Esta
foi a história covid que até agora mais me comoveu. Em Vigo há um casal. Em Vigo, ou seja portanto não muito longe da fronteira portuguesa. Ela
enviuvou há anos, conheceu um alemão. Numa fábrica, que é onde os alemães
gostam de passar os dias de trabalho. Casaram, ficaram juntos. Depois veio o
Alzheimer. Ela desaprendeu a língua alemã e ele, o alemão, desaprendeu a
língua castelhana, de modos que ficaram sem comunicar. Ele ficou confinado,
como todos nós, e aprecia tocar a sua harmónica aos finais da tarde. Muito bem, ora pois bem: a auxiliar que cuida dele convenceu-o que os aplausos que se ouviam
nas varandas, nas janelas, eram para ele, o mestre harmónico. O senhor alemão ficou
todo pimpão. Os aplausos eram aquelas coisas colectivas que se fazem muito agora de
homenagem aos profissionais de sanidade, que o merecem e muito que merecem. A coisa ficou
assim, pelo colectivo, mas regressou rapidamente ao individual, pois os senhores
aplaudidores de varandas souberam da história do alemão e passaram a
aplaudi-lo a ele, de modos que isto é uma mentira tornada verdade ou um filme Frank Capra fora da tela. Quanto ao mais, continuamos. Palmas para nós todos.
Poesia pura
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