segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Um país de ursinhos.








Em 5 de Janeiro deste ano, em estrito cumprimento de uma sentença judicial, um despacho do Ministro da Educação teve de reconhecer a personalidade jurídica da Casa Índigo – Fundação para a Formação Consciencial e Cultural de Crianças Índigo, Jovens e Educadores, como fundação de solidariedade social no âmbito da educação.   

         Tratou-se do culminar de um longo processo.

Um processo em que a Fundação Casa Índigo foi registada como instituição particular de solidariedade social, tendo apresentado como objectivo principal da sua actividade «o estudo, esclarecimento, desenvolvimento de actividades e formação conscencial e cultural de crianças índigo, jovens e educadores, bem como a pesquisa e a expansão científica de temas relacionados com a educação do Novo Tempo, abrangente e evolutivo, apoiado em novas técnicas e tecnologias».

Pois é: formação conscencial e cultural de crianças índigo, Educação do Novo Tempo, um tempo abrangente e evolutivo...

Em 2008, a Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, do Ministério da Educação, emitiu um parecer em que considerava – e cita-se – que «a Fundação desenvolve fins no âmbito da educação e formação pelo que pode esta Direcção-Geral proceder ao seu registo como Instituição Particular de Solidariedade Social».

Algumas revistas e jornais já falaram da Casa Índigo, uma casa em Cascais onde se fazem leituras de aura às crianças e se ministram seminários de cura galáctica ou de harmonização de hemisférios cerebrais. No passado, o Ministério da Educação chegou a certificar, para efeitos oficiais, cursos leccionados na Fundação Índigo, mas deixou de o fazer depois de aparecerem notícias nos jornais e em blogues e das reacções de partidos como o Bloco de Esquerda ou personalidades como Carlos Fiolhais (aqui) ou Manuel António Pina (aqui).





Tereza Guerra,
no histórico momento de assinatura da escritura constitutiva da Fundação Casa Índigo

A co-fundadora e directora da Fundação Casa Índigo é Tereza Guerra (www.terezaguerra.com). Mãe de duas crianças índigo, o Luís e o Paulo, Tereza foi uma jovem rebelde e inconformada. Por volta dos 14 ou 15 anos, os pais levaram-na ao psicólogo do colégio. Este, segundo conta Tereza Guerra, após realizar diversos testes, «chegou à conclusão de que eu não tinha falta de inteligência, bem pelo contrário». Além deste certificado de inteligência, o psicólogo prognosticou que Tereza Guerra iria estudar Arquitectura e disse-lhe que seria muito feliz se fosse viver para outro planeta («Tu serias muito feliz se fosses viver para um outro planeta...»). Sempre rebelde, Tereza optou por continuar a viver no planeta Terra, no concelho de Oeiras, e escolheu o curso de Filosofia, ao Campo Grande. Depois se licenciar, obteve o mestrado em Ciências da Educação. Dispõe, além disso, de formação nas áreas da Psicologia Transpessoal, tendo um mestrado em Reiki e Cura Quântica Multidimensional. Possui ainda um certificate of attendance do Programa Internacional de Educação de Bach e um diploma de Membro Internacional Hado, certificado pelo Dr. Masaru Emoto. 

Tereza Guerra é, certamente, das maiores autoridades portuguesas em Crianças Índigo. Agora, ampliou os seus interesses às Crianças Cristal, que também as há. Além deste vasto currículo científico, Tereza Guerra é «Kin 212: Humano Auto Existente Amarelo». Doutorou-se em Psicologia Educacional na Universidade Fernando Pessoa, prestigiado estabelecimento académico da Cidade Invicta, cujo reitor é o Professor Salvato Trigo e a vice-reitora a Drª Madalena Trigo.  Pode ver a tese e imagens do doutoramento, todas muito boas, aqui.





         Tereza Guerra é autora de trabalhos marcantes, como Spaltron, O Mistério dos Maias. O Calendário Maia contado para crianças dos 9 aos 99 anos. Ou ainda: Madie, uma Criança Índigo? A Princesinha da Luz. Títulos incontornáveis. Mas o seu livro mais conhecido, que já se encontra na 5ª edição, é, sem dúvida, Crianças Índigo e Cristal. A Ponte Arco-Íris de Novas Dimensões e Vibrações. A Educação do Novo Tempo. Editado pela Sinais de Fogo, custa € 17,67. Poderá comprá-lo em qualquer livraria, mas também na loja online da Fundação Índigo, cujo generoso catálogo contempla 218 produtos, entre os quais o porta-chaves Ursinho Índigo –Tão lindinho o Ursinho! O ursinho é feito de peluche, é castanho e, na idade adulta, tem 7 centímetros de altura. Não se reproduz em cativeiro, mas é multidimensional no preçário: o preço de venda ao público, € 5 euros, e o preço-índigo, de € 3,5. «Poupe 1,5 euros», informa o site da Casa Índigo. Para resolver esta questão espinhosa da dívida soberana, talvez devêssemos sair do euro e aderir ao índigo, uma moeda mais em conta.      




Tão lindinho o ursinho!
3,5 euros, preço-índigo





O preço-índigo é, como se vê, mais acessível. Mas, mais acessível ainda, mais barato ainda do que comprar na Fundação Índigo, é obter informação através da Internet. Este processo de transmissão comunicacional e consciencial chama-se download. Por exemplo (entre outros…), no livro de Tereza Guerra, o capítulo «Autismo decai com a remoção de mercúrio das vacinas» (pp. 264 e segs.) tem uma similitude surpreendente, linha a linha, palavra a palavra, com o artigo «Autism Declines as Vaccines Remove Mercury», disponível aqui. Não se pense – jamais! – que se trata de um plágio descarado, ainda que os textos sejam absolutamente iguais. O artigo em inglês, como toda a gente percebe, é um Texto Índigo. A versão aportuguesada no livro de Tereza Guerra corresponde, cristalinamente, a um Texto Cristal. Para a próxima vez que lhe falarem em fraudes, plágios ou copianços, compreenda, de uma vez por todas, que se trata de uma acção combinada de fenómenos quânticos de comunicação transpessoal, processados à luz do espantoso poder de Kryon. Quem é Kryon? Não, Kryon não está a venda online nem é um ursito de peluche. Kryon visitou Portugal no ano de 2011 («o Ano 11 do século XXI») e é «o grande mensageiro das Crianças Índigo, a quem devemos muita da Energia de Luz que tem iluminado o caminho ao longo destes anos de missão na Fundação Casa Índigo», nas palavras de Tereza Guerra.  

Em 2008, talvez graças à intervenção do grandioso Kryon, um parecer da Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular do Ministério da Educação considerou que a Fundação Casa Índigo desenvolvia «fins no âmbito da educação e formação». Este ano, por estrita imposição judicial, o Ministro da Educação teve de reconhecer a personalidade jurídica da Casa Índigo como «fundação de solidariedade social no âmbito da educação». Conviria apurar responsabilidades. Deste Ministro não são, como é óbvio. Mas conviria apurar responsabilidades no Ministério da Educação: (a) sobre quem, e em que condições, deu parecer favorável ao reconhecimento dos «fins no âmbito da educação» da Casa Índigo; (b) sobre quem procedeu à acreditação dos seus cursos para efeitos de concessão de créditos na progressão na carreira dos professores do ensino público. Há que apurar responsabilidades. Portugal não pode continuar a ser assim. Um país de ursinhos de peluche.



António Araújo


21 comentários:

  1. Peluche? É mais "de ursos", tout court...

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  2. E se comprarmos só parte do pacote, sai mais barato? A parte da mecânica quântica já tenho, obrigado. Mas gosto do ursinho.

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  3. Pensava que disto era só na California , estou pasmado

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  4. Obrigado pela história, ri-me às gargalhadas! Só é pena que não seja mesmo fantasia :(

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  5. Pois... e agora não embirremos com o chamar a 2011 "«o Ano 11 do século XXI»"... há quem lhe chame o "ano 12", mas estão obviamente errados...

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  6. Artigo muito bom, parabéns. Talvez tudo isto seja obra do Mistério da educação e não do Ministério!

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  7. Obrigada António pela sugestão. Estava a precisar de um crédito e estou verdadeiramente tentada! Já para não falar da enorme aplicabilidade prática na sala de aula de um tema tão inovador! Uma verdadeira visionária, essa senhora! Catarina Sampaio

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    1. Ficou muito por contar, Catarina. Talvez regresse a este tema, tão vasto e tão complexo. Saudações de Kryon, António Araújo

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  8. A avaliar pela entrada em www.kryonportugues.com, Kryon parece ser um "canalizador"...Numa altura em que tanto se fala do ensino técnico-profissional a experiência de um super "canalizador" pode ser importante :))

    Fico grato ao autor deste artigo por me ter aberto os olhos para estas "canalizações" de recursos públicos

    Nuno Medeiros

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  9. País de ursinhos, mas também de ignorantes, arrogantes e maledicentes mal informados. Não subscrevo, quer o tom irónico, quer o conteúdo do seu artigo.
    Quem sabe qual a cor da aura destes pseudo-detractores?
    Está na hora de pôr a descoberto os pés de barro da ciência oficial. Há muito que deixou de ser a detentora da chancela do conhecimento.

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  10. Caro anónimo das 11:46, explique-me por favor, ponto por ponto, quais os pés de barro do actual método de construção do conhecimento científico, e diga-me de que modo a ciência que defende permite ultrapassar essas eventuais lacunas.

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  11. A UNICEF e outras instituições também vende ursinhos!
    Qual é o problema???

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  12. Quem sabe qual a cor da aura destes pseudo-detractores? PETRA!

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  13. Porque é que está tudo tão indignado? A Igreja Católica também não recebe apoios do estado? Fantasia por fantasia, ao menos estes são coloridos.

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  14. Menção honrosa numa crónica da 'Sábado' de hoje: parabéns!
    :)
    E os ursinhos são objectos fofinhos, relevemos isso. Pelo menos isso.
    :)

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    1. Obrigado, não reparei, mas vou já ver.
      Cordialmente,
      António Araújo

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  15. "imprescindível blogue".
    Muito bem definido.
    :)

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  16. Um contributo:

    http://fora.tv/2012/11/09/Hallucinations_with_Oliver_Sacks/Finding_Indigo_An_Adventure_in_Pharmocology

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  17. «Sempre rebelde, Tereza optou por continuar a viver no planeta Terra, no concelho de Oeiras»

    muito obrigada pela gargalhada

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