quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Histórias de mulheres: IVF.

 
 






O fotógrafo Antonio Faccilongo traz-nos nesta série uma realidade que, na minha ignorância, desconhecia por completo: o contrabando de esperma nas prisões israelitas. Assim dito, pode parecer um pouco bizarro – e talvez o seja, independentemente da atitude ou opinião que tivermos sobre o conflito israelo-palestiniano.
         Expliquemo-nos, então: neste projecto «Habibi – In Vitro Fertilization», que conheci graças ao João Gama (obrigados!), Faccilongo capta imagens aparentemente inócuas e banais de quartos com um fato de homem pendurado, mães com crianças, mulheres sozinhas. A trouvaille está aí: os maridos destas mulheres, pertencentes à «resistência palestiniana», encontram-se em cativeiro nas prisões israelitas, cumprindo longas penas. Cerca de 7.000 palestinianos estão presos em Israel, dos quais cerca de 1.000 cumprem penas de 20 ou mais anos. Não são permitidas visitas conjugais. Mas há uma excepção: é permitido o contacto físico entre os reclusos e os seus filhos, a quem são concedidos 10 minutos para se abraçarem, acarinharem. É aí que os homens entregam clandestinamente às crianças o seu esperma. A inseminação artificial das suas mulheres tem lugar em duas clínicas, uma em Nablus, outra em Gaza. Nos últimos três anos, cerca de 70 mulheres puderam engravidar graças a este estranho método concepcional. E assim nascem mais crianças que, diz a página de Faccilongo na Internet, irão engrossar as fileiras da resistência palestiniana. Uma história curiosa, num certo sentido bela e fascinante, sobre a pulsão da maternidade, o desejo de um casal ter filhos por controlo remoto, o que quiserem. Mas fica a dúvida: com a revelação feita pelo fotógrafo italiano, tudo isto não irá acabar, passando a ser proibido pelas autoridades israelitas? Como será o futuro destas mulheres, agora que se sabe como engravidaram dos seus maridos? Ou será que isto não seria um segredo de Polichinelo, fazendo os israelitas vista grossa a uma realidade que há muito conhecem? Não sei. Fica a dúvida. E a dívida de gratidão para com o João, que é Gama, Taborda da Gama, e tem muitos filhos com a Joana. Entre os quais o Nicolau, que é meu afilhado.


  


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