domingo, 17 de maio de 2020

Quietude júnior (1).







A imprensa internacional fez-nos saber que a conjuntura covidal tem posto as crianças a dormir mal. Apesar das perturbações do sono afetarem miúdos e graúdos, até aqui só os graúdos atraíam os holofotes. Nisto, o Malomil também não andou bem.

O projeto de espalhar quietude – condição necessária, ainda que não suficiente, para a sonolência – tem negligenciado os mais pequenos. Estes, quando muito andam a ser aviados com Melamil, uma droga que apregoa encurtar o tempo para adormecer.

Pois bem, chegou o momento de acertar a balança. Nas próximas edições esta rubrica será júnior, com meia dúzia de canções de embalar e outras que, não o sendo, embalam no sono, ou dispõem para o sonho.

Com pena, deixo de fora canções de embalar cujo embalo hipnotiza e induz ao transe, mas tenho dúvidas que adormeçam, como a Lullaby dos The Cure. Já sem pena alguma ficam de fora canções de embalar plástico, vendidas em pacote para bébés e infantes a pais incautos. Atrofiam os ouvidos tenrinhos, cheios de potencial, e deixam-nos balofos de enxúndia e entulho, tão desalmadas são. O problema, por conseguinte, não é serem simples. Há-as simples e gloriosas. É mesmo não terem alma.

Dito isto, também não levo ninguém ao engano. Não garanto, nem por sombras, um efeito rápido tão cilindrante como o que este pai obteve com a sua interpretação da Wiegenlied, a famosa canção de embalar de Johannes Brahms. Ao fim de 30 segundos? Brincamos? É quase indecente.

A abrir a rubrica, já a seguir, uma “Criança a Adormecer” – precisamente. É assim que se intitula esta cena de infância, de Robert Schumann (Kinderszenen, Op.15 - 12. Kind im Einschlummern), interpretada por Martha Argerich.




Manuela Ivone Cunha















Sem comentários:

Enviar um comentário