Há
quem diga que a imprensa está em crise – e está. Mas depois, de quando em
quando, aparecem coisas na imprensa que mostram até que ponto ela é importante,
insubstituível. No The Guardian, uma
das reportagens mais poderosas e impressionantes que li nos últimos meses
(anos?). Na edição em papel do sábado passado, onde a li, chamava-se «My fahter,
the sex tourist», e é assinada por Margaret Simons. Versão online aqui.
Todos
os anos, alguns lugares do mundo, da Ásia em especial, são invadidos por
centenas de turistas sexuais. Toda a gente o sabe, há cumplicidade das
autoridades – e passividade de quem lê sobre o assunto, como agora sucede
comigo e consigo. As hordas de pedófilos e predadores sexuais vão deixando
filhos pelo caminho, e é sobre essas crianças ou jovens adultos de que fala
esta peça jornalística do Guardian.
Habituámo-nos a falar da Tailândia ou de outros lugares como paraísos para os
turistas sexuais, é um lugar-comum a que nos acomodámos, como os desastres
ferroviários na Índia, uma trivialidade nas conversas de amigos regressados do
Oriente, em jantares ou rodas de copos. Uma curiosidade exótica, pouco mais. Mas há mais: esta é uma
curiosidade que deixa marcas, nas crianças e mulheres que se prostituem e nas
crianças que nascem da prostituição, eufemisticamente tratada por «trabalho
sexual». Meu pai, turista sexual. Foi
para reportagens destas que se inventou o jornalismo.
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