sábado, 5 de maio de 2012

Ett barn blir till.

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revista Life, 1965



Homem do Espaço, 1967






















Ett barn blir till. Vi pela primeira vez as imagens de Lennart Nilsson há muitos, muitos anos, creio que numa revista das Selecções do Reader’s Digest. O seu livro mais conhecido data de 1963 e já teve várias edições. Ett barn blir till, no original sueco. A Child is Born, na edição inglesa/americana. Entre nós, apareceu ao mundo com um título pedagógico e desastrado: Como Nasce uma Criança.

Nascido em 1922, Lennart Nilsson  é um mestre da fotografia científica, estupidamente desvalorizada por certa crítica, e, facto menos conhecido, um pioneiro do fotojornalismo sueco. Ao longo dos anos, a sua técnica foi melhorando. As fotografias recentes são cada vez mais perfeitas e elaboradas, talvez mesmo demasiado perfeitas e elaboradas. É difícil imaginar a complexidade técnica que a captação destas imagens implicou. Justamente por isso, são as fotografias mais antigas que mais me fascinam, na inocência crua da descoberta selvagem. Granuladas, sem busca de enquadramentos artísticos, até mesmo despretensiosas. É assim, sem forçar o belo, que se faz justiça à beleza do que mostram. Sempre me espantou que Nilsson tirasse fotografias a crianças em gestação, crianças que estavam vivas e que iriam permanecer vivas mesmo após a intrusão do fotógrafo. Que será feito dos que foram fetos?

Não sei porquê, mas não consigo resistir a associar estas imagens às dos astronautas a caminhar na Lua (as crianças a flutuar no líquido amniótico parecem-me astronautas e, não por acaso, uma das mais famosas imagens de Nilsson, de 1967, chama-se «Homem do Espaço»). Associo-as também às fotografias da Terra vista da Lua (isso é  uma história muito grande…). E, mais ainda, aos majestosos Pilares da Criação, na Nebulosa da Águia, que o Hubble captou em 1995. Será um cliché místico afirmar isto, muito provavelmente. Uma pieguice tonta. Mas é assim que sinto. E pronto, já o disse.  


Os Pilares da Criação





As imagens de Nilsson foram muito usadas nas campanhas contra o aborto. Recentemente, porém, o fotógrafo gerou controvérsia ao retratar fetos resultantes de abortos legais. Mas não entremos hoje nessas guerras. Hoje, não, pelo menos. Amanhã é Dia da Mãe. Vi estas imagens centenas de vezes. Actualmente, temos ecografias tridimensionais, há muitas e muitas imagens como estas, há filmes e documentários da National Geographic, até com bichos na tundra e líquenes. Em 2006, L’Odyssée de la Vie, de Nils Tavernier. As minhas filhas espantaram-se, com encantamento e medo (o medo, atenção, é muito encantatório…), ao verem L’Odyssée de la Vie. Exactamente da mesma forma como eu, há muitos anos, me encantei ao ver as fotografias de Lennart Nilsson. Ainda hoje me surpreendo cada vez que as vejo, maravilhado de emoção e espanto. Tenho a sensação de que ali há qualquer coisa, não sei, que me está a escapar. É como com os Pilares da Criação, que nem sequer consigo conceber o que sejam, tal a sua ordem de grandeza. Por muito nítidas que sejam as imagens de Nilsson, por muito perfeita que seja a sua técnica, ali há também um mistério qualquer que me ultrapassa. A mim e aos outros. Algo que a todos transcende naquilo que julgamos ter de compreensão do mundo. É esse o prodígio. Muita tecnologia racional, muita complexidade, mas o resultado final é o oposto: onde há complexidade técnica, vemos uma coisa natural e simples; onde há racionalidade de processos, contemplamos a vida gerada, irrepetível. Irão ser felizes estas crianças? Morrerão cedo ou tarde? Terão doenças  e prenúncios da meia-idade? O fatal Alzheimer das árvores perenes? O sexo sueco da adolescência? Emprego seguro, Estado social? Incógnitas. Certezas, poucas. Uma vez na vida, pelo menos, irão entrar numa loja da cadeia IKEA. E de lá sairão com um mastodonte câmbrico para aparafusar em casa. Isso, é mais do que certo. O resto do futuro, filhos e netos, aparecerá ou não, como os morangos silvestres. Em todo o caso, é sempre prudente acompanhar a evolução das taxas de juro e as oscilações das temperaturas globais.


António Araújo     

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