sexta-feira, 20 de março de 2015

Portugueses na URSS. Entrevistas de Gina de Freitas.

 
 
 
 
 
 
O que me diz da situação financeira do escritor soviético?
− A situação financeira é óptima. É óptima, isto é, há uma segurança a partir de um certo grau de comercialização. Cada pessoa tem garantida de forma muito aceitável a continuidade da sua produção, E pode ser profissional a tempo completo. Têm segurança na doença, casas de repouso, casas de férias, enfim, é de facto uma situação esplêndida comparada com a de outros escritores dos países ocidentais, principalmente os pouco conhecidos ou ainda em começo de carreira.
(Maria Velho da Costa)
 
Que pensa do problema da repressão, a partir das impressões da sua viagem?
− Há os que dizem que ela há e os que dizem que não há. Se a repressão existe, eu só a posso ver pelo que não vejo, Mas como distinguir entre o que é repressão e o que é privação culturalmente condicionada por séculos de história? Daí que não saiba e não possa responder, sem repetir estereótipos positivos ou negativos que nenhuma experiência vivida fundamenta demasiado. Apenas o seguinte: nenhum socialismo pode existir sem que o Estado se vá extinguindo lentamente, e com ele se arruíne a repressão. Se é isso o que acontece, nada na minha viagem pode dizer sim ou não. Acrescentaria fraternalmente aos camaradas soviéticos: é isso o que eu desejo que esteja a acontecer.
(Eduardo Prado Coelho)
 
O que prova um poder de compra extraordinário, não é verdade?
− Pareceu-me haver, de facto, um grande poder de compra. E haver, realmente, disponibilidade das pessoas para gastarem, para comprarem aquilo que querem, para, quando vão ao teatro, beberem cocktails, comerem, enfim. Quer dizer, não se privarem de tudo aquilo que as pode tornar mais felizes, digamos, a nível imediato.
(…)
E parece-te que haja sobre essas pessoas qualquer espécie de vigilância, qualquer condicionamento de ordem política?
− Bem, eu considero ridículas as acusações que se fazem, a esse nível, à União Soviética. E penso que se deveria primeiro desmontar bem todos os mecanismos que, nos países ocidentais, e inclusivamente a nível de Estados-Maiores, de entidades como a CIA, orquestram uma campanha muito bem planeada contra a União Soviética e quanto ao problema das liberdades na União Soviética.
(Mário Vieira de Carvalho)
 
No contacto com a União Soviética, há alguma coisa que a tenha impressionado especialmente.
− A alegria do povo soviético. Contactei com vários casais soviéticos, mas um especialmente, de Kiev, que nos levou a muitos restaurantes e a muitos sítios, o que me possibilitou observar bem de perto a maneira de viver das pessoas. Há uma coisa, por exemplo, que neste país se está a perder, que é a alegria de conviver, o convívio público, a vida em comunidade. Na União Soviética, em qualquer restaurante se vê uma orquestra, há uma alegria extraordinária no povo.
(Fernanda Mestrinho)
 
 
(Portugueses na URSS. Entrevistas de Gina de Freitas,
Lisboa, Editorial Caminho, 1977)
 
 
 

6 comentários:

  1. Hoje, sem a URSS, onde iríamos entrevistar? E a quem...

    se bem que achei as respostas um quê estapafúrdias.

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  2. Um paraíso que se perdeu.E não quiseram ficar por lá?Vieram para estas misérias ocidentais?O depoimento do Prado filho é uma delícia.É uma chatice os povos fartarem-se de tanta fartura,acabam sempre nas misérias capitalistas,a porra do Homem Novo não há maneira de ser fabricado pelo socialismo científico,talvez com mais "porrada pelas cabeças abaixo"como defendia Lenine numa cartinha ao fiel Gorki.E uma Tcheka mais feroz,digo eu,talvez assim a malta se converta,ou se converte ou morre!"Não há cá meias-vias" ameaçava Vasco Gonçalves.E pode -se contar com os supra entrevistados,os que ainda viverem e não tenham apostatado,que isto de fezes...

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  4. Respondents were also asked to explain what they might see as positive and negative aspects of the Soviet system.
    In response, 33 percent credited it with good social security guarantees, stability and good care of people, 14 percent said it had been a system of justice and social equality, 9 percent said the Soviet Union was a land of rule of law and discipline, 7 percent praised the country's guaranteed employment, and another 7 percent claimed that people were more willing to help each other then than they are today.
    On the other hand, 9 percent criticized Soviet-era restrictions on rights and liberties, 7 percent accused the Soviet system of suppressing personal individuality, another 7 percent said shortages of basic consumer goods were that system's main defect, 6 percent slammed abuse of authority in that period and 5% condemned the repressive rule in the Soviet Union.
    By and large, 59 percent of respondents believed there were more positive than negative aspects to communism. In that category, 69 percent were people aged 60 or more and 47 percent people aged between 18 and 30.
    Moreover, 43 percent would have welcomed Russia's re-adopting the communist ideology, 38 percent were not happy with the idea, and 19 percent were undecided on this point.


    http://rbth.com/news/2013/10/12/about_60_percent_of_russians_see_communism_as_good_system_-_poll_30755.html

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  5. Ha pessoas que não trocam as suas ideias,são as que não tem ideias para trocar...

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  6. Gostei de MVC comparar os escritores aos trabalhadores da SICASAL a empacotarem salsichas numa linha de produção.
    Também diria que gostei de EPC mas não compreendi nada do que ele escreveu.
    MVC e FM pelo contrário são bem explícitos e se entrevistados hoje diriam exactamente o mesmo.

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