Quando era miúdo, passei uma temporada em Munique.
Atravessava espantado a secção dos nudistas do Englischer Garten. Nudistas ali, no meio da cidade, achava tudo um
pouco estranho. Desconhecia a atracção dos alemães pelo nudismo, que chega a
extremos como este.
Bem, o livro de Louis-Charles Boyer não é propriamente um tratado sobre
naturismo nos anos trinta do século passado. Boyer era um escritor de quinta
categoria e terceiro escalão, nascido em 1885 e falecido em 1970, que será
esquecido pela posteridade como autor de romances eróticos soft, leves e
ligeirinhos. Quando publicou este Au pays
des hommes nus, no início da década de trinta, já tinha perpetrado um
romance, La maitrisse noire, e um
livro de poemas, La fermière nue.
Tinha em preparação outra obra romanesca, no mesmo género, La girl. Na capa desta excursão pelo país dos homens nus
surpreendemos a indicação «133e édition». Cento e trinta e três edições?! O
livro, puerilmente dedicado a Adão e Eva, é ilustrado com fotografias
fornecidas por Adolf Koch, o director das escolas nudistas alemãs, e por Paul
Zimmermann, proprietário em Klinberg, nos arredores de Lubeck, de um amplo e
frondoso «Libre Park», onde os visitantes poderiam dar corpo livre à Körperkultur ou Freikörperkultur. Creio que não são da autoria de Lotte Herrlich (1883-1956), a mais importante fotógrafa naturista da Alemanha. Curiosamente, Koch morreria em 1970, no mesmo ano
de Boyer. No final dos anos vinte, as suas escolas de naturismo, vocacionadas
para as classes trabalhadoras (uma espécie de FNAT em pêlo), tiveram grande
sucesso e, com o seu apoio às teorias eugénicas, auxiliaram de certo modo a
ascensão da ideologia nazi. Em 1934, já um, pouco apertado pelos nazis, Koch
escreveria um artigo laudatório para Ernst Röhm, mas este acabaria por ser
morto na Noite das Facas Longas, em que as SS esmagaram as SA. Então, Koch
passou a pagar uma quotização mensal enquanto «apoiante» das SS, o que não
impediu os nazis de encerrarem o seu Institut
für Eubiotik und Lebensregelug. O livro de Boyer faria justiça ao trabalho
aí desenvolvido, descrevendo vários quadros ou episódios passados ao ar livre,
de alemães em adoração do Sol. No meio do frio, à luz do astro-rei que banhava a
Germânia. Como nós, portugueses sob resgate, nesta soalheira manhã de Dezembro.
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