por uma das mais conhecidas revistas científicas do mundo.
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A imagem da National Geographic/Getty Images

Quando o caso foi denunciado (ver aqui), a revista viu-se obrigada a mudar às pressas para outra imagem, da National Geographic/Getty Images, muito menos impressionante – mas, pelo menos, verdadeira (ver aqui). Era tarde, porém. Na edição online consegui-se dar um jeito, mas na versão papel a asneira estava (e está) feita. E assim, nas páginas de uma revista como a Science, a ilustrar a carta em que 225 investigadores proclamavam a verdade da Ciência, aparecia uma imagem falsa, manipulada. No melhor pano cai a nódoa. Esta figura d’urso é a prova do cuidado que devemos ter no uso dos bancos de imagens. Temos falado deste problema aqui no Malomil. E vamos continuar a falar.  Entretanto, prossegue a moda de exibir ursos polares angustiados pelo aquecimento global. Esperemos que a Time tenha sido mais cuidadosa do que a Science. Ou será que não? Estranho mundo este, feito de ilusões e manipulações.


António Araújo



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