quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Sangue frio.

 
 
Olof Palme (1927-1986)
 
 
 

         Continuando a saga dos policiais nórdicos, na versão true crime... há dias, falei aqui de One of Us, sobre o massacre da ilha de Utøya. Ocorreu-me agora lembrar outro livro, igualmente merecedor de registo e boa nota: Blood on the Snow. The Killing of Olof Palme, de Jan Bondeson.
 
 



       Este ano assinala-se o aniversário do misterioso homicídio de Olof Palme. Nunca se descobriu a identidade do assassino, o que deu azo a mil e uma teorias da conspiração, descritas por Jan Bondeson de forma notável, apaixonante. Os livros que Bondeson escreve não o tornam muito querido na academia (a que pertence, dando aulas em Cardiff). Mas li dois ou três, todos sobre temas bizarros e até horríveis (como Buried Alive), mas todos me pareceram apoiados numa sólida investigação, escritos de uma forma cativante. É o caso deste Blood on the Snow. Bondeson começa por descrever ao minuto os passos de Olof Palme e da sua mulher antes do assassinato: foram ao cinema, numa sexta-feira à noite, tranquilamente, sem segurança. O primeiro-ministro da Suécia ia ao cinema… de metropolitano. Depois, foi morto quase à queima-roupa, pelas costas, sendo a sua mulher também atingida no atentado. Bondeson relata ao pormenor, carregando um pouquinho as tintas, o amadorismo e a incompetência das autoridades policiais de Estocolmo e arredores. O que nos conta é de levar as mãos à cabeça! Depois, percorre uma a uma as principais pistas, e aí entramos no submundo da droga e do alcoolismo em Estocolmo, trilhamos a pista da «conspiração dos curdos» (em que o PKK era dado como o autor do homicídio), conhecemos uma estranha personagem, Christer Pettersson, que a mulher de Palme apontou, com 100% de certeza, como o assassino do marido. Condenado, recorreu, acabando absolvido – e morrendo depois. Jan Bondeson também avança no final a sua teoria – e, claro, uma bela teoria do domínio da conspiração... –, a qual envolve um negócio de armamento com a Índia. Mas o livro tem o bom senso de não ser todo construído em defesa dessa tese, que só surge nos derradeiros capítulos. Pelo contrário, é um retrato objectivo, informado e muito sério sobre o assassinato de Olof Palme, dando-nos igualmente, nas entrelinhas, um panorama pouco entusiasmante de alguns defeitos colaterais da social-democracia sueca e da teia de dependências e fidelidades obscuras que, ao longo dos anos, foi tecida em seu redor. O livro não é de agora, mas continua a ler-se muitíssimo bem e sem perdas de actualidade. Que eu saiba, é o melhor livro que existe sobre a morte de Palme (há-os aos montes, mas em sueco...). No aniversário da morte de Olof Palme, um policial real, melhor do que os de ficção.
 
António Araújo  
 
 

2 comentários:

  1. Eu ia dizer que concordava consigo, mas fui verificar e afinal o livro que eu li e adorei sobre o mesmo assunto não é este que refere. O que eu li, em tradução inglesa, é de um sueco chamado Leif GW Persson e intitula-se "Free Falling, As If in a Dream". Editado em Fevereiro de 2014. Ainda bem que fui verificar, pois já ia fazer encómios a um livro que, afinal, não tinha lido...
    Maria Teresa Mónica

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    1. Esse não conheço, Teresa. Vou ver já, obrigado!

      Com a amizade do

      António

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