ENCONTRO DO GENERAL SPÍNOLA COM A DIRECÇÃO DO SERVIÇO INTERNACIONAL DA
AFL-CIO
Ao
tomar conhecimento da enorme quantia de dinheiro que precisávamos para podermos
organizar um pequeno exército que libertasse Portugal da inevitável ditadura
comunista, sondei confidencialmente um professor judeu da minha Universidade,
muito ligado ao "lobby" judaico americano. Como já não pertence ao mundo
dos vivos, não vejo qualquer inconveniente em referir o seu nome: Ellis Page.
Na
sua qualidade de meu amigo pessoal e de inimigo figadal dos comunistas,
sugeriu-me que contactasse directamente com o Director do Serviço Internacional
da AFL-CIO (American Federation of Labor – Conference of the International
Organization).
Dizendo-lhe
eu que não conhecia ninguém de influência que me proporcionasse um encontro
pessoal com o dito director, ele próprio se encarregou de me marcar uma
entrevista para dois dias mais tarde, em Washington, D. C., com o Director do
Serviço Internacional da poderosíssima e influentíssima organização sindical
americana.
E
passados dois dias, às dez da manhã, eis-me diante do Director do Serviço
Internacional da AFL-CIO, na sede central.
Depois
de me ter ouvido atentamente durante uns dez minutos, disse-me quase
literalmente estas palavras:
–
Logo que estiverem estabelecidas as datas da vinda do General Spínola aos
Estados Unidos, entre imediatamente em contacto comigo, para se organizar um
encontro com ele em dia e hora convenientes para ambas as partes. E, dizendo
isto, passou-me para as mãos o seu cartão pessoal.
–
Mas será possível comunicar-lhe, antes desse encontro, que podemos contar com o
apoio financeiro da AFL-CIO? – perguntei-lhe eu.
–
Qual é o montante que necessitam para organizar o tal exército de libertação
nacional?
–
Uns onze milhões de dólares.
–
Por ocasião do encontro com o General fala-se nisso. Até lá, a única coisa que
posso garantir – prosseguiu ele – é que teremos todo o gosto em recebê-lo e em
ouvir da boca dele os planos concretos que tem a respeito da dita libertação de
Portugal. Entretanto, é bom que você saiba já uma coisa (mas que isto, por
agora, fique apenas entre nós). Logo a seguir ao 25 de Abril, uma delegação da
AFL-CIO, da qual eu fazia parte, dirigiu-se a Lisboa, com a intenção de
oferecer directamente ao General Spínola, na sua qualidade de Presidente da
República Portuguesa, todo o apoio da nossa organização internacional, quer em
"know how", quer em dinheiro, de modo a evitar que o movimento
sindical em Portugal caísse totalmente nas mãos do Partido Comunista Português.
E foi assim que nos apresentámos no Palácio de Belém, pedindo para falar pessoalmente
com o General. E sabe o que ele nos mandou dizer pela sua secretária
particular? – Que não tinha tempo para nos receber. Que, uma vez que se tratava
de questões de trabalho e de sindicatos, falássemos directamente com o seu
Ministro do Trabalho. Ora, como você sabe, o Ministro do Trabalho do Primeiro
Governo de Spínola era comunista. Claro que, perante uma ingenuidade dessas, a
AFL-CIO nada pôde fazer, e os resultados estão à vista: os sindicatos em
Portugal estão hoje sob a direcção férrea do Partido Comunista Português. Mas,
como disse, não fale disto a ninguém até lhe darmos luz verde.
E eu
não contei esse caso a ninguém enquanto não me foi dada luz verde. Mas, aberto
o sinal de tráfico por quem de direito, apressei-me a contar o caso ao General.
Estupefacto,
confessou-me que não tinha sabido de nada. E apressou-se a chamar a Luisinha,
sua sobrinha e secretária pessoal durante a sua curta Presidência, para lhe
perguntar se tinha qualquer conhecimento do caso. Que não, que não tinha –
afirmou peremptoriamente a D. Maria Luisa.
Mas
um dia, por ocasião da sua viagem aos Estados Unidos entre meados de Novembro e
os primeiros dias de Dezembro de 1975, o Capitão Ramos e eu levámos o General
Spínola à sede da AFL-CIO, em Washington, D.C.. Fomos recebidos pelo Director e
Secretário do Serviço Internacional, com as desculpas formais de que, em
virtude de encontros previamente agendados, no estrangeiro, não tinha sido possível
ao Secretário Geral da AFL-CIO apresentar pessoalmente ao General os
cumprimentos de boas-vindas e participar também na conferência.
Como
em vários outros encontros, também neste servi de intérprete.
Feitas
as devidas apresentações e trocados os respectivos cumprimentos, o Director do
Serviço Internacional, entre outras coisas, disse o seguinte com uma clareza
cristalina:
–
Sr. General, na cadeira em que V. Ex.ª está sentado hoje, sentaram-se antes
altas individualidades da política portuguesa: entre outras, Mário Soares,
primeiro, e Sá Carneiro, mais tarde. A um e a outro dissemos em termos
inequívocos que, se quisessem contar com o nosso inteiro apoio, desde o técnico
ao financeiro, não deviam permitir a participação no Governo de membros do
Partido Comunista Português. Como nem um nem outro fizeram caso deste nosso
conselho e condição de ajuda, Portugal encontra-se hoje nas deploráveis
condições de todos conhecidas.
–
Por outro lado – prosseguiu o Director do Serviço Internacional da AFL-CIO –,
pelo que se refere à ajuda financeira que nos foi solicitada por uma das
pessoas aqui presentes, depois de devidamente estudado o caso, chegámos à
conclusão que não nos parece oportuno meter-nos no momento em aventuras dessa
natureza. O que não quer dizer que ponhamos totalmente de parte a hipótese de
no futuro voltarmos a considerar a questão. Isso também não quer dizer que não
estejamos justamente preocupados com a situação política, económica e social de
Portugal. Estamos preocupados e atentos, o que significa que, em tempo
oportuno, poderemos vir a dar o nosso apoio ao movimento sindical português.
De
mãos a abanar, como nos sucedeu noutros encontros idênticos, saímos nós da sede
nacional da AFL-CIO (American Federation of Labor – Conference of the
International Organization) num nevoento dia de Novembro do Ano do Senhor de
1975.
António Cirurgião
AL'EM DA Afl-cio, SPINOLA TB TENTOU OBTER APOIOS MILITARES E FINANCEIROS DOS ALEMAES, CONFORME SE TORNOU CLARO NA ENTREVISTA QUE DEU A GUNTHER WALRAFF.
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