segunda-feira, 25 de maio de 2020

Quietude júnior (7 e último).





Nas nuvens.

A fechar a rubrica e a infinita salada apaziguadora começada ontem, essa a recheio de música inspirada pelo encantamento e pela contemplação de algo ou alguém, persiste-se hoje na tentativa de meter um Rossio de igual tamanho na mesma Betesga: o do amor, nas suas também infinitas tonalidades e desdobramentos. Amor divino e amor terreno, amor com maiúsculas e com minúsculas, Calibri ou Times New Roman, físico e metafísico, animal, vegetal, postal, gasoso e atmosférico.

1) Coração e Boca e Atos e Vida, como é conhecida a Cantata Jesus Bleibet Meine Freud, de J. S. Bach. É com tudo isso que nos embala o coral final, com o que “há de dar testemunho, sem temor nem hipocrisia”, de coisas divinas e da felicidade humana. Aqui num arranjo para dois pianos, interpretado por Lucas e Arthur Jussen.

2) Se Leonor ia fermosa e não segura pela verdura, já as ovelhinhas de todas as idades podem pastar com a maior segurança e, sobretudo, na mais maravilhosa paz com Schafe können sicher weiden, de uma outra Cantata de Bach, a da Caça. Também num arranjo para piano, interpretado por Khatia Buniatishvili.

3) As nuvens que ilustram a primeira das três Gymnopédies, de Erik Satie, estão ali muito bem, no ambiente delas. Com sol ou chuva, as 3G são realmente serenas e atmosféricas. Não há agitação infantil que resista à sedução do seu torpor vaporoso. A agitação adulta também lhe sucumbe em circunstâncias e situações variadas. Por Anne Quéféllec.

4) Na minha experiência pessoal, todavia, tiro e queda mesmo é My Funny Valentine, na voz de Chet Baker. Em poucos segundos induz um revirar de olhos de sonolência fulminante, assaz distinto do enfastiado rodar para cima na oblíqua do globo ocular aborrescente, perdão, adolescente – tantas vezes mais do que justificado, diga-se. Em idades mais tenras, porém, é a pupila que escorrega por si para dentro da pálpebra, deixando ver o fundo branco antes da persiana – a pálpebra – baixar rendida ao peso feliz da beatitude. É uma coisa linda de se ver.

“My Funny [preencher com o nome aplicável], my favourite work of art”.


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Manuela Ivone Cunha.







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