domingo, 6 de setembro de 2020

A vida, tão boa que é.





Rita, então tu julgavas que eu não ia ver o filme que me deste? Pois vi, e vi ontem, parva. O êxtase é muito, e aqui o partilho. Muchos hijos,un mono y un castillo foi das coisas mais divertidas e comoventes que me entraram pelo espírito nos últimos e confinados meses. O filme, um documentário rodado por Gustavo Salmerón durante 14 anos (será possível?), tem uma protagonista hegemónica, retumbante e esmagadora: a sua mãe. Julita Salmerón, assim se chama o portento (numa das entrevistas a propósito do filme, o realizador diz que o pai é também co-protagonista, mas coitado dele). Bigger than life, telúrica, torrencial o que quiserem, Julita Salmerón é Espanha por uma pena (o filme, aliás, começa com ela a beber chocolate quente e a comer bolachas, melhor era impossível). Depois, subimos por ali acima – muitos filhos, um macaco, um castelo – e descemos em voo picado até à crise de 2008 e à hipoteca devastadora. Uma montanha-russa emocional trazida com imensa mestria por Gustavo Salmerón, sobre a qual choveram prémios atrás de prémios, todos mais que merecidos. Está ali Espanha inteira, em casas atafulhadas de objectos (morte a ti, Marie Kondo!), cada qual trazendo uma recordação da vida de uma mulher poderosa – ou, como lá dizem, tremenda. Sobre o filme choveram prémios. É bom que sobre ele também chova a sua atenção. Quando um documentário nos faz rir e chorar, em doses variáveis, talvez a culpa seja nossa – porque o documentário, esse, é perfeito e sem mácula. Quanto a ti, Rita: obrigado, dos abismos do meu coração.









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