quarta-feira, 13 de março de 2019

Meu pai, turista sexual: um murro no estômago.

 
 
 
 









Há quem diga que a imprensa está em crise – e está. Mas depois, de quando em quando, aparecem coisas na imprensa que mostram até que ponto ela é importante, insubstituível. No The Guardian, uma das reportagens mais poderosas e impressionantes que li nos últimos meses (anos?). Na edição em papel do sábado passado, onde a li, chamava-se «My fahter, the sex tourist», e é assinada por Margaret Simons. Versão online aqui.
Todos os anos, alguns lugares do mundo, da Ásia em especial, são invadidos por centenas de turistas sexuais. Toda a gente o sabe, há cumplicidade das autoridades – e passividade de quem lê sobre o assunto, como agora sucede comigo e consigo. As hordas de pedófilos e predadores sexuais vão deixando filhos pelo caminho, e é sobre essas crianças ou jovens adultos de que fala esta peça jornalística do Guardian. Habituámo-nos a falar da Tailândia ou de outros lugares como paraísos para os turistas sexuais, é um lugar-comum a que nos acomodámos, como os desastres ferroviários na Índia, uma trivialidade nas conversas de amigos regressados do Oriente, em jantares ou rodas de copos. Uma curiosidade exótica, pouco mais. Mas há mais: esta é uma curiosidade que deixa marcas, nas crianças e mulheres que se prostituem e nas crianças que nascem da prostituição, eufemisticamente tratada por «trabalho sexual». Meu pai, turista sexual. Foi para reportagens destas que se inventou o jornalismo.

 

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