Hoje é aquele dia do ano que muitos
casais comemoram e que para outros casais é indiferente; que pessoas solteiras
gostariam de comemorar e outras acham uma piroseira. Um dia que se diz dos
Namorados, mas que a Igreja, que o instituiu, prefere chamar de São Valentim –
porque não só isso puxa a brasa à mitologização dos santos mártires, mas também
acentua a importância do casamento (católico), que é, dizem, o verdadeiro sinal
de união entre duas pessoas (heterossexuais).
Por falar disso: não há provas de que
o bispo romano Valentim, do século III, tenha celebrado casamentos num tempo em
que estes estariam supostamente proibidos pelo imperador. Nem que ele tenha
curado da cegueira a filha do seu carcereiro e, logo depois, caído de amores
por ela. A própria Igreja, que o santificou, abandonou a celebração do Dia de
São Valentim há cerca de 50 anos.
Restam então os namorados, que
existem e são muitos, felizmente. Pois se tiverem relações verdadeiramente
amorosas (sejam elas monogâmicas ou de outros tipos, entre pessoas com as
identidades de género x, y ou z), o que é certo, diz-nos a ciência, é que tendem
a ter melhor saúde mental, melhores índices de pressão arterial, colesterol e
inflamação, uma maior capacidade de entrega aos outros, um maior sentimento de
bem-estar e de realização pessoal.
O problema, muitos dirão, é que as
Escadinhas do Amor (em Caneças, Odivelas) muitas vezes desembocam numa Rua do
Jogo (na freguesia de Amor, em Leiria). Assim é. Porém, não faltam também casos
de ruas dos Amores que acabam bem, como a dos arredores de Braga amorosamente
colada a uma Rua dos Abraços.
De todos os topónimos adequados a
este dia, o meu preferido é o Jardim dos Namorados da cidade onde
cresci, Penafiel. Não porque lhe associe memórias amorosas (olhem, não calhou),
mas pela tranquilidade desse recanto, a beleza do seu verde, o ar puro que ali
se respira e as vistas deslumbrantes – e também pela óptima biblioteca e a
deliciosa pastelaria ali mesmo ao lado, bem no centro da cidade.
Rui
Passos Rocha
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