Faz hoje 39 anos o futebolista que mais golos marcou na História, que mais
jogos, golos e assistências fez na Liga dos Campeões, troféu que conquistou por
cinco vezes; que mais jogos e golos tem pela sua, nossa, Selecção; que mais
cedo chegou à marca dos 1000 milhões de euros na conta bancária (finjamos que é
uma); que mais seguidores tem nas redes sociais. Aos 39 anos, ainda faz um golo
por jogo e é dele, aposto, o recorde mundial de banhos de gelo de um ser humano.
Não sei quanto a
vocês, mas hesito entre o Cristiano Ronaldo do Manchester United e o do Real
Madrid. O primeiro fintava um, dois, três, voltava ao segundo e ao primeiro,
partia-os de novo e ainda cruzava para golo ou estourava ao ângulo (meu pobre
FCP). O segundo quis ser ponta-de-lança e marcou mais de um golo por jogo: de
pé direito ou esquerdo, de cabeça a roçar nas nuvens, de bicicleta, calcanhar
ou ombro. Não sei qual foi o melhor CR7, se o “inglês” ou o “espanhol”. Só sei
que ele tem sido um portento ao longo de mais de duas décadas, um feito de
longevidade ao mais alto nível.
Parece-me seguro
dizer que Cristiano Ronaldo voou mais alto do que Eusébio. E não sei se não
começou ainda mais baixo na vida. O que só torna o seu sucesso desportivo ainda
mais incrível e admirável. Por outro lado, esse mesmo passado duro, solitário e
pouco escolarizado – o pai alcoólico que cedo morreu, a mãe que pensou em
abortá-lo, a agressividade que o levou a arremessar uma cadeira a um professor,
o ter completado apenas o 6.º ano – ajudará a explicar, ainda que não
justificar nem perdoar, o horror de alegadamente ter violado três mulheres em
2005 e 2009 (neste último caso, pagou 375 mil dólares para terminar o processo
judicial).
Esses alegados crimes sexuais, e também os 15 milhões de euros ocultados ao fisco espanhol, que lhe valeram dois anos de pena suspensa e uma pesada multa, fazem dele um exemplo problemático de conduta fora dos relvados. Mas isso é convenientemente esquecido por muitos amantes de futebol e da projecção internacional que Portugal ganha com Ronaldo. Tendo-se até chegado ao ponto de atribuir o nome dele (ainda em vida!) ao aeroporto do Funchal e, na mesma cidade, à centralíssima Praça CR7, com a sua estátua e Museu CR7 a homenagearem o craque.
Rui Passos Rocha
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