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100 discos de jazz para cativar os leigos e vencer os cépticos !
# 72 - GRANT
GREEN
Fotografia de Francis Wolff
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Grant Green é tudo o que um artista
maldito deveria ser, condição que no jazz é electiva. Em vida nunca recebeu
apreço na medida que os seus tardios entusiastas acham ser-lhe devida e, no
entanto, teve um itinerário musical nada obscuro, decorrido à luz da Blue Note
que lhe deu quase 30 capas e na qual foi guitarrista residente, participando, portanto,
em incontáveis sessões. Por azar etário Grant Green foi contemporâneo de alguns
dos grandes guitarristas do jazz, num dos seus períodos mais exuberantes, pelo
que o esplendor coevo de Kenny Burrell, Wes Montgomery ou George Benson, ter-lhe-á
mitigado o brilho. Mas o seu estilo melódico nota-a-nota, sem grande
sofisticação harmónica e a sua constante remissão para a singeleza dos blues, numa
época em que primavam os rasgos e as rupturas como se tudo estivesse por
inventar, em nada lhe facilitaram o reconhecimento. E mesmo quando este veio,
muito puxado pelos admiradores, ainda assim só a ele aderiu quem concordou que
não era simplória a simplicidade de Grant Green. A estas contrariedades a um
pleno reconhecimento acresce que boa parte da discografia de Green, sobretudo a
terminal, é assaz negligenciável; o vício da heroína e os concomitantes
problemas de saúde – que acabariam com ele aos 43 anos – devoraram-lhe qualquer
vintém ganho e obrigaram-no a uma incessante e pouco criteriosa actividade.
Trazer,
então, Grant Green à colação é reiterar que no firmamento do jazz não cabem só
constelações, isto é, aqueles músicos prodigiosos que disco após disco desenham
uma forma e uma obra coerente, mas também estrelas solitárias, os intérpretes que
num relâmpago de inspiração se redimem da fieira de fracassos e da menoridade
que doutro modo os sujeita.
Idle Moments
1965
Blue Note - 7069
Grant Green (guitarra), Joe Henderson (saxofone tenor),
Duke Pearson (piano), Bobby Hutcherson (vibraphone), Bob Cranshaw (contrabaixo),
Al Harewood (bateria).
Se “Idle Moments” é todo ele
recomendável, a composição que lhe dá o título é memorável. Como tantas vezes
sucede, a mão invisível do acaso intercedeu de maneira decisiva. Cerca da
meia-noite do dia 4 de Novembro de 1963 faltava ainda preencher 7 minutos da
duração do disco, depois de terem sido gravados os temas “Nomad”, “Jean de
Fleur” e “Django.” Todos concordaram em interpretar “Idle Moments”, a
composição escrita e proposta pelo pianista Duke Pearson, suficientemente
lânguida para não causar sobressaltos. Mas o adiantado da hora trouxe aos
músicos aquela combinação de fadiga e adrenalina que, nas mais raras e
favoráveis circunstâncias, os torna descontraídos, à beira de um enlevo, tanto
como imparáveis. Assim foi que Grant Green se distraiu ou se deixou levar e em
vez dos combinados 32 compassos, solou durante 64; sem pestanejar, os
acompanhantes seguiram-no e intervieram com igual desenvoltura. No fim “Idle
Moments” prolongara-se por 15 minutos que seria crime desarranjar. No dia
seguinte regressaram ao estúdio para regravar os restantes temas do disco com
durações mais curtas.
Há acontecimentos que fazem História em
menos tempo do que “Idle Moments”, porque não haveria então este momento de ter
lugar na história do jazz?
José Navarro de Andrade
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