terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Os morenos da literatura.

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Ainda agora acabei de desembarcar no Malomil e já estou metido em sarilhos. Há dias, João Tordo não se guardou de manifestar o seu desagrado pelo texto «Grávidos de Literatura» e fez-me chegar esta mensagem:

«Caro João Pedro George,

julgo que não nos conhecemos, mas li um artigo teu chamado “grávidos de literatura”. Até achei alguma graça, sobretudo a parte que se refere à “mão” divina do Lobo Antunes; mas, depois, fazes uma citação do meu romance como se fosse uma citação de uma entrevista minha. Diz assim: “No princípio de Dezembro comecei a investigar a fundo a história de Catarina Eufémia. Uma vez mais, temo estar a mentir porque, em abono da verdade, foi a história de Catarina que me começou a investigar”. Na realidade, esse excerto é o princípio do segundo capítulo do livro, e não uma coisa que eu tenha dito, como queres fazer parecer no artigo: é uma frase do narrador da história e não minha. Posso assegurar-te que não estou “grávido” de literatura e que os meus romances dependem de muito trabalho de escrita, reescrita, comparação, estudo, etc. Como gosto de corrigir o que me parece errado, aqui fica a mensagem. E, por favor, não me coloques na mesma lista do que as louras da literatura: fica-me mal a mim e fica-te mal a ti. Abraço.»

Em obséquio do rigor, Tordo tem razão: aquela frase é do romance. Acontece, porém, que foi escolhida em detrimento de outra que o desmemoriado Tordo declarou à jornalista Maria João Caetano, do Diário de Notícias: «Eu descobri a Catarina Eufémia porque ela me foi acontecendo. Acho que foi mais ela que me descobriu a mim» (7 de Dezembro de 2011, p. 46). Mal por mal – ambas excedem as minhas piores conjecturas acerca da estéril retórica de alguns escritores portugueses, ambas são capazes de ombrear com a «mão divina» de Lobo Antunes, ambas são farinha do mesmo saco –, optei pela citação do romance.
Afora esta pequenina correcção, João Tordo achou ainda o seu prestígio posto em causa. Convencido de que está sempre a parir Alta Literatura, ocupado permanentemente com as coisas superiores da vida, Tordo sentiu-se ultrajado na sua masculina essência de «grande escritor» por ver-se enfileirado com as «louras da literatura». Então podia lá ser. Ele, Tordo, trabalha para ser imortal, cada página sua vale dez Margaridas Rebelo Pinto e dez Marias João Lopo de Carvalho. Ora, ora, João Tordo. Vou ter de ser muito franco contigo: ninguém é o que julga ser, nem ninguém é apenas o que parece ser. Sobretudo, não acredites em tudo o que pensas.
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                                                                                 João Pedro George

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3 comentários:

  1. Ou seja, voces nao se gramam e perdem tempo com isto como se tivesse qualquer interesse.

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  2. A discussão é boa e vem do post anterior.
    Ele há coisas do demo. O JPG tem razão: tenho uma coisa adiada porque não tenho possibilidade , agora, de ir a Burgos estudar a vida de Branca, a primeira mulher dô Pedro, o Cru.

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