A imprensa internacional fez-nos saber
que a conjuntura covidal tem posto as crianças a dormir mal. Apesar das perturbações
do sono afetarem miúdos e graúdos, até aqui só os graúdos atraíam os holofotes.
Nisto, o Malomil também não andou bem.
O projeto de espalhar
quietude – condição necessária, ainda que não suficiente, para a sonolência
– tem negligenciado os mais pequenos. Estes, quando muito andam a ser aviados
com Melamil, uma droga que apregoa encurtar o tempo para adormecer.
Pois bem, chegou o momento de acertar a
balança. Nas próximas edições esta rubrica será júnior, com meia dúzia de
canções de embalar e outras que, não o sendo, embalam no sono, ou dispõem para
o sonho.
Com pena, deixo de fora canções de
embalar cujo embalo hipnotiza e induz ao transe, mas tenho dúvidas que
adormeçam, como a Lullaby
dos The Cure. Já sem pena alguma ficam de fora canções de embalar plástico,
vendidas em pacote para bébés e infantes a pais incautos. Atrofiam os ouvidos
tenrinhos, cheios de potencial, e deixam-nos balofos de enxúndia e entulho, tão
desalmadas são. O problema, por conseguinte, não é serem simples. Há-as simples
e gloriosas. É mesmo não terem alma.
Dito isto, também não levo ninguém ao
engano. Não garanto, nem por sombras, um efeito rápido tão cilindrante como o
que este pai obteve
com a sua interpretação da Wiegenlied,
a famosa canção de embalar de Johannes Brahms. Ao fim de 30 segundos? Brincamos?
É quase indecente.
A abrir a rubrica, já a seguir, uma “Criança
a Adormecer” – precisamente. É assim que se intitula esta cena de infância, de Robert
Schumann (Kinderszenen, Op.15 - 12. Kind
im Einschlummern), interpretada por Martha Argerich.
Manuela Ivone Cunha
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