quinta-feira, 12 de março de 2020

Caminhos da memória.





 

          Num dos nossos almoços livrescos, porque a tradição ainda era o que é, o Manuel S. Fonseca trouxe-me estas Memórias Escolhidas de Domingos Lopes. Um livro importante, merecedor de ser lido, sem dúvida, como tudo quanto são memórias políticas, ainda que, como sucede tantas vezes com ex-comunistas ou ex- qualquer coisa, sejam memórias mesmo escolhidas. Em casos como este, a biografia confunde-se de tal forma com a pertença ao Partido que a autobiografia acaba sempre por ser assim, com a política omnipresente, como se aquilo que Domingos Lopes recordasse – ou achasse digno de recordar aos outros – passasse muito, imenso, pela sua militância no PCP. Memórias escolhidas porque nem tudo se conta. Fala-se do saneamento de Cavaleiro Ferreira da Faculdade de Direito de Lisboa, narra-se o seu «julgamento» pelos estudantes em fúria, mas não se refere que ele foi agredido, as roupas rasgada, humilhado e ofendido. No caso de Domingos Lopes, a saída do PCP só ocorreu há pouco, em 2009, vinte anos depois da queda do Muro – e o autor não explica o que o levou a manter-se tanto tempo no PCP. Talvez a luz ofuscante do sol enganador, a luz ofuscante que levou os comunistas do Couço, reunidos em sessão plenária a 4 de Dezembro de 1980, a clamarem «Assim se vê a força do PCP» mal souberam da morte trágica de Sá Carneiro. São pormenores como este, histórias fugazes (ex. da ida à Coreia do Norte), que tornam este livro muito merecedor de ser lido, por mais que gostássemos de ter um pouco mais de Cunhal, temos pena (e Jerónimo de Sousa, evaporou-se?). Balanço final: a ler, sem qualquer dúvida
 




 

1 comentário:

  1. Há partidos aos quais não se perdoa a menor falha,não se contextualiza o que é passado, vê-se logo que a palavra surgida na Assembleia do Couço (?) foi telegrafada do Comité Central...
    Comentadores como tu, que tratamento merecem?

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