quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Vidas singulares: Paul Tibbets Jr.

 
 

 
O Jorge Almeida Fernandes, sempre amigo, mandou-me uma versão muito completa da história de Paul Tibbets (já agora, ver aqui), um piloto da Força Aérea dos Estados Unidos que tinha uma mãe chamada Enola Gay e que comandou um avião que tinha o nome da sua mãe. Após o lançamento da bomba de Hiroshima, Tibbets passou o resto dos seus dias perseguido pela explosão atómica, sendo ostracizado pelo que fez. Muitos viram nele a suprema encarnação do mal e da desumanidade, alguém capaz de largar uma bomba mortífera sobre 300 mil pessoas. Tibbets tinha na altura 29 anos. E todos os membros do Enola Gay levavam consigo cápsulas de cianeto – e a ordem de se suicidarem se acaso fossem apanhados. Ninguém, absolutamente ninguém, podia saber da natureza daquela missão. Aos 29 anos –  insistimos: aos 29 anos – Paul Tibbets Jr. tinha ordens expressas para matar todos os seus camaradas que recusassem suicidar-se. Se a isto juntarmos o comando do Enola Gay, não é fácil perceber que raramente um fardo moral tão pesado esteve aos ombros de um homem só. Um homem que já combatera os nazis, em 1942 e em 1943, e que já combatera os japoneses,  em 1944-45. Um homem só. Basta isso para que Tibbets mereça o nosso respeito, mesmo para os que achem que não é credor da nossa admiração. Paul Tibbets morreu em Columbus, Ohio, aos 92 anos.  Entrevistado poucos anos de morrer, e respondendo pela enésima vez  à pergunta sobre se sentia remorosos pelo que fez, disse:  “I had no problem with it. I knew we did the right thing. I thought, Yes, we’re going to kill a lot of people, but by God we’re going to save a lot of lives. We won’t have to invade Japan”. Muitos dizem que era uma forma de autodefesa como qualquer outra, que no mais íntimo de si Paul Tibbets Jr. carregou até ao fim dos seus dias a culpa pelas mortes de Hiroshima e Nagasáqui. Nunca o saberemos. De certo sabemos apenas que, com menos de trinta anos, aquele homem foi chamado a cumprir uma missão que o marcaria para todo o sempre. Trágico destino, o seu.




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