sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Vidas singulares: Franz Jägerstätter.

 
 
 



 Há várias imagens de Franz Jägerstätter mas, quanto a mim, a mais comovente é a que não o mostra, antes retrata a sua ausência. As sua filhas, em 1943, escreveram um cartaz pedindo-lhe que voltasse a casa. Não voltou. Nesse mesmo ano de 1943, pouco depois, seria guilhotinado na prisão de Brandenburg-Görden. Tinha 36 anos. A mais velha das suas filhas, que aparecem na fotografia, tinha cinco anos de idade. Franz era um homem simples, um agricultor austríaco que nascera perto de Salzburgo. Filho ilegítimo, casaria com Franziska Schwaninger, uma mulher de grande fé que morreu este ano. Do casamento nasceriam três filhas, aquelas que pediam ao pai que regressasse a casa. Franz estava preso por se ter recusado a prestar serviço militar às ordens do III Reich. Já antes, em 1938, tinha sido a única pessoa da sua aldeia a votar contra o Anschluss, no plebiscito que permitiu a anexação da Áustria pela Alemanha. Nunca militou em partidos ou organizações. Simplesmente, solitariamente, a sua consciência impedia-o de colaborar com os nazis – e nunca deixou de dizer, em privado e em público, que jamais combateria a favor de Hitler. Era um homem crente, profundamente religioso. Falou com o bispo da sua diocese, mas diz-se que saiu do encontro decepcionado pela complacência do prelado relativamente aos nazis. Integrado nas fileiras do exército, o seu pedido para servir como paramédico foi recusado. Na prisão, um padre da sua aldeia tentou convencê-lo a pegar em armas, mas Franz recusou-se a fazê-lo. Acusado de pôr em causa a moral militar, foi condenado à morte e guilhotinado pouco depois. Foi por essa altura, enquanto estava preso aguardando um desfecho previsível,  que as suas três filhas escreveram o cartaz pedindo-lhe que regressasse a casa. Franz acabaria por regressar a casa, mas sob a forma de cinzas. Em 1946, as suas cinzas seriam sepultadas no cemitério de Sankt Radegund.
 
 
 
 
  





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