sábado, 13 de fevereiro de 2016

«O barato sai caro».


 
 
 
Basil Hall Chamberlain
 
 
A tara pelo Japão leva a estas coisas. Pus-me a ler um livro de Basil Hall Chamberlain, já muito antigo, velho de quase um século, que saiu em tradução castelhana com o título «Coisas do Japão. Apontamentos e notas do Japão tradicional».

         Basil Hall Chamberlain (Portsmouth, 1850 – Genebra, 1935), membro de uma distinta família vitoriana, começou a trabalhar no Barings Bank de Londres (sim, esse mesmo) aos 18 anos de idade, abandonando o sonho de estudar em Oxford. Sofreu uma crise nervosa, o que é muito comum nos funcionários bancários, abandonou o emprego certo e a Inglaterra natal. Começou então uma viagem pelo mundo, terapêutica típica daquela época, e foi parar ao Japão. Aí cumpriu o desejo de ser professor, leccionando na Escola Naval Imperial de 1874 a 1882, sendo contratado em 1886 pela Universidade de Tóquio, onde ensinou até 1910. No ano seguinte, abandonou o Japão e fixou-se na Suíça, onde faleceria mortalmente no ano de 1935. Enquanto esteve no Oriente, escreveu vários manuais de aprendizagem da língua nipónica, colectâneas de contos tradicionais e guias de viagem. Foi tradutor e estudioso de japonês, sendo a sua obra mais famosa Coisas do Japão, que contém, mais ou menos sob a forma de dicionário, várias «entradas» em redor dos costumes e práticas ancestrais das terras do Sol Nascente.

         Saiu agora um outro livro volumoso sobre o Japão, Japan and the Shackles of the Past, de R. Taggart Murphy, que me parece obra do maior interesse. Já o livro de Chamberlain, não desfazendo, importa apenas pelo saboroso encanto de nos dar um olhar datado, mas ainda assim informado (e informativo) sobre curiosidades nipónicas, cousas que já se esfumaram na voragem da modernização. A dado passo, Chamberlain apresenta alguns provérbios ou ditos tradicionais do Japão, alguns merecedores de citação: «Mais vale educação do que nascimento» ou, num registo pouco correcto, «Nunca confies numa mulher, mesmo que seja a mãe dos teus sete filhos». Entre os provérbios japoneses, refere um, banal, e que bem conhecemos: «O barato sai caro». Ou, se preferirem o original: «Yasu-mono-kai no zeni ushinai.»

         O barato sai caro…  é também uma expressão vulgar na língua portuguesa, um provérbio ou dito que proferimos há muitos, muitos anos. Fiquei intrigado com isto, com esta afinidade proverbial. Teremos sido nós a levá-lo para lá, como às espingardas, ou terá vindo de lá para cá? Não sei, não sou especialista. Se algum leitor puder ajudar a deslindar este mistério, agradecia.
 
António Araújo
        

12 comentários:

  1. Haverá outra forma de falecer que não mortalmente? :)

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  2. Era uma figura de estilo, uma «brincadeira». Desculpe se não fui compreendido

    Um abraço cordial

    António Araújo

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    1. Ora essa, confesso que não entendi se era deliberado ou não, mas não tem que pedir desculpas nenhumas.
      Saudações!

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  3. Sobre Japão, e coisas da china - fiquei-me por Wencslau de Morais.

    Autor a recordar.

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  4. António Araujo, viva, precisava de um contacto para trocar consigo duas palavras - três, vá - mas não encontro email. Uma sugestão?

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    1. Rita, se pudesse enviar um mail para o endereço do blogue, agradecia: malomil.brindes@gmail.pt

      Cordialmente,

      António Araújo

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  5. Eu diria que "o barato sai caro" brotou naturalmente, um pouco por todo o planeta, alguns milénios antes da chegada de cascas de noz à Asia. Pouco depois da invenção do "quanto custa" e do "vi mais barato ali ao lado".
    Cumps,

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