terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

E as crianças, senhores?

 
 



Os manuais escolares são caros – dizem-nos – porque obedecem a rigorosos processos de elaboração e controlo de qualidade. Equipas multidisciplinares, revisões catedráticas, autores vários para cada volume – tudo em nome da excelência no ensino. Manual escolar vindo de uma grande editora é sinónimo de saber testado, escrutinado, apurado, verificado ao milímetro. Sem falhas, uma máquina perfeita. Topo de gama.
Infelizmente, até os motores Ferrari gripam. Constipam-se, tossem, e lá se estampam os cavalos na curva sinuosa. No caso, apresenta-se o manual de Estudo do Meio do 4º ano de escolaridade, da autoria de Eva Lima, Nuno Barrigão, Nuno Pedroso e Vítor da Rocha, com a chancela da Porto Editora. Ostenta um curioso e muito instrutivo mapa na página 77. A Europa em todo o esplendor da sua decadência. A carta assinala aos alunos que países integram, ou não, a União Europeia. Pela sua leitura, graças ao estudo aplicado, ficarão as gerações do amanhã a conhecer cousas espantosas, novidades d’encantar. Por exemplo, que a pacata Suíça faz parte da União Europeia. E, não contente com abichar terras helvéticas, a voraz Bruxelas também incorporou o país dos fiordes. Sim senhor, a Noruega também faz parte da União Europeia. Os noruegueses acham que não, não querem entrar, nem sequer têm pendente qualquer pedido de adesão. Mas a Porto Editora, na sua infinita sabedoria, afirma o contrário. E é isso que é ensinado às nossas crianças do 4º ano de escolaridade. Perante uma calinada tão monumental – que só professores atentos e pais que acompanham os filhos nos estudos serão capazes de detectar e corrigir –, será que se aceitam devoluções? Dão-nos de volta os 11,29 euros que custou o manual se o entregarmos na livraria? E, já agora, havendo tanto controlo, tanta certificação, tanto autor para cada manual (só neste, são quatro), ninguém notou o erro? Pior, ninguém tem coragem para o denunciar? Manuais made in China? A palavra à Porto Editora e aos quatro distintos autores deste manual. Um pedido de desculpas, no mínimo. Nem isso? Pois.
 
 
António Araújo  
 
 

7 comentários:

  1. Aparentemente, a UE também anexou a parte da Turquia do lado europeu do Bósforo. Pelo menos há a desculpa de já terem o pedido de adesão!

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  2. Boa tarde,

    De facto, no manual escolar Alfa – Estudo do Meio 4, na sua reimpressão de 2014, o mapa em questão estava graficamente errado – o verde que identificava os países da União Europeia “invadia” territórios que não lhe pertenciam. Esse lapso na página 77, num livro de 160 páginas, foi sinalizado e corrigido a tempo da reimpressão de 2015 e da subsequente distribuição pelas livrarias, o que significa que a maioria dos alunos que estão a utilizar este manual não é confrontada com esta situação.
    É também um facto que a Porto Editora e os seus autores investem muito para que os seus livros escolares sejam “topo de gama” – e são-no, como é reconhecido pela generalidade dos professores, alunos, pais e educadores. São livros que exigem muitos, muitos meses de trabalho rigoroso, metódico, exaustivo, “ao milímetro”.
    Não somos, nem nunca assumimos ser, uma “máquina perfeita”, porque temos consciência da quase inevitabilidade do erro, o que nos dá a humildade de reconhecermos e de lamentarmos quando falhamos, mas também a energia e a capacidade de elevarmos a qualidade do nosso trabalho.

    Paulo Rebelo Gonçalves
    Porto Editora

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  3. Sr. Paulo Rebelo Gonçalves,
    A VW assume a culpa pelos erros ou lapsos e prontifica-se a indemnizar os consumidores.
    Além do discurso de spining, a Porto Editora tem problemas de resultados que a impeçam de encarar e expor uma forma de compensar erros crassos (uma folha de rectificação com nota pública)? Ou tem problemas de princípio em encarar a venda de um produto defeituoso com as responsabilidades daí advenientes?
    Gostava de conhecer a v/ posição, em função da humildade que nos transmite.
    Cumps.

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  4. Sra. ou Sr. Unknown
    Terei todo o gosto em esclarecer as suas dúvidas no momento em que assumir a sua identidade.
    Cumprimentos.
    Paulo Rebelo Gonçalves

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  5. Caro Sr. Rebelo Gonçalves,

    Não sou o unknown e peço perdão de me meter na conversa, sem pretender emitir o menor juizo sobre a pertinência das criticas do comentario anterior.

    Ocorre-me no entanto que, no seu esclarecimento, o Sr não precisou se a Porto editora, como seria sua obrigação e a minima das coisas, aceita substituir gratuitamente os livros com erro por exemplares corrigidos. Tera sido lapso da sua parte, mas julgo que o esclarecimento seria bem vindo.

    Nota de interesses : não adquiri o livro, nem na versão errada nem na versão corrigida, nem estou a contar adquiri-lo, não tendo filhos escolarizados em Portugal.

    Boas

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