terça-feira, 8 de maio de 2012

João Augusto Silva (1910-1990).

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João Augusto Silva, Auto-retrato








Retrato de João Augusto Silva, por Eduardo Malta

1ª edição

3ª edição




Crónica de Vitorino Nemésio




«Bom e velho amigo João Augusto Silva», assim lhe chamou Vitorino Nemésio numa crónica intitulada «Os Elefantes da Gorongosa» e publicada nos idos de sessenta. Nascido na Ilha da Brava em 1910 e falecido em Paço de Arcos em 1990, João Augusto Silva foi funcionário da administração colonial na Guiné, em Angola e Moçambique. Desenhador, naturalista, decorador e escritor, foi galardoado em 1936 com o Prémio de Literatura Colonial da Agência Geral das Colónias. Foi também caçador, tendo depressa abandonado a espingarda em troca da máquina fotográfica, com a qual se dedicou a captar imagens de uma das suas paixões maiores: os animais. Nascido em Cabo Verde, passou parte da infância na Guiné, terra a que regressará entre 1928 e 1936. Em finais dos anos 20, apresentava-se já numa exposição conjunta com o pintor e decorador Tom (Tomás de Melo). João Augusto Silva, que também assinou «Augusto» ou «João Augusto», destacava-se pela delicadeza do traço com que retratava os animais da selva africana, em forma estilizada, com uma enorme elegância formal. Foi escritor, também. A sua estreia no mundo das letras dá-se em 1936, com África: Da Vida e Amor da Selva, prefaciado por Eduardo Malta. O título da obra como que resumirá o essencial da sua vida de artista português de temática africana, uma vida de amor pela selva. O interesse pelos animais despertará nele, além da paixão artística, a curiosidade científica. Nessa qualidade, deu à estampa o livro Animais Selvagens: Contribuição para o Estudo da Fauna de Moçambique (1956). Mais tarde, O Comportamento dos Animais Perante o Homem (1963). Administrador do Parque da Gorongosa, será mais tarde Curador do Jardim Zoológico de Lisboa, de que publicou um Guia, em 1977. Sobre a Gorongosa, uma obra preciosa – Gorongoza: Experiências de um Caçador de Imagens (1964). Um ano depois, Selva Maravilhosa: Histórias de Homens e Bichos, narrativa ficcional baseada em recolhas da tradição oral moçambicana. Amante da Natureza, membro do Instituto de Investigação Científica de Moçambique, João Augusto Silva foi artista português e africano, cientista e escritor. Homem plurifacetado, culto, raro. A sua obra bem merece ser estudada e conhecida.

No momento em que escrevo estas linhas, uma exposição na Pierpont Morgan Library, em Nova Iorque, e outra no Grand Palais, em Paris. Ambas sobre os animais e a arte. Entre nós, nada – ou demasiado pouco para a riqueza do património que temos. Entre os animais e a arte, temos a rara arte de sermos animais muito selvagens – sem ofensa para estes, claro está.

António Araújo

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