Pedro Zaragoza, Benidorm, 2000
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A queda de um ídolo. Não é fácil. Para
mais, sendo um ídolo que despertava mixed
feelings, sentimentos mistos de admiração e de repulsa. Pedro Zaragoza
(1922-2008), a quem chamam «o homem que inventou Benidorm», foi alcaide dessa
terrinha entre 1951 e 1967. A ele se deve o boom
turístico de Bebe y dorme e a
destruição completa de uma localidade até então pacata, tranquila, soalheira.
Assim dito, não havia razões nenhumas – e, se calhar, não há – para admirar um serial killer urbanístico deste calibre,
com a agravante de, para conseguir os seus intentos, Pedro Zaragoza se ter
aproximado da família de Franco, tendo alojado em sua casa a mulher do ditador,
a imortal Señora Carmen Polo.
Se Benidorm é o
que é, aquele horror infernal, isso é obra de um homem: Pedro Zaragoza Orts.
Simplesmente, rezava a História que Pedro Zaragoza, um pragmático, teve de
enfrentar a censura dos bons costumes e da Igreja, que chegou a excomungá-lo
por permitir o uso de biquínis nas praias de Benidorm, trazidos nas bagagens
das turistas do norte da Europa. Conta-se mesmo – e Pedro Zaragoza gabava-se
disso – que um dia, ao ser excomungado, o alcaide se meteu numa famosa Vespa e foi directamente a Madrid, onde
falou com o Generalíssimo. Este ter-lhe-á dado o seu apoio, autorizando que as
turistas estrangeiras, naquele ghetto de sol, mar e betão, continuassem a
vestir-se e a despir-se como queriam, nas suas idas à praia. A história,
deliciosa, é relatada em vários livros, como no divertidíssimo De la alpargata al seiscientos, do prolífico Juan
Eslava Galán. O que não se contava, na Espanha franquista como no Portugal no
Estado Novo, era com o efeito democratizador do turismo, e com o seu contributo
poderosíssimo para a liberalização dos costumes e das mentalidades. Ou seja, com o fito de
«desenvolver» a sua terra, Pedro Zaragoza aliou-se a Franco, pediu o seu
amparo, mas foi um (involuntário?) artífice de uma revolução cultural. Tudo
muito interessante, muito histórico, até que um documentário recente veio dizer
que não é assim, que não existem, nos registos oficiais do Estado e da Igreja,
documentos que atestem a veracidade da excomunhão de Zaragoza pelo arcebispo de
Valência, como não há nada que demonstre que o alcaide de Benidorm se avistava
frequentemente com Franco, em audiências que este lhe concedia em Madrid. Terá
sido tudo uma encenação, uma manobra de marketing semelhante às operações
promocionais que Zaragoza lançava para divulgar Benidorm junto dos mercados
turísticos da Europa endinheirada e livre? E onde fica, no meio disto tudo, a
mítica história da Vespa, ao volante da qual
Zaragoza terá feito uma jornada de centenas de quilómetros, entre a sua terra e
a capital das Espanhas? Não sei, ainda não vi o documentário, que se chama,
aliás muito acertadamente, El hombre que
embotelló el sol. Só li esta notícia, mas foi o suficiente para me deixar
de rastos, desfalecido na areia…
Uma Vespa com volante?...
ResponderEliminarUma Vespa com volante?...
ResponderEliminarRealmente, soou-me mal quando escrevi. Como se deve dizer, ajuda-me? Muito grato,
EliminarAntónio Araújo
Talvez "guiador", tal como na bicicleta.
ResponderEliminarOu, mais pomposa e tecnologicamente "aggiornato", "aos comandos de"...
Cpmts. bem humorados.
J.S.Pereira
Convenhamos que a excomunhão do senhor é um bocadinho exagerada.
ResponderEliminarNenhum comentario sobre a morte de Mario Soares?!
ResponderEliminarMais fotos doces sobre as águas do Onésimo,santos do Sr Teixeira e nenhuma palavra sobre o assunto.O que significa?Embaraço? Não entendo.O sol engarrafado é mais imortante talvez.
Já houve em todo o lado centenas de comentários. Foram tantos que os jornais de maior importância DN, JN tiveram que simplesmente apaga-los a eito.
EliminarNas crónicas do DN sobre o falecido não são permitidos comentários.
Hoje o Expresso não autoriza comentário nenhum em nenhuma notícia sobre o enterro.
Uma Nação está de luto?
responda quem souber.
Nascido em 77, sou da geração que foi feliz em Benidorm. Assim sendo, de todos os serial killers urbanísticos, este é o único que trago no coração.
ResponderEliminarUm abraço
Sérgio Barreto Costa
Mostrei as fotos de Benidorm ao meu filho que disse: "Porque é que construíram uma praia na cidade?
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