Júlio Pomar
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Há dias, o correspondente da Agência Lusa nos EUA
contactou-me a pedir uma curta entrevista sobre o espólio de Hubert Jennings.
Vieram as perguntas. Aqui vão elas com as minhas
respostas:
- Que oportunidades de investigação podem abrir estes novos documentos?
Muitas para os
interessados na biografia de Pessoa, sobretudo na África do Sul, e nas
traduções para inglês.
- Que dimensão, e relevância, já tinha a pesquisa feita
sobre o poeta em Brown?
Na Brown organizámos
em 1977 o primeiro congresso internacional sobre Fernando Pessoa, de que
resultou o primeiro livro sobre Pessoa em inglês: Fernando Pessoa: The Man
Who Never Was (1980), editado pela Gávea-Brown. Foram professores na Brown
os primeiros dois tradutores americanos de Pessoa: Edwin Honig e George
Monteiro. O livro deste último (Self-Analysis and Thirty Other Poems, 1988)
foi também publicado na Gávea-Brown, que por sinal editou anos mais tarde uma
colectânea de estudos de Eduardo Lourenço sobre Pessoa traduzidos para inglês (Here
on Douradores Street: Essays on Fernando Pessoa, 2010). Na Brown leccionou
durante muitos anos esse grande especialista em Fernando Pessoa, o Prof. George
Monteiro, hoje aposentado, mas ainda associado ao Departamento de Estudos
Portugueses e Brasileiros como Emeritus. Entre muitos escritos seus sobre o
poeta contam-se os livros The Presence of Pessoa. English, American
and South African Responses (1998), Fernando Pessoa and Nineteenth
Century Anglo-American Literature (2000) e As Paixões de Pessoa
(2013). Eu próprio tenho publicado vários estudos sobre Pessoa e dois livros:
Mensagem - Uma Tentativa de Reinterpretação (1987) e Pessoa, Portugal
e o Futuro (Gradiva, Lisboa, 2014).
Faz parte da nossa oferta
de seminários um sobre Fernando Pessoa, por mim leccionado, para o qual costumo
convidar especialistas pessoanos de todo o mundo. No Departamento publicamos
também a única revista dedicada exclusivamente ao estudo de Fernando Pessoa: Pessoa
Plural, co-dirigida e liderada pelo grande especialista pessoano Jerónimo
Pizarro (que fez cursos na Brown), Paulo de Medeiros, Patricio Ferrari e por
mim.
Neste momento também
temos na Brown Patricio Ferrari, um dos membros da nova geração internacional
de pessoanos, que organizou aqui, em 2015, o primeiro colóquio sobre Pessoa
como poeta inglês. Um volume com os trabalhos apresentados deve sair em breve
na editora Gávea-Brown, coordenado por Patricio Ferrari. Ele foi também o
coordenador de um número especial da revista da University of Massachusetts
Dartmouth, Portuguese Literary & Cultural Studies, dedicado
inteiramente a Fernando Pessoa.
O que saiu na
comunicação social portuguesa?
Começou assim com o Correio
da Manhã em parangonas:
Universidade de Brown afirma-se
centro de estudos pessoanos e recebe espólio inédito
Por Lusa
Cerca de dois mil documentos sobre
Fernando Pessoa, encontrados num baú na África do Sul, no verão passado, que
incluem poemas, cartas e até um livro, estão a ser estudados na Universidade de
Brown, nos Estados Unidos. A doação a esta instituição dos documentos, que
pertenceram ao investigador britânico Hubert Jennings, especialista no escritor
português, pode causar surpresa, mas já nos anos 1970 a universidade de Nova
Inglaterra se começava a transformar num dos centros de estudos pessoanos mais
importantes do mundo. "Organizámos em 1977 o primeiro congresso
internacional sobre Fernando Pessoa, de que resultou o primeiro livro sobre
Pessoa em inglês", explicou à Lusa o professor catedrático da Universidade
de Brown Onésimo Teotónio de Almeida.
Assim, sem mais. Como se eu tivesse afirmado que
éramos um Centro de Estudos Pessoanos. Pior: a justificação para a escolha da
Brown para receber o espólio de Jennings ficou reduzida ao facto de termos
realizado aqui um congresso pessoano há quase 40 anos!
Outros media
fizeram algo parecido.
E assim se cozinham as notícias.
Onésimo Teotónio de Almeida
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